O atual
governo colombiano desenvolve políticas econômicas que ameaçam a soberania e a
segurança alimentar da população, favorecendo os interesses do grande capital
nacional e transnacional. "É urgente e necessário adotar estratégias que visem a
produzir alimentos "in situ" e a reverter estas dinâmicas perigosas para
o futuro do continente", foram as considerações do senador colombiano Jorge
Enrique Robledo, durante sua conversa com o Sirel.
-Como você percebe a situação da Soberania e
Segurança Alimentar (SSA) na Colômbia e no resto do continente?
-A Colômbia está passando por um problema muito grave que
existe também em muitos outros países da região. Apesar
de ser um país com suficiente terra, agricultores e água para sermos
autossuficientes em alimentos, as políticas neoliberais nos converteram em um
país importador.
Estamos importando 10 milhões de toneladas de
alimentos, isto é, mais de 30 por cento da nossa produção agropecuária total, o
que significa
que estamos importando uma parte muito importante da dieta básica do nosso país. Bens
que poderíamos perfeitamente produzir internamente.
Nossas segurança e
soberania alimentares estão sendo perdidas, porque estamos sujeitos às
chantagens que as multinacionais e os países alinhados
com o modelo neoliberal querem nos impor, presentes nos Tratados de Livre
Comércio (TLC) e na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Fazem-nos consumir
agrocombustíveis com um alto custo de produção em troca de poupar
petróleo, para assim vendê-lo mais barato aos Estados Unidos. |
-Que implicações pode ter uma
deterioração progressiva da SSA?
-A SSA está baseada em um
conceito bastante óbvio:
os alimentos são bens essenciais, porque um povo pode ficar sem
muitos bens, mas não sem alimentos. Sem comida desaparece.
Nesse
sentido, o conceito de SSA é tão
importante e essencial que você tem que focar onde o alimentos são produzidos.
Os defensores do livre
comércio dizem que não importa o lugar da produção, mas os fluxos comerciais e a
disponibilidade de recursos para comprar alimentos. Não
consideram, por exemplo, que
poderíamos chegar a uma situação onde haveria recursos
econômicos, mas não alimentos.
Para nós, a
SSA
deve ser entendida como um problema nacional. Que cada país faça os esforços
necessários para produzir e garantir a dieta básica da sua população, sem
concentrar a produção em poucos lugares do mundo.
-Quais são os setores da sociedade que devem
garantir a SSA?
-A meu ver
é preciso haver um esforço conjunto
entre empresários e assalariados agrícolas, camponeses e povos indígenas. Além
disso, o Estado deve necessariamente apoiar este esforço
com os instrumentos que estiverem à sua disposição.
-De que forma a incipiente produção de
agrocombustíveis pode afetar a SSA?
-Na Colômbia, como em muitos
outros países, houve um aumento na produção de agrocombustíveis, a partir do
dendê e da cana de açúcar. O
problema é quando isto é feito em troca de produção de alimentos, que é a
política que os EUA querem impor aos governos latino-americanos.
Estamos importando 10 milhões de toneladas de alimentos, isto é,
mais de 30 por cento da nossa produção agropecuária total. |
Isso é um
absurdo. A
primeira coisa que precisamos é produzir alimentos, garantir a SSA e só depois
pensar na produção de agrocombustíveis. Aliás,
estão nos impondo um negócio interno: fazem-nos consumir agrocombustíveis de
altos custos de produção em troca de poupar petróleo, para assim vendê-lo mais
barato aos Estados Unidos.
-Há
resistência dos povos diante desta situação?
-A
política dos governos submetidos a Washington é a de sacrificar a SSA, para nos
fazer dependentes das importações de alimentos e, assim, favorecer as
transnacionais. Esta
situação se agrava mais e mais a cada dia,
entretanto é
crescente a resistência a este modelo, reivindicando por políticas que garantam
a SSA.
-Qual
é a sua avaliação da atividade que o Comitê Executivo Latino-Americano da UITA
está desenvolvendo na Colômbia?
-Para mim foi uma honra apresentar este assunto
em uma atividade tão importante quanto o Comitê Executivo Latino-Americano da
UITA. Acredito
que estas organizações aqui representadas estão desempenhando um papel muito
importante ao lado dos trabalhadores, das trabalhadoras e do povo em geral.
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