A queda nas
exportações de frango, decorrente do avanço da gripe aviária, faz a
indústria avícola brasileira reduzir a produção e anunciar férias coletivas
e individuais, informou a Contac (Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Alimentação), da CUT (Central Única dos Trabalhadores). Segundo a Contac, a
retração no mercado aponta para o risco de desemprego em massa no setor e,
de acordo com a central sindical, a situação atual indica a possibilidade de
uma brusca interrupção na produção a partir da metade do mês de abril.
Segundo o
presidente da Contac, Siderlei Silva de Oliveira, com a redução da produção
e do alojamento das aves, que têm ciclo de 45 dias desde o momento em que
nascem até serem levadas para o abate, fábricas serão paralisadas para
evitar que os preços caiam no mercado interno. "Isso está acontecendo porque
a Europa e a Ásia reduziram o consumo de frango e esse produto que não está
sendo exportado terá que ser desovado no mercado interno nacional. Para
evitar que a queda de preço aconteça, as fábricas estão paralisando",
explicou.
Oliveira
afirmou que todas as empresas já anunciaram férias coletivas e algumas já
iniciaram demissões. "Aquelas que tinham turnos extras já começaram a
demitir". Mas ele destacou que o problema maior virá quando faltarem aves
para abate. Segundo ele, as fábricas estão abastecidas com o frango que não
foi exportado, mas sem ave para abater, a fábrica pára de trabalhar. "Nesse
momento vai faltar o emprego. Estamos levando ao governo a necessidade de
garantir o seguro desemprego para esses trabalhadores que vão sofrer pelo
tempo que perdurar a crise".
No próximo
dia 28, Contac e a CUT irão à Brasília para uma reunião com os ministérios
do Trabalho e da Saúde para levar as reivindicações dos trabalhadores do
setor. Entre as reivindicações estão a participação dos trabalhadores no
grupo interministerial sobre gripe aviária, garantia do seguro desemprego
durante a crise, criação de um fundo emergencial para alavancar o setor em
épocas de crise, vacinação e oferta de remédios para os trabalhadores,
aquisição de equipamentos de proteção e anti-contaminação, com fiscalização
e análise periódica da saúde dos funcionários, formação de equipes técnicas
24 horas de plantão e contratação e credenciamento de laboratórios próximos
às regiões produtoras.
Segundo
Oliveira, o país não está se preparando adequadamente para a possível
chegada da gripe aviária ao país. "Até esses técnicos chegarem ao local
afetado, as aves já estão mortas e em decomposição, sem condições para serem
examinadas. Isso não é responsabilidade só do governo federal, mas também
dos governos estaduais e municipais".
O
presidente da Contac enfatiza que, por ser campeão mundial de exportação de
frango, o Brasil precisa estar preparado, com equipes técnicas próximas dos
locais onde há criações, transporte rápido, além de vacinas e equipamentos e
uniformes adequados para os trabalhadores que manuseiam as aves. "As bases
aéreas terão que liberar seus helicópteros, as equipes deverão estar à
disposição 24 horas para se deslocarem rapidamente e os trabalhadores devem
estar treinados para atacar os focos".
"Se a
doença chegar nos aviários brasileiros", disse Oliveira, "vai colocar em
risco toda a população que reside próxima a esses locais. Se a doença não
chegar, vamos nos orgulhar e dizer que estávamos preparados. Mas hoje, se a
doença chegar, vai nos pegar despreparados".
Da Agência
Brasil
Diário do
Grande ABC
23 de março
de 2006