Com Harald Wiedenhoff
O Setor
Lácteo: muitos problemas
e muitos
desafios
Harald
Wiedenhoff, secretário-geral da Federação Europeia de Sindicatos da Alimentação,
Agricultura, Tabaco e Turismo (EFFAT), organização regional da UITA na Europa, e
membro da Confederação Europeia de Sindicatos (CES), conversou com o Sirel sobre
a Conferência Internacional do Setor Lácteo da UITA.
-Como você analisa o setor?
-Em matéria de
transnacionais, na Europa estão todos os
grandes atores: Campina, Nestlé,
Unilever, Fonterra, e assim por diante. Temos
Comitês de Empresa Europeus, onde trabalhamos pelo
respeito aos sindicatos locais, nacionais, regionais
e mundiais. Tentamos
negociar os melhores convênios
com estas empresas transnacionais.
-É um setor de muito peso ...
-O setor lácteo é
muito importante na Europa,
onde
existem mais de 400.000 postos de trabalho neste
setor e mais de 12.000 empresas de laticínios.
Em alguns países,
este setor é de particular interesse como no caso da
Alemanha, França, Itália,
Holanda e Polônia.
-E os problemas
que o setor enfrenta?
-É uma atividade onde
há uma série de problemas:
o primeiro é o processo de consolidação e
reestruturação, que há muitos anos é levado adiante. Foram
perdidos postos de trabalho e o objetivo da EFFAT
é gerenciar melhor esse processo, de forma
socialmente responsável.
Em segundo lugar está
o problema dos varejistas, isto é, comércios e
supermercados que vendem os produtos lácteos, bem
como a sua respectiva política de aquisições. O
varejo, com alto poder aquisitivo, também está se
reestruturando e consolidando,
mas é extremamente poderoso e alcançou
enormes baixas no preço do leite e derivados. Esta
queda nos preços representa uma crescente pressão
sobre as condições de trabalho, sobre a negociação
coletiva e sobre os salários.
Por
sua vez, há uma grande disparidade entre o preço de
produção e o preço de venda ao público. Por
esta razão, na Europa, as comissões,
especialmente a Comissão Europeia, estão
intervindo e verificando como está sendo
estruturado o preço de venda ao público. Estamos
preocupados que o leite seja vendido abaixo do seu
custo de produção.
É um fenômeno que já está ocorrendo e, por vezes, os
produtores não conseguem nem cobrir os próprios
custos de produção. Portanto,
repito, estamos solicitando que se proíba a venda do
leite abaixo do preço de produção.
Em terceiro lugar,
este é um setor que gera muitos postos de trabalho e
é preciso fortalecer as áreas rurais, melhorar a
gestão das pastagens, com especial atenção para o
meio ambiente e controle das alterações climáticas.
Entre as preocupações
da EFFAT, o quarto problema é o futuro
mercado de laticínios da Europa. Como
se sabe, a Europa tem um regime para seus
mercados, só que o mercado do leite não esteve
presente nas reformas nem mesmo na
Política Agrícola Comum.
Este tema está agendado para os próximos anos e
temos de assegurar que a Europa continue a
ser um importante produtor de leite para o
qual nós, como sindicatos, temos de fazer parte do
debate e do processo.
Finalmente, uma
questão que nos preocupa na Europa são os
sucedâneos do leite. Há
um setor que inventa, desenvolve e elabora novos
produtos que têm o sabor e a aparência do leite,
sendo que a matéria-prima não é o leite mas sim
outras mais baratas. Temos,
claramente, de trabalhar sobre a questão da
rotulagem para que os consumidores saibam exatamente
o que estão comprando.
-A Europa será representada na conferência por um
grande número de delegados ...
-Os delegados dos sindicatos da Europa estão
participando do encontro com grandes expectativas. Faz
muito tempo que não há uma conferência de Lácteos. Se
bem me lembro, a última foi há vários anos na
Nova Zelândia, e urge analisar os desafios
globais do setor.
Neste sentido, posso
garantir que os representantes europeus realizarão
importantes contribuições buscando uma resposta
verdadeiramente
internacional para estes desafios.