Os projetos de
mineração a céu aberto, além de gerar sérios impactos ao meio ambiente, muitas
vezes provocam o deslocamento forçado de populações inteiras e a perda de suas
terras. Guillermo Rivera, presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na
Indústria Agropecuária (SINTRAINAGRO), conversou com Sirel e alerta sobre a
grave ameaça que paira sobre as populações camponesas e indígenas.
-Qual é o problema que
está sendo vivido no departamento de Antioquia?
-Dois anos atrás,
descobriram que há minas de carvão nos municípios de Necoclí, San Pedro de Urabá
e Arboletes, no noroeste da Colômbia.
Trata-se de uma área rural onde
vivem camponeses com pequenos tratos de terra, de 2 a 3 hectares, e que,
historicamente, sobrevivem produzindo seus próprios alimentos.
Agora, com esta descoberta, o Instituto para o Desenvolvimento de Antioquia (IDEA),
um organismo público descentralizado e de caráter departamental de promoção e
desenvolvimento, obteve o título de quase 100 mil hectares de terra para fazer
um estudo mais aprofundado sobre a presença destas reservas de carvão.
Além disso, assinou um acordo com empresa de consultoria em engenharia
Geominas para avançar na titulação de 11 contratos de concessão, e negociou
com companhias transnacionais coreanas e com um consórcio belgo-suíço.
Estas transnacionais estão interessadas em uma exploração superior a 500 mil
toneladas por mês, na construção de uma ferrovia e de um embarcadouro em
Arboletes. Trata-se de um investimento total de 46 milhões de dólares.
Os
latifundiários não param de exercer pressão sobre os camponeses para
que vendam as suas terras. Eles querem forçá-los a vender para
depois oferecer as terras ao estado, a um preço muito mais alto. |
-Quais são as principais preocupações do SINTRAINAGRO?
-O que estamos prevendo é que, para dar início ao projeto que irá beneficiar
essas transnacionais, haverá a pressão por um deslocamento forçado das
populações camponesas e indígenas da região.
Temos denunciado esta ameaça às autoridades locais para que intervenham
diretamente e busquem uma alternativa a fim de não permitir um novo abuso contra
as populações da região, o que poderia desembocar em situações de violência e
confronto.
-Qual tem sido a resposta?
-Estamos dialogando. Reunimo-nos várias vezes com o governador departamental e
com o gerente geral do IDEA.
Por outro lado, organizaremos um fórum em Urabá para levantar esta problemática
e procurar soluções. Os impulsionadores do projeto nos disseram que todos os
municípios envolvidos serão beneficiados. Vão lhes dar regalias que chegam a um
máximo de 6 por cento da exploração de carvão. Uma quantia irrisória que, em
nada, vai resolver o problema de quem vai ser deslocado por causa desta
atividade.
-Qual é proposta do SINTRAINAGRO ?
-Queremos instalar imediatamente uma mesa de discussão na região, para ver quais
serão os mecanismos de proteção para a população.
Nós também queremos ver que garantias os habitantes desta região terão, para que
isto não se converta em um foco de violência e exploração do povo, já que os
latifundiários não deixam de exercer pressão sobre os camponeses para venderem
suas terras.
Eles querem forçá-los a vender para depois oferecer as terras ao Estado, a um
custo muito mais alto.
-Que passos serão dados no futuro?
-O SINTRAINAGRO está ajudando as populações a se organizarem, orientando-as para
que não aceitem a negociação da terra e que não aceitem ser desalojadas.
Já vimos em outras partes da Colômbia, por exemplo, na região das minas do
Cerrejón, no departamento de La Guajira, onde os camponeses e as populações
indígenas foram deslocados sem nenhuma garantia social.
Isso é o que querem fazer em Urabá e, portanto, vamos manter a nossa posição até
obter uma negociação e não vamos permitir o deslocamento das pessoas.
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