AGRICULTURA:

POR UM NOVO PAPEL GOVERNAMENTAL

 

A agricultura é uma das atividades humanas de maior interferência na natureza. Atividade fundamental ao desenvolvimento humano, nos últimos 60 anos, a agricultura marcou avassaladora transformação no ambiente e na organização social dos seres humanos.

A implantação do pacote tecnológico em vigência predominante na agricultura, a chamada "Revolução Verde", trouxe sérias conseqüências: devastação ambiental pela expansão de fronteiras agrícolas sem a devida preocupação com os seus impactos; transformações genéticas nas sementes valorizando produtividade e dependência de insumos em prejuízo da adaptabilidade natural, diversidade e variabilidade genética; incorporação maciça de agrotóxicos, de fertilizantes industriais solúveis e de pesadas máquinas ao modo de produção agropecuário, trazendo erosões, contaminações ao ambiente e riscos à saúde humana, sobretudo ao trabalhador rural.

Atualmente, os evidentes perigos impostos pelo desvirtuoso desenvolvimento humano, que trazem riscos à sustentabilidade futura do planeta, permitem questionar o modelo de produção agropecuária calcado neste pacote tecnológico.

O modo de produção agropecuária fundamentado neste pacote tecnológico predominante empobreceu o agricultor, criou amplo fluxo de renda do campo para a geração de capital ao setor industrial, com conseqüências econômicas e sociais profundas: queda na qualidade de vida do camponês; precário assalariamento do homem do campo; êxodo rural, e concentração de renda na indústria e nos setores financeiro e comercial.

No Brasil, a implantação deste modelo de produção contou com beneplácito do poder público. Crédito rural, obrigatória e indiscriminadamente vinculado ao custeio de agrotóxicos e adubos solúveis, financiamentos facilitados à compra de máquinas pesadas, etc.

Mas, sobretudo, o estado foi decisivo na implantação das técnicas calcadas na "Revolução Verde" através do ensino e pesquisa agropecuária e, extensão rural, públicas e de forte presença no campo, baseada em projetos e assistência técnica formada e alicerçada para a tecnologia subjugada ao interesse econômico concentrador.

Os anos 60, 70 e até o início dos anos 80 foram períodos de certa prosperidade das instituições públicas de extensão rural, com servidores relativamente valorizados, recursos para trabalho, bons orçamentos e treinamentos constantes. A tarefa do poder público estava bem definida: levar ao campo as técnicas que impulsionaram e fortaleceram a dependência da agricultura junto aos setores industrial, comercial e financeiro. Após consolidada tal situação de dependência, firma-se uma menor importância às estruturas públicas de agricultura, principalmente a extensão rural, a assistência técnica e a pesquisa agropecuária.

As gestões governamentais neoliberais da década de 90 impõem desorientação, indefinição de papel e conseqüente decadência dessas estruturas.

No Estado de São Paulo, é flagrante tal situação, evidenciada pelo sucateamento e queda na participação orçamentária da Secretaria de Agricultura e Abastecimento nos últimos 20 anos.

Neste momento em que se amplia o anseio pela sustentabilidade e em que o modelo de agricultura predominante está em xeque, é oportuno as organizações e movimentos sociais trazerem à luz debates e propostas por uma nova agricultura.

Neste enfoque, é clara a necessidade de pressão por uma intervenção governamental, que revigore e fortaleça as instituições públicas de extensão rural, assistência técnica, pesquisa e defesa agropecuária, visando um modelo de produção "limpo" econômica, social e ecologicamente. Um modelo que respeite o ambiente, estimule a agricultura familiar, traga viabilidade sócio-econômica e qualidade de vida ao modo de vida camponês. Que valorize o Homem.

Lutemos para que um novo papel governamental na agropecuária seja a antítese de sua antiga tarefa.

 

Autor:

Eng. Agr. Marco Antônio de Moraes

Membro da diretoria do Sindicato dos Servidores da Defesa

Agropecuária do Estado de São Paulo - SINDASP.

 

 


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