Chocolate em tempos de
globalização
Dejalma Cremonese *
Lembro-me nostálgico dos meus tempos de criança quando, toda vez que meu pai chegava da "venda" (casa comercial no interior), eu corria alegre em sua direção, mais precisamente para seus bolsos, a fim de encontrar alguma guloseima (balas ou chocolates). A minha preferência centrava-se no chocolate "Refeição" ou no bombom "Amor Carioca" da Neugebauer, ou Laka da Lacta, ou mesmo um "Batom" da Garoto... Aos sábados à tarde, quando íamos ao povoado, era indispensável saborear um bom sorvete, de preferência o "napolitano", da Kibon...
A razão central desse escrito não está nas minhas preferências de paladar, nem nas reminiscências do passado da minha vida no interior. O que me impele a escrever são as referidas marcas de chocolates e sorvetes que, assim como dezenas de outras marcas e razões sociais de produtos brasileiros, foram adquiridas por empresas multinacionais.
Para exemplificar, chega agora a notícia de que o grupo alimentício suíço Nestlé anunciou a aquisição da empresa Garoto, os valores da transação não foram revelados, mas fala-se em torno de R$ 1 bilhão. A Nestlé, que já detinha 31,4% do mercado de chocolates no Brasil, com a aquisição da Garoto, passa a abocanhar mais de 50% do mercado. A Garoto era uma fábrica familiar com mais de 70 anos de existência no ramo e exportava seus produtos para 40 países em todo o mundo, configurando-se na única grande fabricante de chocolates brasileira que ainda existia, pois a Kraft Foods, uma divisão da Philip Morris, já havia comprado a Lacta em 1996 e a americana Hershey adquirira a Visconti no ano passado. Da mesma forma, a Neugebauer foi comprada pela Parmalat e a Kibon pela Unilever.
As grandes fusões se deram não apenas no setor alimentício, mas, também, no setor de aviação, financeiro, automobilístico, telecomunicações, entre outros... Por exemplo, a Boeing, comprou a concorrente McDonnell Douglas, gigante mundial na fabricação de aviões, e já anuncia a demissão de 48 mil empregados. A Exxon, que em 1998 comprou a Mobil por US$ 61 bilhões, formando a maior petrolífera do mundo, pretende demitir 9 mil empregados (7% do total). O Deutsch Bank se tornou o maior banco do mundo em dezembro de 1998 ao comprar o Bankers Trust, norte-americano, por US$ 10 bilhões, e também já anunciou que vai iniciar a dispensa de 5.500 funcionários. O grupo francês PSA Peugeot Citroën, inaugurou a sua nova fábrica no Rio de Janeiro, anunciando um programa de aposentadoria antecipada para cortar cerca de 8.300 postos de trabalho nos próximos cinco anos. O grupo sueco de telecomunicações Ericsson, terceiro maior fabricante mundial de aparelhos de telefone, anunciou que pretende cortar 11 mil postos de trabalho em dois anos.
Tais aquisições e fusões de grandes empresas estão inseridas na lógica da política econômica neoliberal globalizante que prioriza, exclusivamente, a internacionalização da economia e circulação e expansão japonesas, trazendo demissões, desemprego e miséria para os trabalhadores.
... E por falar em chocolate, a gurizada que se cuide que este ano o coelhinho da Páscoa vem do estrangeiro com um sotaque um tanto estranho... E depois da comilança não adianta chorar com "dor de barriga...".
Dejalma Cremonese:
Professor Universitário da UNIJUÍ - RS (Brasil)
dcre@main.unijui.tche.br
http://www.unijui.tche.br/~dcre/
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