A Central Única dos Trabalhadores, em
conjunto com as demais centrais sindicais
realiza hoje, 11 de fevereiro, o primeiro
ato de rua da Campanha Unificada pela
Redução da Jornada de Trabalho sem Redução
de Salário. A atividade acontece a partir
das 10 da manhã, na praça Ramos de Azevedo,
defronte o Teatro Municipal, no centro da
capital paulista.
Além de panfletagem,
lideranças e militantes de diversos ramos e
categorias de trabalhadores e trabalhadoras
estarão coletando assinaturas e mobilizando
pessoas que passam pelo local com
informações sobre a campanha.
“Este ato deve servir como
marco de uma ampla campanha unificada com as
centrais e, ao longo do tempo, o desafio
será incorporar também outros atores sociais”,
diz Artur Henrique, presidente
nacional da CUT. “A redução da
jornada será uma mudança significativa, que
enfrentará forte oposição. Por isso a
necessidade de uma frente de luta ampla",
ressalta. “A CUT e suas entidades
filiadas devem tomar para si a tarefa de
divulgar a campanha e conquistar apoio em
suas bases, na vizinhança, nas cidades e
regiões. A capacidade de mobilização da
CUT é muito grande, é um diferencial.
Vamos encarar essa campanha como uma
oportunidade de resgatar aquele trabalho
militante que tanto conhecemos", convoca
Artur.
Protagonismo dos trabalhadores
De acordo com o secretário-geral
da CUT, Quintino Severo, “o
protagonismo da Central na 4ª Marcha
Nacional da Classe Trabalhadora culminou
no fortalecimento da pauta da redução da
jornada e na retomada desta bandeira
histórica defendida pela CUT na unidade com
as demais centrais, configurando um novo
momento de ação, pressão e negociação neste
ano de fortes disputas políticas".
“A redução da jornada sem
redução de salários é um importante
instrumento para a criação de empregos, para
a distribuição de renda e melhoria das
condições de vida do povo brasileiro",
completa Rosane Silva, secretária de
Política Sindical.
Conforme deliberado pelas
centrais, a prioridade do momento é a
campanha de coleta de assinaturas para o
abaixo-assinado de apoio à emenda
constitucional 393/01. “Precisamos nos
mobilizar e fazer a nossa parte! O objetivo
cutista é coletar pelo menos 1 milhão de
assinaturas", ressalta Quintino Severo.
Os formulários do abaixo-assinado já estão
disponíveis na parte superior do portal da
CUT e qualquer entidade ou militante
podem baixar o arquivo, fazer cópias e somar-se
à campanha. Além disso, a CUT
nacional produziu 20 mil formulários que
estão sendo enviados às estaduais da CUT.
Após o dia 11, o desafio da
CUT será organizar mais e mais atos
em diversas regiões. Algumas idéias já estão
consolidadas. No dia 13, por exemplo, a
CUT vai realizar uma grande mobilização
diante do Congresso Nacional, em Brasília,
somando a bandeira da redução da jornada ao
ato de entrega das Convenções 151 e 158 para
ratificação.
Rosane Silva
lembra que o Dia Internacional da Mulher, 8
de março, terá incorporado entre suas
atividades um forte momento de coleta de
assinaturas, além de discutir as implicações
da redução da jornada para as mulheres. Como
no mês de março, as entidades sindicais
cutistas estarão elegendo seus delegados/as
para a Plenária Estatutária, ela acredita
que “será um momento rico para ampliar o
debate sobre a redução da jornada e
potencializar a campanha".
No mês de abril, ressalta
Quintino Severo, “a nossa meta deve ser
a organização de atos conjuntos em todas as
regiões, de grande envolvimento da
militância cutista. Também as Plenárias
Estaduais devem ser um espaço de reflexão e
debate da campanha".
Saúde
Para o presidente do
Instituto Nacional de Saúde, Trabalho e Meio
Ambiente (INST), Siderlei de
Oliveira, que também preside a
Confederação Nacional dos Trabalhadores nas
Indústrias da Alimentação (Contac/CUT),
“Além de
possibilitar a abertura de novas vagas, uma
jornada menor poderá resultar em melhores
condições de saúde e segurança no trabalho,
principalmente se houver uma limitação ao
abuso de horas extras".
Pelos cálculos do
Departamento Intersindical de Estudos
Socioeconômicos (DIEESE), “a redução
da jornada de trabalho de 44 para 40 horas
semanais teria o impacto potencial de gerar
em torno de 2.252.600 novos postos de
trabalho no país".
“É claro que para
potencializar a geração de novos postos de
trabalho, a redução da jornada de trabalho
deve vir acompanhada de medidas como o fim
das horas extras e uma nova regulamentação
do banco de horas", esclarece o DIEESE.
Desta forma, “se impediria as empresas de
compensar os efeitos de uma jornada menor de
outra forma que não com a contratação de
novos trabalhadores. Esse conjunto de
medidas é necessário porque a contratação de
novos trabalhadores tem sido, em geral, a
última alternativa utilizada pelos
empresários, com a adoção de outros métodos
que acabam por impedir a geração de empregos".
Conforme o DIEESE, o
que existe hoje é uma realidade de extremos:
“De um lado, muitos estão desempregados e,
de outro, grande número de pessoas trabalha
cada vez mais, realizando horas extras e de
forma muito mais intensa devido às inovações
tecnológicas e organizacionais e à
flexibilização do tempo de trabalho". Desta
forma, “o desemprego de muitos e as longas e
intensas jornadas de trabalho de outros têm
como conseqüência diversos problemas
relacionados à saúde como, por exemplo,
estresse, depressão, lesões por esforço
repetitivo (LER). Aumentam também as
dificuldades para o convívio familiar, que
tanto podem ter como causa a falta de tempo
para a família, como sua desestruturação em
virtude do desemprego de seus membros".
Assim, “se, do ponto de vista
social, fica evidente a necessidade da
redução da jornada de trabalho, também é
sabido que a economia brasileira hoje
apresenta condições favoráveis para essa
redução uma vez que: a produtividade do
trabalho mais que dobrou nos anos 90; o
custo com salários é um dos mais baixos no
mundo; o peso dos salários no custo total de
produção é baixo; o processo de
flexibilização da legislação trabalhista,
ocorrido ao longo da década de 90,
intensificou, significativamente, o ritmo do
trabalho".
Sobrevivência
Ao longo da história,
esclarece o DIEESE, a luta pela
redução do tempo dedicado ao trabalho teve
diversos focos. “Num primeiro momento foi
uma luta pela sobrevivência. Depois, durante
um longo período, o objetivo era mais tempo
livre, ou seja, a conquista de uma vida
melhor. Hoje a redução da jornada de
trabalho tem como objetivo a luta contra o
desemprego, o que significa um retrocesso em
termos históricos, porque se volta à luta
pela sobrevivência. Na década de 90, no
Brasil, e em quase todo o mundo, a
flexibilização e desregulamentação dos
direitos dos trabalhadores levaram à
deterioração crescente e contínua do mercado
e das condições de trabalho".
Os sinais mais evidentes
deste processo foram: “o aumento do
desemprego e da informalidade; a queda da
remuneração; o aumento do número de estágios;
a crescente terceirização, entre vários
outros. Estes fatos trazem a necessidade de
um esforço em direção à mudança".
“No Brasil, a taxa de
desemprego –ainda que atualmente esteja em
queda– tem níveis elevados desde a década
passada. Quanto aos salários, a situação não
é muito melhor", demonstram os estudos do
DIEESE, lembrando que “os rendimentos,
que sofreram forte redução na década de 90,
apresentam apenas uma recuperação tímida nos
últimos anos. No caso das mulheres e dos
jovens, a situação é mais grave ainda, pois
as taxas de desemprego para estes grupos são
bem superiores à média em todas as regiões
pesquisadas".
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