PF prende líder rural
por
extração
ilegal de madeira
Libertado com habeas-corpus, o presidente da Feraesp,
Élio Neves, se diz inocente, aponta arbitrariedade e
denuncia pressão política.
A Polícia Federal prendeu no dia 9 em Araraquara,
SP, por determinação da Justiça, o sindicalista Élio
Neves, 49, presidente da Feraesp (Federação dos
Assalariados Rurais do Estado de SP), por extração e
venda ilegal de madeira da Estação Experimental de
São Simão.
Neves teve prisão temporária de cinco dias pedida
pelo Ministério Público Estadual e concedida pelo
juiz Fábio Evangelista de Moura, de São Simão.
Libertado às 21h do mesmo dia, com habeas-corpus, o
sindicalista denunciou a arbitrariedade da prisão e
da apreensão de documentos na sede da entidade. A
área, de 2.700 alqueires, está ocupada há dez anos
por cerca de 170 famílias ligadas à Feraesp.
O sindicalista é cortador de cana e presidente da
Feraesp desde sua criação, em 1989. Historicamente a
entidade enfrenta a pecarização do trabalho no corte
da cana-de-açúcar e faz denúncias em âmbito nacional
e internacional da mortes por exaustão. Tem também
colocado em pauta a reforma agrária como alternativa
|à monocultura da cana.
"Intimidação"
Em entrevista ao Observatório Social, Élio Neves
atribui sua prisão a uma tentativa política de
intimidação por "agentes públicos e possivelmente
até de órgãos do governo estadual, para tentar se
livrar de atos ilegais que praticaram". Disse que em
São Paulo há várias fazendas plantadas com pínus e
eucalipto pelo governo do estado em parceria com
empresas privadas. "Pleiteamos o assentamento de
trabalhadores rurais e em algumas já conseguimos -
aí vem o contragolpe".
O dirigente sindical afirma que já havia derrubada
ilegal de madeira antes das ocupações dos
trabalhadores rurais: "Criou-se uma quadrilha de
bandidos lá dentro, que nada tem a ver conosco. Uma
coisa boa é que a Polícia Federal vai ter a
oportunidade de verificar isso quando examinar nossa
contabilidade apreendida. Se o juiz tivesse pedido
nós teríamois mostrado".
Ele comparou sua prisão aos atos da ditadura
militar: "Não existe processo, mas se quiserem abrir
estamos tranqüilos - vamos nos defender e mostrar
que a Feraesp e seu presidente nunca tiveram
qualquer envolvimento em atividades criminosas e
jamais apoiaram exploração ilegal de madeira". O
advogado da Feraesp, Flaviano Rodrigues, disse que
houve arbitrariedade: "O mandado de prisão é o mais
vago possível, não traz uma única informação sobre
os motivos da detenção", disse.
"É uma prisão política e absurda. Como alguém é
preso para averiguação se tem família e endereço
fixo? Fizemos uma moção de repúdio", disse Edivar
Lavratti, um dos coordenadores estaduais do MST
(Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra). No dia da
prisão, mais de 80 pessoas, a maioria do MST,
fizeram uma vigília de quatro horas em frente à PF
de Ribeirão Preto, para onde Neves foi levado.
Operação Pinóquio
Outras oito pessoas continuam presas, sob acusação
de degradarem o meio ambiente. A prisão de Neves foi
o desdobramento da Operação Pinóquio, desencadeada
pela PF e pela Promotoria em dezembro. Policiais e
promotores estiveram três vezes na área para prender
suspeitos e destruir fornos.
O delegado da PF responsável pelo caso, Fernando
Augusto Battaus disse ao Observatório Social que o
inquérito vai ser concluído no prazo de uma semana,
e que antes disso não pode dar mais informações.
Para o promotor Tiago Cintra Essado, autor do
pedido, a necessidade da prisão temporária é
incontestável. "Temos testemunhas que o colocam
[Neves] como a pessoa que ordenava a extração ilegal
de madeira. A detenção é importante para que ele não
pressione [testemunhas] nesse momento da
investigação", afirmou.
O promotor disse que Neves é suspeito de planejar a
derrubada das árvores restantes e atear fogo na área
para facilitar a reforma agrária no local.
Observatório Social*
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Com informações do MST, FolhaPress, Jornal A Cidade
(Ribeirão Preto) e Estado de São Paulo.
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