Brasil
Com Guilherme Pedro Neto
(diretor de assalariados de CONTAG)
Operários do café, os mais
desprotegidos |
Os trabalhadores do
setor do café, um dos que mais empregos gera no Brasil,
figuram entre os que menos convênios coletivos têm neste
país
-Quais são as características
que identificam os trabalhadores assalariados do café?
-Não são diferentes dos demais
assalariados. Só que estão concentrados em seis estados:
Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Bahia e
Rondônia. Há outros estados que produzem café, como Brasília,
mas o fazem em muito escassa quantidade. Há trabalhadores
que são contratados por tempo indeterminado e outros para
uma atividade específica, e também estão os que trabalham de
maneira informal, sem "carteira" e sem nada, principalmente
nas pequenas propriedades. Os trabalhadores sem contrato em
geral trabalham em muitos rubros (laranja, cana, café) e
soem migrar por 3 ou 4 estados.
-Esta condição de migrantes
faz que a ação sindical entre eles se torne muito mais
difícil, por exemplo, na hora de desenvolver atividades de
formação. Como faz CONTAG para superar esta dificuldade?
-É complicado capacitar a
pessoas que carecem de emprego permanente. Quando a pessoa
tem um trabalho por tempo indeterminado sua relação com o
sindicato se vê facilitada. Contudo, é de grande importância
capacitar os trabalhadores das safras, temporários.
-Quantos são os assalariados
do café vinculados a CONTAG?
-Não há ninguém que possa
manejar uma cifra exata. O que se sabe é que o café está
entre o quarto ou quinto produto que mais emprego gera no
Brasil, detrás dos grãos, da cana. Na safra chegam a
trabalhar 500.000 pessoas em todo o país.
-CONTAG desenvolve alguma
atividade específica para os assalariados do café, ou ainda
é uma nova área, que se está movendo mais a partir da
constituição da Aliança Nacional do Café?
- A partir da Aliança estão
surgindo mais atividades específicas para o café. A CONTAG
sempre se tinha relacionado com os assalariados em geral, e
recém com a experiência recente da cana se tem começado a
trabalhar por setor. E aqui volto ao que apresentei na
reunião da Aliança Nacional do Café: a CONTAG deve trabalhar
por setor, por ramo de produção. Há que atender as
especificidades de cada um.
A forma tradicional de trabalhar
tem sua origem em que os convênios coletivos são por Estado,
quando deveriam ser por produto, por município e se fosse
possível por região (dentro dos municípios). Já se
conseguiram acordos coletivos diferenciados para cana e para
fruticultura, e se está começando a trabalhar em laranja, em
banana e em café.
-Mas os trabalhadores do café
trabalham em três ou quatro produtos e em três ou quatro
Estados num mesmo ano. Que propostas CONTAG tem para superar
estes dois grandes desafios?
-Devemos aproveitar a reforma da
legislação trabalhista. Por quê? Porque temos diferentes
modalidades de trabalho: tempo determinado, tempo
indeterminado e também a contratação informal. No tomate,
por exemplo, trabalham 200.000 pessoas numa colheita que
consome 20 dias: nenhum patrão nem nenhum trabalhador querem
tirar carteira, sendo o trabalhador o grande prejudicado.
Para enfrentar esta problemática
a CONTAG tem proposto uma modificação na lei trabalhista
para "formalizar" e brindar garantias legais a este tipo de
contratação por curtos períodos. O assunto se apresentou
durante o governo anterior que quis aproveitar a situação
para introduzir outras modificações com as quais CONTAG não
estava de acordo, e então não se continuou avançando. Agora
se tem retomado o tema, para "branquear" as pessoas que
trabalham em três ou quatro Estados durante o ano e que têm
problemas com a geração de direitos previdenciários.
-Quais são os principais
temas que a CONTAG lhe interessa tratar na Aliança Nacional
do Café?
-O primeiro que há que destacar
é que sendo o café o quarto, quinto produto em geração de
emprego, é o que menos convênios coletivos têm. Então há que
pressionar os empregadores para que se sentem à mesa de
negociações com os sindicatos. Nestas condições os
sindicatos não têm como chegar aos trabalhadores
assalariados porque os proprietários dos imóveis não os
deixam entrar no local de trabalho. Na agricultura familiar
é fácil, porque aí sim permitem entrar os sindicatos. Nossa
principal reivindicação é contar com uma norma legal que
habilite os sindicatos a ingressar nos locais de trabalho
para poder negociar. A segunda é que o governo melhore a
fiscalização trabalhista no meio rural, que seja mais
eficaz. Muitas vezes ao empregador lhe convêm mais pagar
multas que cumprir as leis. Teria qu! e revisar o valor das
multas e efetivar sua cobrança, já que amiúde o patrão
encontra padrinhos e finalmente sequer paga. A terceira
coisa é criar uma forma de contratação que legalize e ampare
as contratações por curtos períodos. No projeto de reforma
trabalhista que CONTAG apresentou ao Congresso há uma
cláusula ao respeito, que também estabelece a possibilidade
de acesso do sindicato ao local de trabalho.
Patricia
Acosta
© Rel-UITA
6 de setiembre de 2004
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