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RAZÕES PARA A GUERRA

 

O presidente Bush parece estar determinado a tomar a decisão de unilateralmente, atacar o Iraque – país que, juntamente com o Irã e Coréia do Norte, fazem parte do chamado “eixo do mal” e terminar o “serviço” que o Bush-pai começou no início dos anos 90.

Tudo indica que a razão principal do ataque de Bush ao Iraque estaria ligada às reservas de petróleo existente naquele país. O Iraque é hoje o segundo maior produtor de petróleo do mundo, perdendo apenas para a Arábia Saudita. Há 12 anos, Bush-pai não concluiu o trabalho e, embora derrotado, Saddam Hussein continuou dono do petróleo iraquiano, mediante a abertura de comércio com os russos e franceses. Segundo especialistas, o Iraque seria capaz de produzir, mediante a infra-estrutura necessária, 8 milhões de barris diários, frente aos 2,3 milhões de barris que produz atualmente e, assim, se converter, no segundo maior produtor da OPEP, ficando atrás apenas da Arábia Saudita, que produz 8,7 milhões de barris diários. Os EUA é, atualmente, o primeiro país comprador de petróleo do Iraque com 846 mil barris ao dia, seguido pela França (95.800), Oriente Médio (85.000), Itália (79.300) e Espanha (51.900). Os maiores interessados no petróleo iraquiano são as empresas americanas Exxon, Mobil, BP e Shell.

Bush dá continuidade à sua forma maniqueísta de governar, dividindo o mundo entre aqueles que fazem parte do “bem”, os EUA no caso, e aqueles que fazem parte do “mal”, por isso, devem ser destruídos, caso do Iraque.

Nos últimos anos, a economia norte-americana tem enfrentado um processo de estagnação, para não dizer recessão. Como sabemos, grande parte do PIB norte-americano vem do comércio de armas que são produzidas por empresas privadas (indústria armamentista); logo, está aí a grande chance para os EUA re-aquecerem sua economia.

Tão ou mais cruel que os chefes terroristas fundamentalistas são os gestores da economia de mercado global, pois o fundamentalismo da lógica instrumental da “mão invisível” do mercado mata silenciosamente milhões de pessoas pelo mundo. O Iraque, por exemplo, é um país que sofre as conseqüências da guerra, juntamente com o embargo econômico aplicado pela ONU. Dados do UNICEF de 1996 informam o aumento alarmante dos índices de mortalidade infantil: 4.500 crianças menores de cinco anos morriam a cada mês. Três anos depois, um estudo independente realizado por Richard Garfield, da Universidad de Columbia, falava de, ao menos, 100.000 mortes de crianças entre agosto de 1991 e março de 1998. Segundo o autor, ao menos dois terços das mortes estavam vinculadas às conseqüências das sanções econômicas. Um novo informe do UNICEF fazia um balaço de dez anos de sanções e concluía que a mortalidade de crianças menores de cinco anos havia duplicado, além de 800.000 crianças que sofriam subnutrição.

Nos EUA, há um empenho grandioso do governo e dos formadores de opinião (mídia em geral), para justificar e legitimar o ataque ao Iraque. Grandes empresas da comunicação como, a ABC, CBS, CNN, Fox e NBC, entre outras, já montaram suas “equipes de especialistas” para dar cobertura total, em tempo real, das imagens da guerra. Bush, respaldado pela mídia, trabalha incessantemente na tentativa de convencer que o Iraque é uma ameaça para o mundo, mesmo não tendo provas concretas, nem razões para crer que o Iraque tenha armas nucleares.

A estratégia geopolítica dos EUA é manter-se na supremacia e no comando militar do mundo. Decorre daí a crescente escalada militar/belicista dos EUA na América Latina (mais de 20 bases militares) e no mundo (intervenções em mais de 140 países). Diante disso, justifica-se o aumento do orçamento militar para armar e “proteger” os EUA. Somente para este ano, a previsão de gastos com a defesa ficará em torno de US$ 380.000.000 de dólares e, nos próximos cinco anos, aumentará até chegar aos 500 milhões.

O mundo está num impasse: ou levantam-se as vozes dos opositores da guerra, que devem fazer imperar o consenso e a diplomacia ou os “xerifes do mundo”, com as armas em punho, se apressarão em destruí-lo...

 

Dejalma Cremonese

Professor do Departamento de Ciências Sociais da Unijuí, RS.

dcre@unijui.tche.br

14-02-2003

 

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