-Há pouco menos de um mês os trabalhadores estavam
prestes a fazer uma greve geral, e a direção da Parmalat
se negava a falar com eles. O que aconteceu depois?
-Quando foi publicada a última entrevista na página web
da Rel-UITA, nós a imprimimos, fizemos cem cópias e as
distribuímos aos trabalhadores e trabalhadoras por
ocasião da comemoração do dia Primeiro de Maio.
Assim que o conteúdo da entrevista chegou aos ouvidos do
diretor geral da
Parmalat
Centroamérica SA,
Vincenzo Borgogna,
ele começou a buscar uma aproximação conosco, mudando
totalmente a estratégia de confrontação que havia tido
nos meses seguintes à assinatura dos acordos.
-Essa mudança foi efetiva ou somente de fachada?
-O que ele está fazendo é mudar de atitude, mas o âmago
da sua manobra continua sendo desestruturar o sindicato.
Está tentando desmobilizar os trabalhadores, dando-lhes
algum tipo de regalia ou reconhecimento, mas sabemos que
seu objetivo não mudou e que estamos entrando em uma
nova etapa de confrontação entre os trabalhadores e o
empregador.
-Os
acordos de março, em algum momento foram cumpridos?
-A mudança de atitude por parte do doutor Borgogna
demonstra que ele está aberto a se comunicar conosco de
forma direta e que deixa de lado a atitude de repúdio ao
diálogo com o sindicato, mas não há o cumprimento de
quase nada dos acordos assinados em março.
Os quatro trabalhadores despedidos foram indenizados mas
não foram recontratados, não se falou das demandas de
demissão apresentadas ao MITRAB e não foram revistos os
artigos do Convênio Coletivo.
Fora dos acordos, obtivemos o resultado de que cessaram
as demissões e que foram reintegrados dois dos cinco
trabalhadores que estavam suspensos com gozo salarial.
Acreditamos que se trate apenas de maquiagem visando
desmobilizar os trabalhadores e trabalhadoras.
-Em que consiste essa maquiagem?
-Em uma ofensiva que poderíamos chamar de “ideológica”.
Ele organizou assembléias de premiação em cada uma das
áreas, andou seduzindo os trabalhadores dizendo que está
com eles, e que, por favor, não façam outra greve, que
já está entendendo as coisas e está trabalhando com o
sindicato. Mas no fundo no fundo não há uma mudança.
-Houve algum avanço na assinatura do Convênio Coletivo?
-Temos a informação não oficial de que elaboraram e
registraram o Convênio Coletivo sem a nossa última
revisão e, principalmente, sem a nossa assinatura.
Temos a certeza do que estamos dizendo porque já vimos
uma cópia do Convênio e é muito provável que o documento
tenha sido feito para ser dado a conhecer a nível
internacional e de sua diretoria, mas ele sabe
perfeitamente que não vai ter maior valor e que é outra
forma de maquiar a situação. Ele também pode estar
perseguindo outro objetivo, o de tentar evitar a
introdução de um novo Caderno de Reivindicações tendo em
vista que praticamente ignorou o que nós queríamos.
-Mas não vai ter nenhum valor…
-Claro que legalmente não vai ter valor, mas achamos que
o documento foi feito juntando as diferentes cláusulas
já acertadas entre a empresa e nós e depois foram
registradas como se o Convenio já tivesse sido fechado.
Isto mostra que a verdadeira atitude da empresa não
mudou em nada e que só estão tentando desmontar as
condições organizacionais de disposição para a greve
geral.
-Como o sindicato agora se posiciona em relação a esta
atitude?
-Estamos repensando nossa organização e nossos métodos
para evitar que se aproveitem dos trabalhadores e para
continuarmos buscando estabilidade no trabalho,
melhorias salariais e benefícios trabalhistas. Vamos
manter a denúncia do não cumprimento dos acordos e vamos
exigir que respeitem o que foi assinado com os
trabalhadores junto ao MITRAB.
Nos meses de junho e julho vamos ter reuniões com o
doutor Borgogna para rever os aumentos salariais e os
outros pontos dos acordos e vamos exigir-lhe que
respeite a lei pagando o dobro aos que trabalham no
domingo ou que deixe de recusar as licenças dos
trabalhadores que estão doentes ou que nos pague a
hora-extra quando nos obriga a prolongar o turno de
trabalho.
Outra coisa que está acontecendo é que obrigam os
trabalhadores a se submeterem a exames médicos e não
lhes permitem conhecer os resultados. Anos atrás
utilizavam esse método para despedir as pessoas em cujos
resultados aparecia alguma doença. Nosso temor é que
voltem a usar dessa prática e é por isso que eu, por
exemplo, não me submeti a estes exames.
-No momento, vocês vão deixar de lado a idéia da greve
geral?
-Não podemos descartá-la. O que ainda não sabemos bem é
qual o momento para fazê-la. A estratégia de Borgogna é
manter um diálogo para que não se criem as condições
para decretar a greve geral. Conhecemos perfeitamente
esta estratégia e por isso não vamos nos desmobilizar,
vamos aumentar a pressão e vamos elevar a parada
exigindo-lhe mais do que ele vem cumprindo.
Em
Manágua, Giorgio Trucchi
© Rel-Uita
2
de junho de
2006 |
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