Brasil
Conseqüências
do ritmo intenso de trabalho
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Segundo o
Ministério da Indústria e Comércio, as exportações de
carne e miudezas de aves vêm aumentando sem parar nos
últimos anos, saltando de US$ 879 milhões em 2000 para
US$ 2 bilhões e 862 milhões até outubro de 2005.
SAÚDE PÚBLICA -“As
exportações, ampliadas ainda mais com a gripe aviária,
aumentaram enormemente sem que as fábricas ampliassem o seu
espaço físico ou contratassem proporcionalmente. É preciso
que os parlamentares e o executivo se posicionem rapidamente,
pois a intensidade do ritmo de trabalho está provocando
graves enfermidades, e isso é uma questão de saúde pública”,
defende o presidente da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Alimentação (Contac).
Um dos problemas detectados é que os trabalhadores vem
adoecendo cada vez mais precocemente. No caso das mulheres,
há o registro de um número infindável de manifestações de
depressão, comumente relacionada às Lesões por Esforço
Repetitivo (LER), conforme esclarece o doutor Roberto Mauro
Arroque, médico perito do INSS numa região do Rio Grande do
Sul onde estão sediados vários frigoríficos de frango.
INFLAMAÇÃO - De forma didática, o médico explica que
é como se o túnel fosse um vale do antebraço, do punho, por
onde passa o nervo mediano, os tendões, que acabam
seriamente comprometidos pelo movimento contínuo das mãos.
“Essa inflamação nos tendões acaba depois incluindo
estruturas próximas, músculos e nervos... O trabalhador
começa então a ter dificuldades, dor, e se esse quadro
perdurar, ele acabará ficando permanentemente incapacitado,
inclusive para atividades banais do seu cotidiano”, conta.
Inconformado com o grau de exploração a que os trabalhadores
das indústrias avícolas vêm sendo expostos, o perito
desabafa: “Nós estamos entendendo que ocorre às vezes um
fenômeno de despejo de funcionários da empresa, aqueles que
não estão rendendo o máximo, para cima do INSS, para cima da
Previdência Social. Uma vez que é aproveitado o máximo de
sua capacidade, e às vezes o máximo é o esgotamento e depois
ainda é exigido um suquinho final. Então ele é mandado para
nós no bagaço. E isso é muito freqüente. Eu não diria que
esta é a regra, mas está muito longe de ser a exceção”.
Diante da extensão e gravidade do problema, Contac e CUT vêm
ampliando a pressão para que o governo interfira na questão,
que envolve grandes exportadores. “Exigimos o
estabelecimento de normas que disciplinem a velocidade das
máquinas no setor agrícola, principalmente das nórias, as
engrenagens que carregam os frangos nos frigoríficos e que
ditam o ritmo de trabalho. É fundamental reduzir a jornada
de trabalho no setor para seis horas diárias.
Além dessas medidas, sublinha o presidente da Contac, os
Sindicatos têm defendido o rodízio nas funções de duas em
duas horas, com vistas a reduzir os movimentos repetitivos;
estrutura para fisioterapia; e o reconhecimento pelo INSS de
que as lesões causadas por eles são uma doença profissional
do setor.
Todas as reivindicações integram a Agenda do Trabalhador, já
entregue pela CUT ao ministro do Trabalho, Luiz Marinho; ao
ministro da Previdência, Nelson Machado; e aos presidentes
da Câmara, Aldo Rebelo, e do Senado, Renan Calheiros.
Portal Mundo do Trabalho-CUT
06 de janeiro de 2005
FOTO: http://www.aviculturaindustrial.com.br/site/dinamica.asp?
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