Conferência sobre as Cadeias de
Hotéis Espanholas
na América Latina e as
Liberdades Sindicais
Declaração de Buenos Aires
A
Conferência, reunida em Buenos
Aires entre os dias 24 e 26 de
setembro de 2008, com a presença
de 27 delegados e delegadas de
15 organizações da Argentina,
Brasil, Chile, Espanha, México,
Nicarágua, Panamá, Peru,
República Dominicana e
Venezuela, chegou à conclusão de
que a problemática analisada
transcende o âmbito das cadeias
de hotéis espanholas (CE) já que
é comum a empresas similares de
outras origens.
O principal
problema surge da política
anti-sindical sistematicamente
aplicada pelas CE, especialmente
no caso de Barceló, Riu e Meliá,
com suas violações ao princípio
de trabalho decente impulsionado
pela OIT e pela Declaração
Tripartite da OIT Sobre Empresas
Transnacionais. Esta política
antioperária e anti-sindical
também surge quando estas
empresas constroem os chamados
“contratos de conveniência”, tal
como ocorre no México e na
República Dominicana.
A política de
terceirização e de contratos a
termo -práticas neoliberais
eufemicamente denominadas
“flexibilização”- implementada
em todo o setor, provoca os
conhecidos efeitos sobre os
trabalhadores e trabalhadoras,
seus direitos e economias. Além
disso, a terceirização permite
eludir a obrigação empresarial
de capacitar profissionalmente
todo o seu pessoal, pondo em
risco a saúde dos usuários ao
deixá-los expostos ao consumo de
alimentos manipulados dentro de
um sistema de trabalho que não
garante a qualidade e segurança
adequadas.
Paralelamente, a
Conferência constatou uma
tendência nessas cadeias de
hotéis, na direção da
concentração e também buscando
evitar manter ativos fixos
–terrenos, edifícios, etc.- e
pessoal em relação de
dependência, o que permite
prever o surgimento de “empresas
hoteleiras virtuais” com as
graves conseqüências imagináveis
para os trabalhadores e os
Estados receptores (impostos,
regulamentações e legislação
locais).
A Conferência
ressalta e valoriza a medida
adotada pelo governo do Equador,
no mês de abril passado,
suprimindo a terceirização de
serviços complementares, a
intermediação do trabalho e a
contratação por horas e, por
isso, recomenda à Secretaria
Regional que se dirija àquele
governo para lhe expressar sua
aprovação.
Em 2006, as CE
estavam negociando com o
Ministério do Trabalho da
Espanha a possibilidade de
transferir para aquele país os
seus próprios empregados da área
do Caribe quando houver
necessidade de pessoal,
especialmente durante a época
estival européia. “Durante a
alta temporada nos vemos
obrigados a contratar pessoal
imigrante externo sem estar
formado, enquanto temos pessoal
adequado no Caribe que está
recebendo salário desemprego”,
era o argumento dos
empregadores, o que nos leva a
formular duas afirmativas:
-
A declaração de que, em alta
temporada, se vejam
obrigados a contratar
pessoal que não está
formado, reforça nossa
posição anterior com
respeito à terceirização, e
demonstra como são pouco
atrativas estas condições de
trabalho, que faz com que
não consigam cobrir o número
de vagas para esse emprego
em seu país de origem.
-
Além disso, a argumentação é
enganosa e inconsistente
dado que não existe salário
desemprego no México, na
República Dominicana e nem
na Venezuela.
Outra
preocupação surge das
conseqüências negativas do
modelo “tudo incluído”, sistema
fordista de exploração do
turismo, que somente beneficia
as grandes cadeias de hotéis a
partir do momento em que só é
aplicável com êxito em hotéis
com mais de 150 quartos. O
sistema se converteu em um
verdadeiro problema tanto para
os trabalhadores, os pequenos e
médios hoteleiros e todos
aqueles que oferecem serviços
aos turistas (restaurantes,
táxis, artesãos, etc.). Do ponto
de vista dos trabalhadores e
trabalhadoras hoteleiros, este é
um modelo que desqualifica a
profissão e reduz o número de
trabalhadores ao aplicar as
modalidades de bufê e self
service. O escasso investimento
das empresas na qualificação do
pessoal permite sua exploração,
seja pela retribuição seja pela
obrigação de realizar longas
jornadas.
Mesmo não
sendo conseqüência exclusiva da
atuação das CE, as seqüelas do
modelo de turismo extrativo,
praticada na maioria dos casos,
são alarmantes do ponto de vista
ecológico. Entre outros, os
impactos mais importantes são:
-
A perda do solo.
-
A perda de areias costeiras.
-
A degradação da paisagem.
-
A superexploração e/ou a
contaminação de rios,
lagoas, aqüíferos, etc.
-
O aumento exagerado do
consumo de energia
-
O aumento do custo de vida
para a população local.
-
A contribuição para as
mudanças climáticas (por
exemplo, o transporte de
alimentos e outros insumos
vindos de lugares
distantes).
Esta forma de
explorar o turismo traz consigo
um ciclo vital que, a longo
prazo, se esgota, ocasionando as
imagináveis conseqüências
negativas.
Onze cadeias de
hotéis espanholas - Meliá,
Barceló, Iverostar, Globalia (Oasis),
Fiesta, Sirenis, H-10, Princess,
Catalonia e Pinheiro (Bahía
Príncipe)-, todas elas com
presença na América Central e no
Caribe, criaram no início do
ano a Associação de Investidores
Hoteleiros de Âmbito
Internacional (Inverotel). A
importância que foi concedida a
esta Associação demonstra que a
sua diretoria, em sua maioria, é
integrada pelos presidentes das
mencionadas cadeias. Jesús
Favieres, presidente da
Inverotel, manifestou que “Nosso
propósito é contar com uma única
voz para transmitir, negociar e
materializar, em consenso com as
administrações públicas e
organizações empresariais
locais, os investimentos que as
principais cadeias de hotéis
espanholas têm naqueles países
”.
Mesmo com o
senhor Favieres mencionando isso
por alto, a criação da Inverotel
abriu um caminho de duas mãos,
portanto deveria estar disposta
a receber, negociar e fechar
acordos com uma organização que
representa vários sindicatos e
que também tem uma só voz, como
é a UITA.
Recomenda-se à
Rel-UITA e ao seu Departamento
de HRCT, junto com as
organizações, as quais seja
conveniente convocar, para o
planejamento das tarefas de
organização necessárias ao
fortalecimento, crescimento e
maior eficácia das organizações
sindicais filiadas nos países
onde a situação estiver
ameaçada.
Finalmente,
atestamos e agradecemos a
solidária cooperação das
Comisiones Obreras de España,
O/TCO da Suécia e da UTHGRA da
Argentina, para a realização
desta Conferência.
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