Brasil

Redução da jornada é, no mínimo,

questão de justiça!

 

 

Na década de 80 era comum ouvirmos que os avanços tecnológicos garantiriam mais tempo livre às pessoas e todos teriam direito e, consequentemente, acesso à tão sonhada qualidade de vida.  Entretanto, algo saiu errado: a tecnologia está cada vez mais presente em nossas vidas, mas a qualidade de vida não veio.

 

Pelo contrário, por diversos motivos, o ritmo de vida e de trabalho aumentaram muito e se medirmos, mesmo que de forma caseira, sem preocupação científica, veremos que o volume de trabalho é inacreditavelmente maior hoje.

 

Pesquisa realizada em 2006 pelo economista do Dieese Cássio Calvete, para sua tese de doutorado na Unicamp, revelou que nos últimos 15 anos a produtividade da economia brasileira cresceu 150%.

A redução da jornada de trabalho sem redução de salários é viável e principalmente necessária para fazer justiça aos milhões de trabalhadores brasileiros. Além, é claro, de gerar empregos.

 

Recentemente uma pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados demonstrou sensível melhora na eficiência produtiva do setor supermercadista, o que significa no ramo de comércio e serviços, e possivelmente em todos os outros ramos, maior exploração da classe trabalhadora. Em média, as 300 empresas supermercadistas que se submeteram à pesquisa da associação faturaram R$ 223,5 mil por funcionário/ano, o que significa um crescimento de quase 9% de eficiência das empresas. Os supermercadistas tiveram em 2007 o melhor desempenho de vendas dos últimos dez anos.

 

O crescimento da eficiência produtiva que para o empresário é motivo de comemoração, para o trabalhador é sinônimo de mais exploração, porque na mentalidade do empresariado brasileiro crescimento só existe às custas do esforço sobrehumano do trabalhador, sem a geração de novos postos de trabalho.

 

A extensa jornada é um dos principais calvários do trabalhador do ramo de comércio e serviços e acabou se transformando em modo de vida ou melhor de gestão para alguns empresários, ou seja, eles contam assumidamente com a exploração, como o não pagamento de horas-extras, funcionários que atuam em múltiplas funções e etc.

 

Do outro lado desse processo vicioso está o trabalhador esgotado, doente, mal remunerado e estressado.

 

A redução da jornada de trabalho sem redução de salários é viável e principalmente necessária para fazer justiça aos milhões de trabalhadores brasileiros. Além, é claro, de gerar empregos. Só no ramo de comércio e serviços a subseção do Dieese - CONTRACS calculou que a redução da jornada vai gerar 1.367.622 novas vagas.

 

A redução da jornada será um salto de qualidade na vida do trabalhador/a já empregado e que não suporta mais ser sugado pela máquina neoliberal de moer gente a que se dá o nome de empresa e ao mesmo tempo trará vida nova a quem está em busca de trabalho.

Lutar pela redução da jornada sem redução de salários é uma questão de justiça social, por isso a CUT e as demais centrais sindicais foram às ruas buscando o apoio da sociedade em forma de assinaturas.

 

Nossa luta também inclui a ratificação da Convenção 151 (negociação coletiva no setor público) e convenção 158 (coíbe a dispensa sem justa causa) da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

 

Os trabalhadores do nosso ramo -comércio e serviços- também sofrem com a irresponsabilidade de empresários que contratam trabalhadores para três meses depois dispensá-los e contratar outros sem compromisso com os direitos trabalhistas.

 

Multinacionais têm demonstrado que também são muito boas nessa tarefa: reduzem drasticamente o quadro de funcionários, sobrecarregando aqueles que ficam ou contratando trabalhadores com salários bem menores.

 

A ratificação da Convenção 158 vai coibir a irresponsabilidade empresarial que contrata e demite a seu bel prazer, sem a mínima responsabilidade social, que a maioria das empresas dizem ter, mas de verdade pouco colocam em prática. Com a ratificação da convenção 158, ao demitir um funcionário, a empresa deverá justificar o porquê da dispensa, o que vai dar oportunidade de defesa ao trabalhador e aos sindicatos.

 

A redução da jornada de trabalho sem redução de salários e a ratificação da convenção 158 vão sem dúvida melhorar o nível de responsabilidade das empresas.

 

Na terça-feira, 03 de junho, a CUT e demais centrais sindicais foram ao Congresso Nacional para entrega do abaixo-assinado que reuniu 1,5 milhão de assinaturas pela redução da jornada sem redução de salários e pela ratificação das convenções 151 e 158.

 

Agora, precisamos pressionar deputados e senadores para garantir que o assunto tramite e seja aprovada a jornada de 40 horas semanais e ratificadas as convenções 151 e 158.

 

Nossa luta nunca cessa, vamos continuar lutando para garantir trabalho decente e vida digna para a classe trabalhadora

Recuadro

 

Lucilene Binsfeld*

CONTRACS/CUT

20 de junho de 2008

 

 

* Presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores

    no Comércio e Serviços (CONTRACS)

 

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