Reunidas na Cidade do México, representantes de diferentes
organizações de trabalhadoras domésticas da América Latina exigiram
que os governos da região aprovem convênios internacionais e locais
onde os seus direitos trabalhistas sejam reconhecidos. Elas
denunciam que, em muitos países, são forçadas a trabalhar mais de
oito horas e que, em alguns países, nem sequer recebem salário
mínimo.
A
Confederação Latino-Americana e do Caribe das Trabalhadoras
Domésticas (CONLACTRAHO) concluiu, em 25 de setembro passado,
o Seminário Internacional sobre os Processos Institucionais e o
Trabalho Decente para Trabalhadoras Domésticas, uma iniciativa da
Organização Internacional do Trabalho (OIT). Nesta atividade,
14 representantes do Brasil, México, Paraguai,
Colômbia, Equador, Costa Rica, Chile,
Argentina, Guatemala, Peru e Bolívia
compartilharam suas experiências de organização.
Os
objetivos da capacitação foram: desenvolver capacidades
organizacionais e operacionais para melhorar o cumprimento das
funções da Confederação; assessorar processos institucionais para
melhorar os resultados e impactos de suas ações, apoiar o
fortalecimento institucional e iniciar um processo de ação para a
Conferência Internacional do Trabalho OIT, em 2010.
Numa conferência de imprensa, as representantes das diversas
organizações latino-americanas apresentaram a situação que vivem em
seus países, bem como suas reivindicações trabalhistas mais
urgentes.
O
diagnóstico
Alcira Burgos,
encarregada da área de Direitos Humanos da Confederação, informou
que na Argentina há cerca de 1,2 milhão de trabalhadoras
domésticas. "Com todos os remendos que o governo tem feito, porque
são remendos e não convênios que considerem os direitos humanos que
decidimos conquistar, só 20 por cento estão trabalhando com carteira
assinada”.
Burgos
também disse que "Não temos direito à maternidade, a cobertura
médica em caso de um acidente de trabalho ou de doença. Além disso,
os direitos humanos estarão sempre sendo violados a cada vez em que
sofrermos essas violências.
A
representante da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas
Assalariadas da Bolívia (FENATRAHOB, na sigla em espanhol),
Marina Salgado, disse que em seu país há pelo menos 150 mil
trabalhadoras domésticas. "Infelizmente eu tenho que dizer que
muitas continuamos desprotegidas com relação aos nossos direitos. O
trabalho que fazemos é digno e decente, mas em muitos países não
consideram o quanto somos importantes para essas casas, porque, se a
empregadora não tivesse uma empregada doméstica em casa, ela não
poderia realizar seu trabalho nem prestar seus serviços
profissionais”, afirmou.
As trabalhadoras
domésticas apelaram para a consciência da sociedade civil para que reconheçam a
importância deste trabalho, e as pessoas reflitam sobre o fato de que, se um dia
fizessem greve, poderiam paralisar um país inteiro.
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Salgado
enfatizou a transcendência da função social dessas mulheres que
fazem o trabalho doméstico, muitas vezes considerado um trabalho
inferior pela sociedade: "Somos como uma segunda mãe para os filhos
das patroas, tanto acompanhando os estudos, quanto dando apoio
psicológico aos jovens que estão dentro de casa, porque os
adolescentes têm mais confiança em nós do que em seu pai ou sua mãe.
Como trabalhadoras domésticas somos um setor muito importante para a
sociedade e, portanto, devemos ser consideradas por todos os
governos de todos os países ", reafirmou.
Ruth Moreno,
do Sindicato das Trabalhadoras de Casas Particulares (SINTRACAP)
do Chile, reconheceu que "Temos bastantes leis no Chile,
algumas são cumpridas, outras não. Temos feriados livres e estamos
lutando por jornadas que não sejam tão intensas: 16 horas ou, às
vezes, até mais. Somos um setor tão importante em nossas casas e
naquelas onde trabalhamos, que se fizéssemos uma paralisação, um
país inteiro seria paralisado, logo todas nós somos importantes”,
frisou.
Marcelina Bautista,
do México, secretária-geral da CONLACTRAHO, resumiu a
situação dos direitos trabalhistas do setor em seu país: "A Lei
Federal do Trabalho inclui uma seção especial, o capítulo 13, para
as trabalhadoras domésticas, que é ambígua e não é bem conhecida
pelas trabalhadoras nem pelos(as) patrões(oas). Sua reforma é
necessária, mas por quatro legislaturas, nada foi feito".
Também deixou claro que, no México, ainda não é possível falar de
empregos decentes para as aproximadamente 2 milhões de trabalhadoras
domésticas. "Não estão regulamentadas as horas de trabalho, nem os
salários e nem a previdência social, entre outros benefícios, e
muitas vezes persistem a discriminação e a violência", destacou.
"Se
não fosse por nós, muitos profissionais não poderiam participar da
economia pública ou privada. Exigimos o fim da discriminação, do
abuso sexual e econômico"
"Se não fosse por
nós, muitos profissionais não poderiam participar da economia pública ou
privada. Exigimos o fim da discriminação, do abuso sexual e econômico" |
Também divulgou os progressos nos 14 países filiados à
Confederação: "Alguns dos países aprovaram algumas leis, como o
Peru e a Bolívia em 2003 e, recentemente, a Costa
Rica. Tivemos alguns progressos com alguns direitos, como a
previdência social e a jornada de trabalho”.
Como já se disse, um dos principais objetivos deste encontro foi
preparar-se para fazer uma declaração para a OIT. "O que nós
pedimos é a adesão de governos e das centrais sindicais para que nos
apoiem, porque através das centrais sindicais as trabalhadoras
domésticas vão participar em 2010”.
Paulina Luza,
do Peru, de Atas e Arquivo da Confederação, queixou-se de
que, "na história das trabalhadoras domésticas na América Latina,
tem sido pequeno o apoio das centrais sindicais às empregadas
domésticas”. Recomendou continuar lutando pela autonomia na tomada
de decisões, para não perder a identidade e denunciou que as
autoridades ministeriais dos países, muitas vezes, se recusaram a
registrar as organizações de trabalhadoras domésticas.
Lenny Quirós,
do Equador, da Associação das Trabalhadoras Domésticas Remuneradas
de Guayaquil (ATRH, na sigla em espanhol) informou que estão
há onze anos neste trabalho organizacional e destacou que com o
atual governo se conseguiu, em dois anos, o que não tinha sido
possível em nove. "Nosso presidente Rafael Correa deu a
oportunidade e, através dos Congressistas e da Assembléia, estamos
agora incluídas na Constituição.
Por
fazer o nosso trabalho em uma casa, não somos nem mais nem menos que
qualquer outro profissional. Nós podemos lutar e alcançar o que nos
propusemos. Hoje estamos aqui, e isso é um fortalecimento.”
Amalia Romero, do Sindicato de Trabalhadoras Domésticas do Paraguai
(SINTRADOP), denunciou que, em seu país, “somos discriminadas
por lei, o trabalho doméstico é discriminado social, cultural e
economicamente. No Paraguai se concede somente 40 por cento do
salário mínimo legal ao setor doméstico”.
Antonia López,
do Coletivo de Empregadas Domésticas dos Altos de Chiapas (CEDACH),
comentou que estão realizando jornadas de alfabetização, para que as
trabalhadoras domésticas dessa região do México aprendam a
ler e tomem consciência de seus direitos trabalhistas.
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