Brasil -
Porto Alegre
Agricultora se mata
após arresto de fumo no RS |
Um
arresto de fumo, pedido pela empresa fumageira
Aliance One, causou o suicídio de uma agricultora do
município gaúcho de Vale do Sol, na região do Vale
do Rio Pardo. No dia 2 de fevereiro, sob ordem do
juiz Marcelo Silva de Carvalho, a agricultora Eva da
Silva teve toda sua produção de fumo tomada, para o
pagamento de uma suposta dívida que teria com a
empresa.
Desesperada, ela anunciou que iria se matar. Às 9h30
da manhã, ela morreu enforcada no fundo do galpão de
sua propriedade. O fato está registrado na Delegacia
de Polícia de Vale do Sol. No atestado de óbito, o
médico responsável indica que a agricultora, de 61
anos, sofria de depressão.
O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
está acompanhando o caso e deve encaminhar denúncias
contra a ação da empresa e do judiciário. O
coordenador regional do MPA, Vilson
Rabuske, relata que a dívida da fumicultora não
estava vencida. A agricultora vendia fumo para a
empresa há mais de 25 anos. "Eles buscaram esse
fumo. A dívida não estava vencida, ela não estava
negando a conta. Ela inclusive vendeu fumo no ano
passado, em dezembro, e a empresa pagou 100% para
ela, porque ela estava em dia. E no fazer o arresto,
ela se desesperou, uma situação constrangedora, o
oficial de justiça, mais seis brigadianos, dez
pessoas para carregar o fumo. Arrombaram o galpão,
ela tentou argumentar que não estava devendo, não
adiantou, o oficial disse que estava cumprindo
ordens. Ela disse que ia se matar, não deram bola, e
ela foi para o fundo do galpão e se enforcou",
afirma.
O MPA afirma também que, ao ser
comunicada do suicídio, a Aliance One
mandou funcionários para carregar o fumo
mais rapidamente. "Ela estava morta
já mas, em vez de parar o arresto,
trouxeram reforço, ou seja, mais
trabalhadores para carregar o resto do
fumo. |
O MPA denuncia, ainda, que os homens que faziam o
arresto continuaram carregando o fumo da
agricultora, mesmo sabendo que ela havia se
suicidado.
O oficial de justiça responsável pelo caso teria
ligado para o juiz Marcelo de Carvalho, que
autorizou o prosseguimento. A informação foi
confirmada pela Delegacia de Polícia. O MPA afirma
também que, ao ser comunicada do suicídio, a
Aliance One mandou funcionários para carregar o fumo
mais rapidamente. "Ela estava morta já mas, em
vez de parar o arresto, trouxeram reforço, ou seja,
mais trabalhadores para carregar o resto do fumo.
Carregaram todo o fumo e só depois foram ver o caso
dela. Ela se matou durante o arresto, na hora. Ela
disse para o oficial que iria se matar. Acharam o
corpo, segundo dizem o oficial ligou para o juiz, e
o juiz mandou continuar. Aí, ligaram para a empresa
e a empresa mandou mais pessoas para carregar mais
ligeiro o fumo", conta Vilson Rabuske.
A empresa foi procurada para responder as denúncias,
mas se limitou a enviar um comunicado oficial. No
texto, a Aliance One lamenta o ocorrido e diz
que o suicídio foi uma "fatalidade". A empresa diz
que a ação foi motivada por "quebra de contrato" e
se coloca à disposição das autoridades para
esclarecimentos. Sobre a informação de que a empresa
teria mandado funcionários seus ajudarem no arresto
do fumo, após o suicídio da agricultora, a
assessoria de imprensa não respondeu, afirmando que
a resposta da empresa será apenas o que está no
comunicado oficial. No Fórum de Vale do Sol, foi
informado que o juiz está de férias. O oficial de
justiça foi procurado, mas não foi localizado pela
reportagem.
O arresto é uma medida em que a justiça autoriza que
a empresa tome o fumo do agricultor, em troca de
dívidas. De acordo com o MPA, casos de
arresto arbitrário estão sendo cada vez mais
freqüentes na região do Vale do Rio Pardo. Vilson
Rabuske afirma que o movimento irá denunciar o
caso da agricultora Eva da Silva. "Esse
arresto nem deveria ter saído. A empresa usou de
mentiras no processo que mandou para o judiciário, e
o judiciário simplesmente mandou fazer o arresto. As
empresas usam esse artifício, porque o judiciário
infelizmente é omisso. E nós temos que parar com
isso. Temos que denunciar e é o que vamos fazer. A
direção estadual do MPA vai denunciar nos
órgãos competentes, Assembléia, Direitos Humanos,
Ministério Público Federal. Enfim, vamos fazer tudo
que deve ser feito", afirma.
Um estudo conduzido pelo engenheiro agrônomo
Sebastião Pinheiro, de 1996, analisa a relação
do uso de agrotóxicos com os suicídios entre
agricultores ocorridos no município de Venâncio
Aires. De acordo com o estudo "Suicídio e doença
mental em Venâncio Aires", o município registrou uma
média de 11 suicídios por ano, entre 1979 e 1995.
Tudo indica que devido ao uso excessivo de veneno
nas lavouras de fumo.
Por Luiz Renato Almeida
Agência Chasque
27 de febrero de 2007
NdE:
Rel-UITA agradece a Roberto Ruiz el envío de esta
nota.
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