Missão ICM de verificação da situação
sindical
no Panamá e Expressão de solidariedade
com o sindicalismo panamenho
Cidade do Panamá,
24 - 26 de agosto de 2010
Introdução
A
Internacional dos Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM), organização
sindical internacional composta por mais de 300 sindicatos de 135 países a nível
mundial e uma participação ativa de mais de 13 milhões de trabalhadores, tem
acompanhado atentamente os acontecimentos recentes que
violam a
Liberdade Sindical, Negociação Coletiva e Direito à Greve, ocorridos na
República do Panamá, e que deram origem a manifestações de descontentamento por
parte dos movimentos sociais, organizações sindicais e da população em geral,
tanto nacional como internacionalmente.
Estes acontecimentos tiveram um saldo trágico,
como a morte de pelo menos cinco pessoas e centenas de feridos; 56 deles
perderam a visão em um olho e dois deles ficaram completamente cegos.
Foram mais de 100 detidos em Changuinola,
Província de Bocas del Toro, Cidade de Colón e Panamá, no começo de julho.
Não há
números oficiais para esta situação, apesar das
evidências, dos relatos, dos depoimentos, das imagens de televisão e da mídia
impressa.
A Missão é liderada por
Albert Yuson,
secretário-geral da ICM, e integrada por
Carlos Salguero,
representante regional da ICM,
Fiona Murie diretora
global de Saúde no Trabalho da ICM, Gerardo Martinez,
vice-presidente da ICM; Oscar Valverde,
observador da OIT;
Fernando Serrano da
FECOMA-CCOO
da Espanha;
Jean Voets,
secretário de Assuntos Internacionais
do ACV BIE da
Bélgica,
Genaro López,
secretário-geral do SUNTRACS do Panamá; Pablo Arosemena,
da CTRP do Panamá, Gerardo Iglesias, secretário regional e
Bernabel Matos da
UITA. Também
presentes, Raúl Requena,
secretário regional da UNI e Alberto Barrow,
diretor regional desta organização internacional.
A Missão estabeleceu
metas para verificar no terreno, junto às organizações sindicais panamenhas, a
situação sindical após as manifestações de julho, expressando clara
solidariedade ao movimento sindical, dando ciência às autoridades trabalhistas,
judiciais, governamentais
e empresariais da preocupação do movimento sindical internacional com relação à
situação sindical no Panamá.
A Missão também prestou apoio
ao trabalho de organização dos sindicatos nas obras de ampliação do Canal do
Panamá, em especial dentro do consórcio Grupo Unidos pelo Canal (GUPC).
Depois de uma movimentada agenda de três dias,
a Missão conseguiu fazer uma visita de campo nas obras de ampliação do Canal na
parte do Atlântico e se reuniu com as empresas que integram o consórcio Grupo
Unidos pelo Canal (Impregilio, Jean de Nul, CUSA e Sacyr). Além disso, tiveram
reuniões com o Secretário-Geral da Defensoria do Povo, com o Presidente da
Assembléia Nacional, com o vice-administrador da Autoridade do Canal do Panamá,
com o Presidente e Magistrados da Corte Suprema da Justiça, e com o movimento
social panamenho. A reunião confirmada pela assessoria da Ministra de Trabalho e
Desenvolvimento Trabalhista, marcada para as 10:00 da manhã da quinta-feira 26
de agosto, não ocorreu porque a titular não compareceu, sem qualquer aviso
prévio. A Missão inteira qualificou esta situação como uma afronta que não se
coaduna com as práticas diplomáticas sérias.
Em seguida, a Missão se
reuniu com representantes das organizações sindicais panamenhas CONUSI, CTRP,
Convergência Sindical, organismos representativos da sociedade civil e
sindicatos irmãos.
Em Changuinola, a Missão se
reuniu com o SITRAIBANA, que reúne trabalhadores nas plantações de banana, em
sua grande maioria vinculados à transnacional Chiquita Brands.
A Missão também trocou
opiniões com vários atores sociais sobre a entrada em vigor das leis 14 e 30,
bem como sobre outras disposições legais que causaram as manifestações de
insatisfação por parte da população. As várias conclusões a que chegaram foram:
Conclusões
1. Foi
levada às empresas integrantes do consórcio Unidos pelo Canal, a proposta de uma
solução imediata para as reivindicações dos trabalhadores nas obras de ampliação
do canal, entre elas: o acesso à obra pelos representantes sindicais
credenciados, o reconhecimento da liberdade de associação, o direito
às formas organizativas dos trabalhadores, a negociação coletiva e facilitação
do pagamento das contribuições sindicais por meio do
desconto direto, bem como a reintegração imediata dos 44 trabalhadores demitidos
devido às suas atividades sindicais nas obras de ampliação.
2. Alertou-se
para o clima e atos de hostilidade das autoridades trabalhistas, da polícia e
dos empresários com os trabalhadores e seus representantes, tanto nas agressões
de Changuinola, Província de Bocas del Toro, Cidade do Panamá e Colón, como
também nas detenções arbitrárias e no processamento penal ilegal
dos seus dirigentes sindicais, solicitando o fim dessas ações,
totalmente contrárias à resolução
da OIT relativa aos Direitos Sindicais e sua relação com as liberdades civis.
3. Depois de
analisar a Lei 14 e a Lei 30, recentemente aprovada, a Missão transmitiu às
autoridades e seus respectivos organismos a forma e o conteúdo antissindical e
antissocial dessas leis, e preveniu sobre o agitado ambiente que pode gerar
confrontações e mal-estar na população e nos trabalhadores, instando-os à
revogação total de tais disposições. Os fatos assinalados nos pontos anteriores
e o impacto destas referidas leis representam uma clara violação dos convênios
87 sobre a Liberdade Sindical e 98 sobre o Direito à Negociação Coletiva da OIT.
4. Também
destacou-se a preocupação do movimento sindical e da comunidade internacional
com relação ao desempenho recente das instituições democráticas do Panamá,
evidenciando que não é coerente com os valores e princípios democráticos
estabelecidos em sua constituição.
5. Destacou a
ligação direta da assistência técnica e financeira das instituições
internacionais com a concessão de créditos aos países beneficiários e, também,
o estabelecimento de relações trabalhistas saudáveis e transparentes, o que não
está acontecendo no Panamá, especificamente no caso das obras de ampliação do
canal, devido às suas dimensões.
6. Alertou-se
também sobre o dano que estes acontecimentos causam na imagem internacional do
país, o que não contribui em nada para melhorar as relações comerciais do Panamá
com os outros países e blocos econômicos, aliás uma parte importante do programa
de governo.
7. Embora haja
uma Mesa de Diálogo entre governo e sindicatos, organismos representativos da
sociedade civil e o movimento social, esta não tem sido suficiente para aplainar
o caminho e alcançar uma solução real. De fato, tem sido uma forma de
postergação e não de diálogo, porque os fatos que deram origem à situação de
conflito são os mesmos.
8. A Missão
apoia as reivindicações que o
CONATO, CONUSI e SUNTRACS
apresentaram à OIT, com o aval da
ICM, esperando uma solução rápida e afinada com a justiça. Garantimo-nos de que
este assunto seria tratado em novembro com os nossos representantes e vínculos
em todos os níveis e, para isto, atuaremos na sede em Genebra. Além disso,
garantiremos que os nossos filiados, atingidos por este conflito no Panamá,
sejam representados não só na Reunião do Conselho de Administração, como também
no Comitê de Liberdade Sindical; e
9. A
Missão é uma comissão que irá acompanhar e monitorar de perto a evolução futura
da situação no Panamá, oferecendo o apoio e o acompanhamento que os nossos
companheiros e companheiras panamenhos necessitam em tempos tão difíceis, e
tentará viabilizar uma campanha sindical Internacional de solidariedade.
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