Brasil

Trabalhadores da Seara Cargill querem
por fim à “fábrica de lesionados”

 

Com a aquisição do frigorífico Seara, a multinacional Cargill saltou da 14ª para a 11ª colocação no ranking das maiores empresas do Brasil, segundo o jornal Valor Econômico. Apesar dos altíssimos lucros obtidos com o aumento das exportações de carne de frango, a multinacional não tem se preocupado em aumentar o número de trabalhadores nas linhas e melhorar os seus salários. Ao contrário, optou pela aceleração das nóreas (correias que carregam os frangos para desossa), sobrecarregando os trabalhadores e causando uma verdadeira epidemia de Lesões por Esforços Repetitivos (LER).

 

 

“A Cargill se transformou numa fábrica de lesionados, com problemas gravíssimos em todas as unidades. Temos companheiras incapacitadas, que não podem segurar seus filhos ou varrer a casa. E o pior, depois de lesionar, a empresa simplesmente demite, como se não tivesse nenhuma responsabilidade pelo que vem ocorrendo... É hora de respondermos com unidade e organização em nível nacional, pois o problema chegou a um ponto insuportável”

 

A declaração acima, feita pela secretária geral do sindicato que representa os trabalhadores da Seara Cargill em Sidrolândia (MS), sintetiza o espírito da reunião realizada naquela cidade, dia 17 de fevereiro, com sindicalistas de Criciúma-SC, Cuiabá-MT, Dourados-MS, Jaraguá do Sul-SC e São Paulo-SP, que têm a frigoríficos da Seara Cargill na base. São incontáveis os casos de trabalhadores incapacitados, que retornam do auxílio doença do INSS devido a LER – já que a empresa encaminha todos os casos de afastamento como auxílio-doença comum, para se livrar das suas responsabilidades econômicas e sociais – e são demitidos sumariamente pela Seara Cargill, denunciam os sindicalistas.

 

Outro problema sério é a atuação anti-sindical da empresa. Em Jaraguá do Sul (SC), ela chegou ao cúmulo de contratar seguranças e bate-paus, cercar a empresa com lonas pretas e manter trabalhadores em cárcere privado, para tentar impedir a paralisação da unidade, fato este denunciado à Justiça e ao Ministério Público. Perseguição a sindicalistas e trabalhadores também tem sido denunciada em todas as fábricas da Seara Cargill.

 

Segundo o secretário geral da União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação (UITA) para a América Latina e Caribe, Gerardo Iglesias, o exemplo da Cargill é esclarecedor da forma como as empresas transnacionais agem. “Ela mira não somente a agroindústria, mira na verdade o poder político e, como toda transnacional, não gosta de sindicatos, vistos como obstáculos para que imponham um emprego precário em termos salariais e de condições de trabalho. Temos problemas com a Cargill da Argentina aos Estados Unidos”, esclareceu o dirigente da UITA.

 

Gerardo ressaltou, ainda, que ao diversificar a sua produção, atuando em diversos ramos, como no de suco de frutas e alimentos industrializados, a Cargill – maior produtora de grãos do mundo – acaba por estender seus tentáculos e cartelizar (“dominar”) setores inteiros da economia, ampliando ainda mais o seu poder de pressão.

 

Para a UITA, a luta contra os abusos das empresas transnacionais não pode ser travada isoladamente. Os sindicatos precisam se organizar – como a CONTAC (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação da CUT) está fazendo hoje com a Seara Cargill – e construir alianças estratégicas com outras organizações sociais (Igrejas, ONGs, etc.) para defenderem a soberania e a segurança alimentar dos nossos países, condição necessária para o desenvolvimento sustentado e o futuro das novas gerações.

 

O STIAU está solidário com os(as) companheiros(as) da Seara Cargill, assim como de outras indústrias avícolas e também está atento ao que acontece hoje na Sadia, principalmente com relação às LER/DORT.

 

 

STIAU *

27 de junho de 2006

 

 

* Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins de Uberlândia.

 

 

 

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