Quase
100 mil trabalhadores do setor permanecem sub-registrados ou
diretamente irregulares. A União de Trabalhadores do Turismo, Hotéis
e Gastronômicos da República Argentina (UTHGRA) tem desenvolvido um
longo e intenso diálogo com os empresários para eliminar esta
“negação da condição humana”. A paciência, contudo, tem um limite.
-Segundo os dados disponíveis, a atividade gastronômica e hoteleira na
Argentina está experimentando uma reativação perceptível. Se não há crise no
setor, por quê, então, se chega a este conflito?
-Segundo as estatísticas do próprio governo há um 56,7% de trabalhadores não
registrados, e em nosso setor se calcula que esta situação implica a um 40%
dos trabalhadores, quer dizer, umas 100 mil pessoas. Estas pessoas se
encontram em condição de miseráveis, porque não têm cobertura médica, nem
eles nem a sua família, e muito menos direito à aposentadoria. O dia de
amanhã, quando queiram se aposentar, eles terão benefícios muito magros que
não lhes alcançarão para sobreviver. Uma das modalidades utilizadas para
sonegar é fazer figurar os trabalhadores e trabalhadoras nas folhas com
quatro horas de jornada, quando na realidade estão aí 12 e até 14 horas.
Aproveitam-se da situação, especulam com as gorjetas e pagam por fora as
diferenças. Temos identificado vários estabelecimentos que incorrem nestas
práticas ilegais.
Por outra parte, e igual a outros sindicatos, estamos procurando uma
re-adequação salarial porque consideramos que nossa atividade admite neste
momento um incremento de salários, porque a reativação é clara. Segundo
cifras manejadas pelos mesmos empresários, a atividade do turismo na
Argentina equivale hoje ao 7% do PIB, isto significa mais de 9 bilhões de
dólares, enquanto que o salário mínimo de um trabalhador do setor aranha os
200 dólares. Acreditamos que é uma vergonha, uma negação da condição humana.
-Que passos se deram antes do atual enfrentamento?
-Tem se dialogado muitíssimo, tanto na presença do Ministério do Trabalho
como de forma particular com todos os empresários, mas têm se esgotadas
todas as instâncias possíveis. Agora temos montado um plano de luta que
começou hoje com a publicação de uma nota na imprensa nacional onde
explicamos nossa posição, e que continuará com mobilizações, a primeira será
na Capital Federal e se dirigirá até a Câmara Empresarial. A data será
determinada esta noite (segunda 7), e depois marcharemos até a Federação
Empresarial Nacional. Depois continuaremos tomando medidas de força como
paralisações surpresas nos estabelecimentos que não estejam cumprindo com a
lei e exploram os trabalhadores mantendo-os irregularmente. Faremos
manifestações, desmoralizações públicas e greves, convocando os meios para
assinalá-los publicamente como sonegadores e exploradores. E assim de forma
progressiva, até que, se não conseguimos cegar a um acordo, chegaremos a uma
greve com mobilização em todo o país.
-Está diminuindo a quantidade de trabalhadores não registrados?
-Pensamos que sim. No último ano integramos a 35 mil trabalhadores novos, e
pensamos que são os que têm se regularizado. Mas muitos continuam nessa
situação indefesa absoluta ante a prepotência dos empresários sonegadores.
Acreditamos que chegou o momento de passar para a ação. E isso faremos. Isto
continuará evolucionado dia após dia até que obtenhamos satisfação.
Entrevista de Carlos Amorín
© Rel-UITA
10 de novembro de 2005
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