O presidente Tabaré Vázquez, a ministra da Saúde
Pública María Julia Muñoz, e outros funcionários do
governo uruguaio têm expressado recentemente sua
vontade de impulsionar medidas concretas que apontem a
uma diminuição do tabagismo na sociedade. O fundamento
desta ação é a convicção de que o consumo de tabaco
pode provocar graves problemas na saúde humana e
provem da ratificação do convênio marco promovido pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) na anterior
administração de governo, situação que desde faz cinco
anos e Sindicato Autônomo do Tabaco (SAT) vem
analisando.
Os trabalhadores e trabalhadoras da indústria do
tabaco coincidem completamente com a preocupação das
autoridades pelas conseqüências do tabagismo,
especialmente para os não fumantes já que a sua opção
é, precisamente, não se expor aos riscos do consumo de
tabaco. Coincidimos também em que os avanços mais
profundos e duradouros na luta contra o tabagismo se
produzirão no âmbito das campanhas de educação de
crianças e jovens, quem devem receber uma maior e
melhor atenção educativa que aponte a enfrentar, alem
da do tabaco, todas os outros vícios de igual ou maior
periculosidade.
A ministra Muñoz também fez referência em suas
declarações às "500 famílias que vivem do tabaco",
referindo-se exclusivamente às que cultivam o tabaco
no Uruguai que, efetivamente, chegam aproximadamente a
esse número. Se bem para muitas delas o tabaco não é a
sua atividade principal, trata-se de um complemento
imprescindível em sua renda familiar para assegurar o
recurso mínimo de seus lares. Em quase todos os casos,
alem disso, trata-se de pequenos produtores com
escassas possibilidades de sustentar por si próprios
uma mudança abrupta de rubros em seu esquema de
produção.
Mas não se deve de esquecer os 2.000 postos de
trabalho que reúnem os centros locais de armazenamento
aonde chegam as folhas secadas e se efetua uma
classificação inicial, e a própria indústria do
tabaco. Estes centros de armazenamento alem disso, se
encontram nos departamentos de Rivera e Artigas, zonas
muito empobrecidas e fortemente batidas pelo
desemprego.
Por outra parte, reconhecemos a procedência do
convênio marco promovido pela Organização Mundial da
Saúde, que limita severamente a publicidade do tabaco
nos meios de comunicação, e obriga a incluir nos
produtos as advertências sobre o risco que implica o
consumo do tabaco. Não obstante, não devemos esquecer
que os principais países produtores de tabaco, como
Estados Unidos, Japão, China, Brasil, Argentina,
Turquia, entre outros, não têm ratificado esse
convênio. Estes países mantêm políticas de proteção e
amparo de suas indústrias do tabaco e de seus
produtores de tabaco.
Estimamos, contudo, que a proposta de incrementar a
carga tributária sobre o tabaco, seja pela via de
aumentar o Imposto Específico Interno (IMESI) ou
outros tributos, provocaria uma grave distorção no
mercado interno porque desprotegeria a indústria
uruguaia com relação às indústrias da região, como as
do Brasil e da Argentina. Estamos convencidos de que
uma medida desse tipo acarretaria o fechamento quase
imediato de uma das empresas estabelecida no país, ao
tempo que geraria uma forte corrente importadora de
tabaco mais barato, no início da própria região, e
depois possivelmente também de outras origens onde, ao
contrário do Uruguai, a indústria goza de vantagens
impositivas.
Como é lógico, esta re-configuração do mercado não só
não estaria combatendo o tabagismo, mas eliminaria
fontes de trabalho em nosso meio e, não menos
importante, criaria uma nova linha apetitosa para o
contrabando, que já está por volta do 27 por cento do
mercado, sonegando ao Estado 30 milhões de dólares
enquanto que as empresas estabelecidas no país
contribuem com 100 milhões de dólares anuais por
conceito de IMESI e chegaram a exportar outros 50
milhões de dólares. O contrabando, alem de pôr em
risco fontes de trabalho, estará expondo o público ao
consumo de produtos de menor qualidade dos que
atualmente são comercializados em nosso meio. Esta
situação criaria o paradoxo de suprimir empregos no
Uruguai, ameaçar a indústria local e favorecer a mesma
atividade em outros países, sustentando fontes de
trabalho no estrangeiro e afetando mais a saúde
pública em nosso país, porque introduzirão cigarros a
um preço muito menor do atual e como conseqüência
incrementará o consumo.
Em definitivo, o incremento do IMESI favorecerá as
companhias transnacionais ou as indústrias nacionais,
que procurarão rapidamente atender a praça uruguaia
com a produção de alguma de suas fábricas localizadas
na região.
De alguma maneira isto já aconteceu com o ingresso no
Uruguai da empresa British American Tobacco (BAT), que
se instalou sem respeitar os acordos e dissídios
coletivos que existem entre a indústria e os
trabalhadores, conseguindo assim uma vantagem
comparativa em detrimento do salário e as condições de
trabalho de seus empregados. Esta empresa não demorou
muito em fazer o que aparecia como obvio: importar
cigarros a menores preços que os produzidos
localmente.
Nosso sindicato está bem disposto a estudar projetos
sensatos e a colaborar na elaboração de programas
sérios para lutar contra o tabagismo, especialmente
com os que enfatizem o aspecto educativo, já que a
experiência acumulada neste tema tem demonstrado que
os resultados das campanhas de repressão do consumo
são absolutamente insatisfatórios quando comparados
com as ações de educação.
Estamos, também, completamente dispostos a discutir a
reconversão dos trabalhadores e trabalhadoras que nos
desempenhamos nesta indústria, partindo do princípio
da participação ativa do sindicato na discussão da
manutenção da capacitação ou reciclagem dos
trabalhadores e trabalhadoras, já que algumas das
experiências até agora ensaiadas deixam muitas dúvidas
sobre sua eficácia real em um país com um índice de
desemprego tão alto como o que temos na atualidade.
Mario de Castro
Secretário Geral do Sindicato Autônomo do Tabaco (SAT)
13 de maio de 2005
NOTA: Documento avalizado pela Comissão Diretiva e o
Conselho de Delegados.