O secretário-geral
da Central Unitária dos Trabalhadores
(CUT), da Colômbia, dialogou com o Sirel
sobre a situação dos direitos humanos e
trabalhistas nesse país, especialmente
com relação ao conflito no setor das
flores e do atum na SEATECH.
-Qual
é a real situação dos direitos humanos
na Colômbia?
-A comunidade
internacional precisa saber que a
situação dos direitos humanos na
Colômbia não melhora. Até
o momento, já lamentamos o assassinato
de 37 sindicalistas. Continua
a violação do direito de associação e
dos direitos e liberdades sindicais, bem
como não há o direito a se fazer
greve. O pior é que os conflitos
trabalhistas estão recebendo o mesmo
tratamento que os conflitos de ordem
pública ou de guerra.
Aqui existe um corpo Policial chamado
Esquadrão Móvel
Anti-Distúrbio
(ESMAD),
que está adestrado, -não posso dizer
treinado-, para responder com extrema
violência a qualquer circunstância, e os
conflitos trabalhistas estão sendo
resolvidos desta forma.
-Como aconteceu
recentemente na Fazenda Guacari ...
-Exatamente. Porque na savana da
província de Cundinamarca, que fica
perto da capital, há 100 mil
trabalhadoras e trabalhadores das
flores. As transnacionais apelaram para
a pior forma de terceirização que se
possa imaginar, que é através de um
processo de subcontratação e de
subarrendamento de empresas
Sendo assim, há companheiras
trabalhadoras de várias transnacionais
que, há três meses, não recebem o
auxílio saúde, nem os reajustes e sua
previdência não é recolhida. Além disso,
as transnacionais as suspendem sempre
que lhes dá na telha. Por isso, as
companheiras iniciaram um processo de
greve. A resposta foi que o governador
de Cundinamarca,
Andrés González Díaz,
autorizou resolver o conflito com o
Esquadrão da Polícia, que é o pior
tratamento que pode ser dado aos seres
humanos.
Jovens
serão utilizados para
substituir trabalhadores(as)
em idade avançada, mas sem
quaisquer direitos. É a
legalização da terceirização
por meio de novas figuras
legais. |
Uma situação semelhante
acontece no município de Segóvia,
departamento de Antioquia, onde a
transnacional de mineração
Medoro Resources fez
uma demissão em massa de 1.500
trabalhadores. Em Segóvia existem 15 mil
habitantes, significando que a população
inteira se vê afetada por esse fato, já
que a grande maioria depende de uma ou
de outra forma da mineração.
Nos dois dias de resistência já são mais
de 50 feridos. Enviamos um SOS à
comunidade internacional pedindo que
solicite ao presidente
Juan Manuel Santos
que, através do Ministério de Proteção
Social, resolva o conflito de uma forma
razoável, na discussão e busca de uma
solução para as Pautas de
Reivindicações, e que sejam assinadas as
Convenções Coletivas, respeitando o
direito à greve, bem como o direito de
oposição.
-Há também outro grande
conflito em Cartagena ...
-Em Cartagena os
trabalhadores e trabalhadoras da empresa
atuneira SEATECH iniciaram uma
greve porque a empresa havia demitido
mais de 100 empregados, alegando um veto
ao comércio de atum que nunca existiu.
Este veto foi inventado para justificar
tais demissões, entre elas as dos
membros da Junta Diretora de um
sindicato recentemente criado.
-É uma metodologia nova
ou é mais da mesma coisa?
-Com isto podemos prever que o governo
de Santos superará o de Álvaro
Uribe, porque está aprofundando as
medidas econômicas do modelo econômico
neoliberal, está promovendo um projeto
de lei chamado de Primeiro Emprego que,
supostamente, viria resolver a situação
de 500 mil das 12 milhões de pessoas que
trabalham na informalidade, na
Colômbia.
Isso é uma deslavada mentira, não sendo
mais do que uma tentativa de usar os
jovens para substituir aqueles
trabalhadores e trabalhadoras já em
idade avançada, mas sem quaisquer
direitos. É a legalização da
terceirização por meio de novas figuras
legais.
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