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BRASIL
Um
novo espaço de
discussão
e ação
A maioria dos sindicatos na atualidade está em crise de
identidade, e tem uma pergunta básica a responder: o que vamos fazer agora?
Em
tempos de globalização, além de verificarmos o aumento da miséria e exploração,
outros reflexos e ações se fazem sentir em nosso meio, como por exemplo, a
disseminação de um controle maior sobre os trabalhadores e desarticulação
das entidades sindicais. No Brasil e em alguns países que tenho conhecido, ano
após ano os sindicatos vem diminuindo pois, entre outros fatores, a massa de
trabalhadores sindicalizados decresce rapidamente. Poderíamos aqui escrever
muitas linhas sobre isto, mas nosso interesse não é este, e sim colaborar para
a resposta que foi feita no primeiro parágrafo:
o que vamos fazer agora? |
Na
realidade, se ousarmos deixar a criatividade da classe trabalhadora aflorar,
veremos que existem muitas possibilidades de lutas para consolidar novas
conquistas, entretanto, vou me deter em um aspecto apenas destas possibilidades,
ou seja, discutir sobre a questão da saúde dos trabalhadores.
A
saúde do ser humano, é referida pela maioria das pessoas como um dos maiores
bens que podemos ter na vida. Entretanto, como todos sabemos problemas graves e
crescentes vem prejudicando como nunca a saúde dos trabalhadores, como pode ser
exemplificado com a ocorrência das LER (Lesões por Esforços Repetitivos).
Para se ter a idéia da dimensão do problema, o comitê assessor do Ministério
da Saúde (Brasil) para a questão das LER/DORT, tem verificado que a realização
de ações e programas preventivos ainda é incipiente e tímida, segundo as
reuniões que tenho acompanhado. Entretanto, é fundamental deixar claro que
este é um problema que apesar de complexo pode ter solução. O serviço de saúde
ocupacional do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, apresentou ao comitê do
Ministério da Saúde suas experiências práticas, e pudemos constatar que
mesmo as situações de trabalho adversas podem ser melhoradas, desde que
enfrentadas da maneira correta.
Deixando
de lado as LER/DORT, podemos ver também que dada a evolução do mundo do
trabalho, e do modo como vem se organizando, outras doenças estão surgindo. E
elas estão mais relacionadas a alterações ligadas a saúde mental,
demonstrando assim que a exploração no trabalho vem se sofisticando.
Interessante ressaltar que este é um quadro que acomete não só trabalhadores
da produção, mas também profissionais de recursos humanos e inclusive
gerentes e diretores dos mais altos escalões das empresas. Sintomas
relacionados a quadros de neurose e depressão estão ficando mais comuns do que
podemos imaginar. Pesquisadores da FUNDACENTRO do Brasil, fizeram um estudo com
operadoras de teleatendimento e verificaram que o controle rigoroso dos tempos
de trabalho exerce uma forte pressão sobre os funcionários, podendo com isto
aumentar a chance deles virem a adoecer.
O
Instituo Nacional do Seguro Social (INSS) do Ministério da Previdência Social
brasileiro, utiliza o decreto no. 3.048 de 6 de maio 1.999, para avaliar as doenças
ocupacionais ou relacionadas ao trabalho. Ao lado de estados patológicos clássicos
como intoxicação por benzeno ou chumbo, enumera como problemas laborais os
transtornos neuróticos específicos (“Neurose
Profissional”), especificando que estes são problemas relacionados a
pressões no emprego e medo do desemprego, dentre outros fatores. Traz também
outra doença chamada “Sensação de
Estar Acabado“ (ou Síndrome de Burn
Out no original, também traduzido por Síndrome
do Esgotamento Nervoso), que está relacionado ao ritmo penoso e pressão no
trabalho.
Advogados,
Engenheiros, Médicos, Psicólogos, Dentistas e outros profissionais antes
considerados imunes a doenças ocupacionais, estão frequentando os serviços de
saúde ao lado de trabalhadores do setor da produção com problemas
relacionados ao trabalho.
Falando
especificamente do setor da Alimentação, vemos situações precárias de
trabalho que se mantém inalteradas há mais de 30 anos. Estamos falando com
isto, que certas empresas investem em modificações cosméticas e superficiais,
ou seja, apenas para melhorar a situação para os nossos olhos, sem que com
isso melhorem efetivamente os ambientes de trabalho. Um exemplo claro disto, é
a necessidade dos trabalhadores de determinados setores da alimentação serem
expostos a temperaturas frias seguidas de calor, expondo assim o corpo a uma
variação térmica que não é saudável. Com certeza, algumas empresas vão
dizer que trocaram os móveis, as esteiras e outros itens materiais do processo
de produção, mas a necessidade de se expor ao frio seguido de exposição ao
calor continua. Se formos analisar o setor do fumo e agricultura, vemos que os
trabalhadores estão se intoxicando com os agrotóxicos usados nas lavouras
dentre outros riscos a que estão expostos.
Desta
forma, fica claro que a área de segurança e saúde do trabalhador não se
esgota em rápidas e superficiais opiniões de profissionais especialistas mas
é fundamental que os sindicatos passem a questionar a forma como o trabalho é
organizado.
E
esta é a proposta deste artigo, convidar os sindicatos a refletirem sobre as
possibilidades de organização, solidariedade, sensibilização e denúncia pública
que estão dadas para suas entidades, se trabalharem com seriedade e
profissionalismo os temas ligados a saúde e segurança do trabalho.
Este
tema também abre a possibilidade de organizar e mobilizar os trabalhadores,
mostrando-se assim um fecundo campo de trabalho.
Encerrando então, lembramos que a UITA está desenvolvendo um trabalho na área de agrotóxicos, transgênicos e saúde do trabalhador (em especial as LER), e que muitas das nossas filiadas vem caminhado junto nesta luta.
Autor:
Dr. Roberto C. Ruiz
© Rel-UITA
23-11-00
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