Brasil

Com Elio Neves

Nós trabalhadores devemos nos unir

em torno de um só Convênio Nacional

 

Como foi informado pelo Sirel, no dia 29 de agosto passado, organizações sindicais do setor sucroalcooleiro se reuniram com o presidente da República Luis Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Em exclusiva para a UITA, Elio Neves avalia os resultados e alcances da entrevista.

 

 

-Quais foram as preocupações apresentadas ao governo?

-O Presidente fez uma abordagem afirmando que a questão dos biocombustíveis, e particularmente do etanol, são parte do plano estratégico do governo em um momento histórico onde há uma forte demanda do mercado internacional. Manifestou, inclusive, que o Brasil tem condições únicas para liderar a produção, mas que ele está preocupado com a situação dos trabalhadores. E que as organizações que representam os trabalhadores deveriam aproveitar esta oportunidade para obter conquistas.

Então, ele lançou a pergunta: o que o governo poderia fazer para ajudar a melhorar as condições dos trabalhadores? 

Fizemos uma série de propostas. Uma delas é que o governo deveria ser o mediador e liderar positivamente, em favor dos trabalhadores, uma negociação nacional para a adoção de um pacto coletivo federal que estabeleça as condições mínimas de salário, de trabalho e saúde do setor sucroalcooleiro.

 

- Isto se deve às condições de trabalho e salariais serem muito desiguais entre um estado e outro?

-Absurdamente desiguais! No Brasil, o capital se desloca de um lado para outro, procurando os maiores lucros. Então dissemos ao Presidente: se o senhor faz dos biocombustíveis uma marca nacional, se o senhor levar a todas as partes a bandeira do Brasil, nós queremos um Convênio Nacional. Os cortadores de cana não podem trabalhar em regimes diferentes ou obter salários diferentes dependendo se trabalham no Rio de Janeiro, São Paulo ou no nordeste, porque o produto é um só.

 

-Qual foi a resposta do Presidente?

-Ele foi expedito e me pediu que enumerasse os principais engenhos que controlam a produção no Brasil. Agora estamos aguardando o resultado das suas gestões.

Outra questão que abordamos é que o governo financia a expansão do setor sucroalcooleiro de duas maneiras: primeiro não cobrando a grande dívida pública deste setor que, desde a década de 70, com a promoção do Programa “Pró-Álcool” em meio à crise do petróleo, recebeu muito dinheiro público. Este setor, que ainda tem uma dívida monstruosa com a seguridade social, pretende exportar para todo o mundo. Por isso, dissemos ao Presidente que essa dívida deve ser cobrada, porque o que está financiando este setor é o dinheiro do povo.

Outra coisa que expusemos é que os bancos de investimentos públicos continuam financiando poderosos grupos econômicos, em alguns casos inclusive com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Estes mesmos grupos endividam os trabalhadores e a própria sociedade.

Dissemos  ao Presidente: se o senhor faz dos biocombustíveis uma marca nacional, se o senhor leva a todas as partes a bandeira do Brasil, nós queremos um Convênio Nacional.

Por isso, seria importante que o governo criasse um sistema de controle social nacional para esses investimentos públicos, para que não seja assinado nenhum contrato de investimento com o setor privado sem a garantia de uma contrapartida social e ambiental.

Esta questão ficou pendente, e mesmo o Presidente manifestando que, em sua avaliação, os bancos não estariam financiando a produção sucroalcooleira, os Ministros presentes afirmaram que realmente há muito investimento público no setor.

 

-Foi discutido algum outro tema?

-Dos pontos de vista social e ambiental, que são os dois impactos mais nefastos da expansão sucroalcooleira, é preciso definir políticas públicas que abranjam toda a cadeia produtiva. Os problemas dos cortadores de cana, na verdade, começam na indústria, com o planejamento que a indústria faz da safra, com as variedades de cana selecionadas, com as metas de cortes, etc.; ela impõe o ritmo do setor agrícola.

A mesma situação ocorre a partir do ponto de vista ambiental, pois não dá para discutir o problema da cana abordando somente o aspecto da queima. Desde a preparação do solo, a seleção da terra onde será feito a monocultura ou um engenho, até a eliminação dos resíduos industriais, tudo provoca problemas ambientais. É importante recordar o seguinte: no Brasil não há muita exigência sobre os riscos ambientais que os engenhos (usinas) podem provocar, e não há nenhum estudo de impacto ambiental das culturas. O governo tem o dever de pensar junto com a sociedade, uma política pública que comprometa este setor desde o início até o final da cadeia produtiva.

Por outro lado, os trabalhadores deveriam se unir numa pauta que englobe desde o trabalhador rural até o trabalhador da indústria.

 

Por último, o Presidente se mostrou preocupado com o tema da mecanização. Nós lhe respondemos que, no estado de São Paulo, o processo da colheita da cana conta 20 anos, provocando duas situações. A exclusão em massa de trabalhadores e uma maior precariedade das condições de trabalho para os trabalhadores que ficaram, porque ali se dá uma grande concorrência com a máquina. O homem é controlado pela máquina, e esta situação está levando muitos trabalhadores à morte e provocando a proliferação de doenças e acidentes.

O processo de mecanização não só não resolve o problema de saúde, como o piora.

 

Em São Paulo, Gerardo Iglesias

© Rel-UITA

1 de outubro de 2007

 

 

 

 

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Fotos:

Gerardo Iglesias

 

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