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SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DO
FUMO DE UBERLÂNDIA |
Uberlândia, 18 de maio de 2004
Aos companheiros
Luiz
Marinho,
presidente da Central Única dos Trabalhadores – CUT /
Brasil
José
Lopes Feijó,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Companheiros
Vimos,
pela presente, manifestar nossa preocupação com os
rumos do debate sobre o reajuste da tabela do Imposto
de Renda.
Embora
nós também tenhamos interesse que o governo corrija as
distorções existentes na tabela do IR ainda este ano,
consideramos equivocada e inoportuna
a
proposta do companheiro José Lopez Feijó, presidente
do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (Folha de São
Paulo, 12/05/2004. pág. B12), de se
tentar
compensar uma eventual queda de arrecadação do governo
federal com aumentos de tributos sobre cigarros e
bebidas.
Lembramos
aos companheiros que hoje, de cada três cigarros
consumidos no Brasil, um é proveniente do mercado
ilegal, composto de produtos falsificados e
contrabandeados de países vizinhos ou distantes, como
a China.
Enquanto
as indústrias legalmente constituídas no Brasil
comercializaram, em 2001, 100 bilhões de unidades,
gerando uma receita de R$ 6,5 bilhões, estima-se que o
mercado ilegal tenha faturado nada menos que R$ 1,9
bilhão, com a venda de 51 bilhões de cigarros.
Essa
perda de mercado para o produto ilegal representa,
para o Brasil, um prejuízo de R$ 1,3 bilhão em
tributos por ano, valor este que daria para
alfabetizar 13 milhões de pessoas, construir 33 mil
creches ou 130 mil ambulatórios.
Hoje,
enquanto a indústria brasileira vende um maço de
cigarros por R$ 1,36 em média, o mercado ilegal
consegue colocar o produto no mercado por R$ 0,74.
Como a maior parte do preço dos cigarros (cerca de
70%) é referente a impostos, qualquer alteração a mais
na (já exagerada) carga tributária terá reflexos
perversos para a indústria nacional, que não terá como
continuar concorrendo com o produto contrabandeado.
Contrabando e falsificação
favorecem o crime organizado
Outro
aspecto grave da política fiscal de sobrecarregar com
tributos alguns produtos de alto consumo popular, é
que ela incentiva o crescimento do crime organizado. A
parte visível desse mercado paralelo no Brasil é a
grande quantidade de desempregados e camelôs
comercializando produtos contrabandeados nas ruas das
grandes cidades. Mas a parte oculta são as grandes
quadrilhas que hoje dominam esse mercado, ávidas por
lucro fácil e não raramente também envolvidas com
outros tipos de atividades criminosas, como o tráfico
de armas e de drogas.
Uma
evidência de que a elevada carga de impostos só
contribui para aumentar a falsificação e do
contrabando de cigarros, com o conseqüente prejuízo
fiscal para o Estado, é o exemplo do Canadá.
De 1984 a
1992, os impostos sobre cigarros aumentaram 450%
naquele país, o que ocasionou uma fortíssima elevação
dos preços finais. A reação dos piratas foi a
mesma que acontece hoje no Brasil: o produto ilegal
passou, em pouco tempo, a dominar 40% do consumo
canadense.
Em 1994,
o governo do Canadá resolveu enfrentar o problema de
frente e tomou duas medidas efetivas: reduziu em 50% a
carga tributária sobre o cigarro e lançou uma campanha
repressiva ao mercado ilegal.
Com isso,
os cigarros contrabandeados desapareceram do mercado
canadense e o crime organizado sofreu um duro golpe,
ficando reduzido a praticamente zero.
Tributação alta exporta empregos do
Brasil
O movimento sindical cutista ligado ao Ramo da
Alimentação, Bebida e Fumo, organizado na CONTAC-CUT,
tem plena consciência de suas responsabilidades
sociais, tanto perante a classe trabalhadora, como
perante os consumidores dos nossos produtos.
Por isso, não nos esquivamos do debate sobre
tabagismo, alcoolismo, uso de aditivos químicos nos
alimentos industrializados, consumo de alimentos
transgênicos, poluição das grandes cidades e outros
temas de relevância para a sociedade.
Nem nos esquivamos do debate sobre a importância
econômica da Indústria Fumageira para o Brasil, em
especial para a arrecadação tributária da União,
Estados e Municípios.
Porém, não podemos nos furtar de alertar os
companheiros de que
NÃO SE COBRE UM SANTO DESCOBRINDO O OUTRO!.
A proposta fomulada pelo companheiro Feijó ao ministro
Antônio Palocci, ao contrário de oferecer uma solução
consistente para a questão da arrecadação tributária,
pode vir a causar um triplo problema:
1 - para o governo, que pode estar dando um
“tiro-no-pé”, ao perder arrecadação em função do
aumento do preço dos cigarros, com a conseqüente
diminuição do consumo e aumento da concorrência
desleal;
2 – para o consumidor, que será obrigado a consumir
produtos mais baratos, de qualidade duvidosa e ainda
por cima colaborando para alimentar os setores
criminosos da sociedade;
3 – para os trabalhadores, com o aumento do desemprego
neste setor da Economia, cuja cadeia produtiva é
estimada em cerca de 2,12 milhões de pessoas (650 mil
empregos diretos na lavoura, 20 mil empregos diretos
na indústria e 1,45 milhão de empregos indiretos).
À vista desses fatos, a diretoria do Sindicato dos
Trabalhadores nas Indústrias do Fumo de Uberlândia –
SINTRAF, filiado à CUT desde sua fundação, em 1994, se
sente no dever de alertar a direção executiva do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na pessoa do
companheiro José Lopes Feijó, e a direção executiva da
Central Única dos Trabalhadores – CUT, na pessoa do
companheiro Luiz Marinho, para o equívoco deste tipo
de proposta simplista.
O SINTRAF sugere, outrossim, que a CUT leve ao
ministro Antonio Palocci uma proposta consistente de
reformulação da atual política tributária sobre os
produtos derivados do tabaco no Brasil, convidando,
para o debate da mesma, todos os setores interessados
nesta questão.
Sendo o que tínhamos para o momento, subscrevamos esta
com nossas fraternais
Saudações Cutistas
Romualdo Bezerra Leite
Coordenador Geral - SINTRAF
C/Cópia para:
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DA CUT NA CÂMARA SETORIAL DO FUMO, ETCO
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