Siderlei de Oliveira, presidente da Contac/CUT, no seminário em Serafina
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O seminário nacional "Novas Tecnologias e a Globalização", realizado nos dias 18 e 19 em Serafina Corrêa-RS, reuniu dezenas de sindicatos e Federações dos Trabalhadores da Alimentação para debater a nanotecnologia, o fortalecimento da organização nos locais de trabalho e a articulação internacional para potencializar as negociações num período onde o capital transnacional abocanha parcelas cada vez maiores do setor. A luta contra a agressão à soberania alimentar dos nossos países e povos, representada pelo avanço das áreas destinadas ao agrocombustível e aos desertos verdes (plantações de eucaliptos), foram temas que também ganharam destaque, em virtude da recente visita de Bush à América Latina.
Entre outros, estiveram presentes ao evento convocado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (CONTAC/CUT), pela União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação (UITA) e pelo Instituto Nacional de Saúde no Trabalho, delegações da Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Gerardo Iglesias, dirigente da UITA
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O dirigente uruguaio Gerardo Iglesias, secretário da UITA para a América Latina, lembrou dos perigos e desafios da nanotecnologia, "palavra de alcance desconhecido para a maioria das pessoas, que trata da nova revolução tecnológica que já decolou". Na verdade, ressaltou, está se falando é da tecnologia atômica, dado que as empresas transnacionais pretendem manipular os átomos, moléculas e partículas subatômicas para criar novos produtos e monopolizar cada vez mais a economia. Diante disso, estas empresas, "preferem o termo nanotecnologia, pois é menos alarmante". "A nanotecnologia é o estudo, desenho, criação, síntese, manipulação, aplicação e exploração de materiais, aparelhos e sistemas funcionais através do controle da matéria na nano escala. Ocupa-se da manipulação, 'controlada' e produção de materiais, instrumentos e estruturas em escala nanométrica", declarou Iglesias, lembrando que nanotecnologia "revela unicamente o tamanho do material que se manipula". Em um nanômetro cabem entre três e cinco átomos, sendo dez mil vezes mais fino que um cabelo humano.
CONVERGÊNCIA
Uma das principais preocupações, lembrou o dirigente da UITA, é que a nanotecnologia representa a convergência da biotecnologia, informática, robótica e ciência cognitiva, manipuladas em função dos interesses das transnacionais, cujo único objetivo é o superlucro, "Isso terá conseqüências desconhecidas para a saúde, a biodiversidade e o ambiente. As nanopartículas podem ter diversos efeitos negativos sobre o ambiente, podem entrar na cadeia alimentícia, influenciar a biosfera, alterar os ecossistemas e criar novos tipos de lixo". Gerardo lembrou dos argumentos utilizados pela mídia em favor da liberação dos transgênicos e as suas graves conseqüências para a soberania alimentar, a saúde e o meio ambiente, citando como exemplo a soja roundup, da Monsanto, que ampliou a concentração de renda e o controle da empresa, encarecendo os produtos, contaminando o solo com agrotóxicos e tornando os produtores dependentes de sementes híbridas (que não nascem de novo).
Vários estados compareceram ao evento |
Entre as 37 empresas que sabidamente já investem ou utilizam nanotecnologia, advertiu Gerardo, "é chamativo que 18 estejam ligadas à alimentação ou à agricultura", entre as quais encontram-se Cargill, Bayer, Monsanto e Syngenta. Diante dos riscos iminentes, a UITA sublinha a necessidade de sensibilização dos governos, "por consciência ou por vergonha, uma vez que não existe legislação alguma em nenhum país do mundo para regular a nanotecnologia". "Mais de 200 produtos que incorporam nanotecnologia encontram-se à venda sem nenhuma regulamentação e sem que em suas embalagens apareça nenhuma advertência. Nos Estados Unidos, as vendas de produtos que incorporam nanotecnologia alcançaram US$ 32 bilhões em 2005, sendo que um terço desses produtos ingere-se ou aplica-se sobre a pele, sem que tenham sido feitos estudos sobre tumores e outros impactos", acrescentou.
INSEGURANÇA
Para o presidente da CONTAC e do INST, Siderlei de Oliveira, o que preocupa é a falta de pesquisas na segurança dos novos produtos: "De US$ 1 bilhão que o governo dedicou no ano passado para financiar a pesquisa em nanotecnologia, só 11 milhões foram parar em estudos sobre a segurança". "Com a marcha ditada pelo lucro empresarial, estão sendo lançados ao mercado produtos sem que a sociedade tenha possibilidade de analisar seus efeitos sociais, econômicos, ambientais ou na saúde", condenou.
Na avaliação de Siderlei, "o estudo e o debate sobre as novas tecnologias são fundamentais, pois graças a elas é possível fabricar produtos que antes pareciam impossíveis de serem viabilizados. Mas o nosso objetivo tem de ser a população, o combate à fome, a melhoria da qualidade de vida das pessoas e não o enriquecimento de uns poucos". "A principal conclusão do nosso seminário é que os avanços proporcionados pela ciência e pela tecnologia devem beneficiar à humanidade e não serem manipuladas pelos cartéis internacionais contra o homem, especialmente contra o trabalhador, e que venham a trazer risco para os consumidores", asseverou.
Geni Dalla Rosa, liderança da Contac e UITA |
"Não podemos ser contra a tecnologia que busca substituir o homem em um trabalho penoso ou em um trabalho altamente periculoso, mas o que está acontecendo é a utilização de novas tecnologias para fechar postos de trabalho", acrescentou Siderlei, frisando a necessidade dos trabalhadores ampliarem e fortalecerem a sua organização sindical. Ao mesmo tempo, defendeu, "é fundamental a articulação com as entidades de trabalhadores e de consumidores da Europa e dos EUA, para que sejam informados sobre os problemas enfrentados em nosso país pelo intenso ritmo de trabalho, por exemplo, onde multinacionais como a Cargill espalham lesões e mutilações". "Com o apoio daquelas sociedades, podemos ampliar a pressão contra os desmandos ainda existentes, mostrando como o frango barato deles sai caro para o trabalhador brasileiro, que paga com sua saúde", frisou.
Gerardo Iglesias acredita que "o Seminário valeu para conferir o crescimento da CONTAC, o seu amplo relacionamento com organizações que não são filiadas à CUT, mas que são da indústria da alimentação". O dirigente da UITA expressou sua "alegria de ver novamente que o setor sai na frente com o debate sobre o tema da nanotecnologia". "A exemplo do que ocorreu com os transgênicos, estamos fazendo um trabalho de denúncia e sensibilização política, colocadas na pauta sindical pela UITA e pela CONTAC", concluiu.
O seminário foi encerrado com um grande baile em comemoração aos 32 anos do Sindicato de Serafina Correa, homenageado por Iglesias como "uma referência nacional e internacional pela sua luta incansável em defesa de melhores condições de vida e trabalho". A ex-presidente e atual diretora do Sindicato e da CONTAC, Geni Dalla Rosa, foi eleita recentemente no 25 Congresso da UITA em Genebra, na Suíça, para compor a executiva da entidade internacional.
Leonardo Severo
CUT
22 de maio de 2007