Se os novos dados sobre contaminação de
alimentos por agrotóxicos, divulgados ontem
pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária preocupam os consumidores, o
perigo é ainda maior para quem trabalha nas
lavouras. O risco de toxicidade para os
trabalhadores rurais é apontado no relatório
do Programa Nacional de Análise de Resíduos
de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) e
reconhecido pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (CONTAG).
"O produtor é quem se contamina primeiro",
afirma o secretário de Assalariados e
Assalariadas da CONTAG, Antônio
Lucas. Segundo ele é grande freqüência
de casos de contaminação por agrotóxicos
recebidos em sindicatos e associações de
trabalhadores de todo o país. "E não é só no
caso de hortaliças. A gente encontra na
cana-de-açúcar e em outras lavouras,
principalmente durante o plantio e na
preparação para a colheita", acrescenta.
O representante da CONTAG argumenta
que a responsabilidade da proteção da saúde
do agricultor cabe ao patrão, mas reconhece
que nem sempre as convenções trabalhistas
chegam às lavouras. "A lei obriga o
treinamento, os Equipamentos de Proteção
Individual e a realização de exames médicos
periódicos. Têm previsão legal e multa para
quem não cumprir, mas a gente sabe que a
realidade do Brasil é complicada".
No caso de tomate, alface e morango,
produtos que apresentaram os maiores índices
de contaminação em 2007, Lucas reconhece
que uma parte significativa da produção vem
de pequenas propriedades. Nesses casos, a
estratégia da CONTAG é orientar os
produtores para a adoção de novas técnicas
agrícolas, como a utilização de defensivos
alternativos e a produção orgânica.
"Mas isso é complicado pelo seguinte: você
faz uma campanha e diz que isso [o
agrotóxico] é proibido e que não se pode
usar esses produtos. A pergunta é sempre a
seguinte: o que nós devemos usar no lugar do
veneno?", relata Lucas, ao questionar
a falta de incentivos e políticas públicas
para orientar e facilitar o acesso do
pequeno produtor a técnicas alternativas aos
agrotóxicos químicos.
O coordenador do Departamento de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Ministério do
Desenvolvimento Agrário, Francisco
Caporal, admite "algumas carências em
alguns cultivos, no sentido da substituição
de insumos tradicionais, agrotóxicos, por
outros tipos de controle", mas argumenta que
já existem experiências de produção orgânica
em quase todos os cultivos.
"Estamos capacitando técnicos e produtores
para que possam fazer uma transição de
sistemas tradicionais para agricultura de
base ecológica e as experiências se
multiplicam no Brasil inteiro",
afirma Caporal.
Além da atuação mais presente das equipes de
assistência técnica e da liderança dos
agricultores, Caporal defende a
informação como uma das ferramentas para
evitar prejuízos à saúde com os resíduos de
agrotóxicos.
"Precisamos de um trabalho de
conscientização de agricultores sobre os
efeitos nocivos dos pesticidas agrícolas. E
também esclarecer aos consumidores da
necessidade de escolher produtos com menor
possibilidade de contaminação e isso já é
possível nas feiras, nas CEASAS (Centros
de Distribuição),
supermercados".
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