Carballo tem uma
longa relação com a Rel-UITA, desde a época em que fazia a colheita de laranjas
no departamento de Salto, onde foi fundador de sindicatos e denunciou a
exploração selvagem e a contaminação maciça dos trabalhadores. Hoje é deputado
da base governista e dialogou com Sirel para explicar a sua iniciativa de
realizar o "Fórum do Setor das Carnes Uruguaio”, que terá lugar na quinta-feira
2, em Montevidéu.
-Como surgiu a ideia de
organizar este Fórum?
-Desde o início de 2010, tínhamos
proposto, na Comissão de Indústria do Parlamento que integramos, percorrer todo
o país para conhecer em primeira mão a situação da indústria uruguaia. Neste
contexto, visitamos vários frigoríficos em diversos pontos do país.
Naqueles meses, além disso, este
setor atravessava uma conjuntura muito difícil em que praticamente, a cada
semana, surgiam notícias de que mais e mais trabalhadores e trabalhadoras eram
encaminhados ao seguro desemprego, quando já se tinha como certa uma operação de
exportação de grandes quantidades de gado em pé para a Turquia, além de
outros problemas que fizeram disparar todos os alarmes.
Ali foram gerados níveis de
negociação entre trabalhadores, empresários e governo em que nós participamos
como representantes da Comissão de Legislação e Trabalho.
Temos de discutir a melhor forma de distribuir a riqueza que tem se
multiplicado muito. Há alguns anos, uma tonelada de carne custava
1.500 dólares e agora custa 4.000 |
Desta forma, foi sendo
amadurecida a ideia de abrir um espaço de intercâmbio entre todos os
interessados pela atividade, que agora adquiriu esta forma de Fórum do Setor
das Carnes do Uruguai do Fórum, previsto funcionar com o apoio do Instituto
Nacional de Carnes (INAC), do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca
(MGAP), e dos trabalhadores organizados, especialmente o Sindicato
Frigorífico La Caballada.
-Quem participará?
-Temos confirmada
a presença do Presidente da República, José Mujica,
a participação de sete Ministérios e de representantes dos produtores, da
indústria frigorífica, e dos trabalhadores.
-Qual é o objetivo deste
fórum?
-Gerar os insumos necessários
para um debate político que permita avançar em soluções para o setor e,
fundamentalmente, colocar o Parlamento à frente de um tema extremamente
importante para o Uruguai, com o objetivo de aprofundar as políticas
públicas que a atividade requer.
-A conjuntura crítica do ano
passado já não existe, a tal ponto que este é um dos setores de maior renda no
país ...
-E este é outro aspecto que
devemos abordar, a distribuição da riqueza que tem se multiplicado muito,
comparada aos anos anteriores.
Anos atrás, uma tonelada de carne
custava 1.500 dólares e agora custa 4.000. Já há algum tempo surgiram grandes
investimentos, em que pese serem todos estrangeiros, mas dinamizaram a
atividade. Obviamente, durante o Fórum vamos ouvir opiniões diferentes e talvez
mesmo discordantes, mas isso é que enriquecerá o intercâmbio. Talvez seja
possível encontrar algo assim como uma cláusula de gatilho que se possa disparar
a partir de determinado preço internacional por tonelada, para repartir de
maneira mais ampla este excedente.
Além disso, recentemente foi dada
meia sanção parlamentar para a Lei de Parceria Público Privada, e este Fórum
seria um bom momento para se pensar sobre as alternativas que podem ser
encontradas, juntamente com os produtores, para utilizar estes novos marcos
jurídicos no setor.
Se
somarmos todos os trabalhadores e trabalhadoras do setor aos quais o
governo está pagando o seguro-desemprego, equivaleria ao pessoal
necessário para montar um grande frigorífico, com cerca de 2 mil
funcionários. |
Temos certeza de que se somarmos
todos os trabalhadores e trabalhadoras do setor aos quais o governo está pagando
o seguro-desemprego, equivaleria ao pessoal necessário para montar um grande
frigorífico, com cerca de 2 mil funcionários.
Também queremos reunir insumos para a
análise de como agregar valor à carne, para que o gado não receba apenas quatro
cortes e seja metido dentro de um saco para ir direto à exportação. Temos de ver
se encontramos uma maneira de gerar mais trabalho e mais renda para os
uruguaios.
-Por que a Rel-UITA foi
convidada para participar desta atividade e o que se espera dela?
-Há muitos anos que nós
conhecemos a seriedade com que a UITA trabalha a nível nacional e
internacional. Sabemos da sua forte vinculação com os trabalhadores da indústria
frigorífica no país e o apoio internacional que lhes está sendo dado.
Também recebemos
informações sobre as diversas instâncias de intercâmbio e encontro que a
Rel-UITA organizou com relação a este setor, sendo a última no ano passado
em Buenos Aires, Argentina, onde se formou a
Coordenadoria dos Trabalhadores do Mercosul do
Setor das Carnes.
A Rel-UITA compartilhará sua experiência com dezenas
de organizações da Região que representam o setor e isto sempre será bem-vindo.
|