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Honduras

Repressão e violência no campo

Exército e Polícia expulsam centenas de camponeses
que reclamavam as terras usurpadas pelos golpistas

 

Mais de 600 pessoas pertencentes ao Movimento Unificado de Camponeses do Aguán (MUCA), uma organização filiada à Central Nacional de Trabalhadores do Campo (CNTC), foram brutalmente desalojadas por um forte contingente de militares, policiais e pelos seguranças dos fazendeiros Miguel Facussé Barjum, René Morales e Reinaldo Canales, nos municípios de Tocoa e Trujillo, departamento de Colón, na zona leste do país, violando assim os acordos feitos com a Presidência da República e com o Instituto Nacional Agrário (INA) poucos dias antes do golpe. O Sindicato dos Trabalhadores do Instituto Nacional Agrário (SITRAINA), filiado à UITA, e as organizações internacionais denunciam esse escândalo e pedem que seja resolvido o conflito agrário e detida a violência

Luis Santos


Sob o mesmo padrão de violência implementado desde o golpe de Estado de 28 de junho de 2009, efetivos militares, policiais e seguranças privados atacaram com balas vivas e de borracha, e também com gás lacrimogêneo, as famílias de camponeses que, desde dezembro passado, tinham ocupado terras que reivindicavam como suas na região do Valle del Aguán.

 
A história do conflito

 
 
Segundo os membros do MUCA, no início dos anos 60 foi promulgada a Lei de Reforma Agrária, através da qual foram concedidos direitos de posse de terras públicas e de particulares para centenas de famílias de camponeses pobres.

 
Durante a década de 70, o Estado deu às organizações camponesas direitos sobre milhares de hectares para a cultura do dendezeiro, na região conhecida como o Bajo Aguán, no departamento nortista da Costa Atlântica de Honduras. No entanto, no início dos anos 90, foi aprovada a Lei para a Modernização e Desenvolvimento do Setor Agrícola, com o objetivo de retirar dessas empresas os seus direitos sobre aproximadamente 20 mil hectares das melhores terras do país.

 
Ainda segundo o MUCA, começou um processo que foi concluído com a venda dos ativos de 40 organizações camponesas, concentradas nas mãos dos latifundiários Miguel Facussé, René Morales e Reinaldo Canales. Um processo de aquisição de terras caracterizado por várias irregularidades, que foram investigadas por membros das cooperativas, que descobriram que o contrato de compra e venda estabelecia que os compradores utilizariam a terra para o seu próprio cultivo e produção, mas que a terra continuaria pertencendo ao Estado e seria de uso exclusivo da reforma agrária.

 

Em 2001, começou a reivindicação das terras adquiridas de forma fraudulenta por empresários em conluio com os poderes políticos no país, bem como de outras terras que nunca foram tituladas, em nome dos empresários compradores, mas que o Estado lhes reconhecia os direitos para usá-las sob a forma de concessão até fevereiro de 2005.

 
Depois de um longo processo de reivindicação, ocupações de terras e de estradas como forma de protesto, em 2009 começou um processo de negociação no qual o MUCA propôs uma solução para resolver o conflito e, duas semanas antes do golpe de Estado, foi assinado um convênio entre o INA, os camponeses e os fazendeiros, avalizado pelo presidente Manuel Zelaya Rosales, pelo prefeito de Tocoa e pelo governador de Colón, concordando em criar uma comissão tripartite para revisar o procedimento legal que tinha sido utilizado para a aquisição das terras pelos latifundiários.

 
No entanto, o golpe de 28 de junho de 2009 paralisou o processo de negociação e o MUCA iniciou uma luta nas ruas para exigir o retorno da ordem constitucional, unindo-se à ocupação do INA.

 
Antes da intransigência das novas autoridades de fato, em 9 de dezembro passado começou a recuperação definitiva das terras, o que provocou a reação violenta das forças repressivas sob uma ordem judicial de desocupação.

 
A luta vai continuar

 
"Essas terras foram adquiridas ilegalmente por três proprietários de terras e ainda pertencem ao Estado. No entanto, preferiram agir com violência em vez de continuar com o processo de negociação iniciado antes do golpe de Estado para resolver o conflito" -disse ao Sirel o secretário-geral do SITRAINA, Luis Santos Madrid-.

 
Foi uma desocupação muito violenta e houve gente detida. O SITRAINA está se movimentando para que o atual Diretor de fato do INA proceda a legalização das terras em favor dos camponeses do MUCA. É evidente –concluiu Madrid- que o que aconteceu é produto da situação surgida após o golpe, e estamos em uma situação onde a justiça só se aplica em favor dos poderosos e contra os camponeses”.

 
Enquanto redijo esta matéria, os últimos camponeses detidos já tinham sido liberados pela Polícia, entretanto três deles serão processados, sendo-lhes concedidas medidas cautelares.

 
Atualmente, ainda existem 300 pessoas, pertencentes ao MUCA, que continuam com o processo de recuperação das terras e há temores de que nos próximos dias possa haver outra desocupação violenta.


 "As pessoas mantêm a decisão de recuperar as suas terras para produzir, porque é a única maneira de sobreviver, embora ainda haja um temor de que esteja sendo preparado um massacre para que desistamos de nossa luta pacífica” -disse ao Sirel o secretário-geral regional do Atlântico
da CNTC, Lorenzo Cruz.

 
As comunidades vizinhas estão se concentrando para preparar um plano de recuperação e queremos que seja uma proposta do país, com a participação da Frente de Resistência Popular. Não é possível que alguns poucos poderosos continuem controlando a maior parte das terras enquanto que milhares de camponeses pobres não tenham nada.

 
Queremos uma Honduras diferente e apoiamos um verdadeiro processo de mudança para tirar o país da pobreza", concluiu Cruz.

 
Diante destes fatos, a Comissão de Familiares de Detidos e Desaparecidos em Honduras (COFADEH) apelou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para que emita medidas cautelares em favor das camponesas e dos camponeses do MUCA, e condenou "estes atos que atentam contra a liberdade, a vida e o desenvolvimento integral do povo hondurenho”.

  

Em Manágua, Giorgio Trucchi

Rel-UITA

14 de janeiro de 2010

 

 

 

Fotos: voselsoberano.com

 

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