Internacional

 

 

A fronteira da morte

 

O caso da brasileira Prisciliana Pereira Acosta, 37 anos, que morreu congelada às margens do Rio Bravo, fronteira do México com os EUA, aumenta as estatísticas de mortes de imigrantes latinos que tentaram (e ainda tentam) entrar ilegalmente naquele país.

Os mexicanos têm o maior número de pessoas que tentam tal “empreendimento”, os brasileiros vem em segundo lugar, seguidos de outros povos latinos. O que se comprova nos últimos tempos, é que o número de mortes aumentou da mesma forma que houve o incremento das imigrações ilegais. No México, em torno de 400 pessoas perdem a vida a cada ano na tentativa de entrar clandestinamente nos Estados Unidos, segundo informações do INS (Serviço Nacional de Imigração). Em 2000, o número de mortos por causa do calor ultrapassou pela primeira vez os que morreram afogados. Funcionários do INS disseram que redobraram os esforços porque mais imigrantes tentaram entrar nos Estados Unidos pelo deserto de Sonora, devido ao aumento de patrulhamento em outras regiões: "Com o calor, o deserto tornou-se o Vale da Morte", afirmou o porta-voz do INS Dan Kane. Temperaturas nos desertos do Arizona e Califórnia podem atingir 49 graus Celsius.

O número de mortes entre os salvadorenhos também é elevado, pelo menos 10 mil pessoas desapareceram na tentativa de chegar até os EUA, informou Jesús Aguilar, Diretor Executivo do Centro de Recursos Centro-Americanos de El Salvador. Em Honduras, a cifra ascende a 8 mil migrantes que, segundo seus próprios familiares, saíram do país com a finalidade de chegar aos Estados Unidos, mas nunca conseguiram seu objetivo e tampouco retornaram para casa, explicou o diretor da Carecen Internacional. Aguilar precisou que, no norte do país, a cada ano se reportam 350 casos de pessoas que morrem sem identificação. Estes desconhecidos são enterrados em fossas comuns e dificilmente seus familiares conseguem conhecer seu paradeiro.

O perfil dos brasileiros que se lançam nessa “aventura” são, na maioria, jovens e desempregados. O “financiamento” dessa arriscada travessia custa entre US$ 6 mil a US$ 13 mil, que deverá ser pago aos chamados “coiotes” (máfia de traficantes de imigrantes de brasileiros), o que não garante o êxito da travessia correndo sério risco de morte e de serem presos na fronteira. Fontes indicam que as prisões de brasileiros têm aumentado significativamente. Só no sul do deserto do Arizona, 460 brasileiros foram presos tentando entrar no país nos sete primeiros meses do ano de 2002. O número é 25% superior ao total de brasileiros presos no ano de 2001, nesta região.

O número estimado de brasileiros que vivem nos EUA é de, aproximadamente, 800. 000 a 1 milhão de pessoas. A maioria vive de forma ilegal, ganha a vida nos trabalhos mais difíceis, como na construção civil e na faxina, disputando as vagas com milhares de imigrantes latinos que buscam uma melhor sorte nos EUA.

Que a morte de Prisciliana Pereira Acosta, uma brasileira, sensibilize as autoridades políticas dirigentes deste país, afim de que se empenhem um pouco mais na criação de políticas públicas, principalmente na criação de empregos, e se preocupem menos em fazer a vontade dos especuladores internacionais de plantão (adoradores do “deus” mercado), para que não aumente ainda mais o número de brasileiros que perdem a esperança de viver em sua pátria-mãe...

 

Dejalma Cremonese

Professor de Ciência Política da Unijuí, RS

dcre2@hotmail.com

18-03-2003

 

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