O
resumo da novela é este: o país se torna cada vez mais rico e,
ao
mesmo tempo, cada vez mais pobre
No ano passado o
País ganhou 60 mil novos milionários.
Isso é bom. Significa que a coisa está dando certo para milhares de
pessoas. Significa que mais gente tem demonstrado competência para
trabalhar para o capital, capitalistas que são dele funcionários,
que o fazem multiplicar-se. Milionário, conforme me explicaram, é
quem tem mais de um milhão de dólares investido, isto é, dinheiro
que ganha dinheiro sem trabalhar, mas que precisa de quem trabalhe
para ele. No
ano de 2007, o número de milionários no Brasil pulou de 130 mil para
190 mil, 46,1% em um ano, segundo a Folha de S. Paulo, 0,1% dos
brasileiros.
Mas, se isso é bom, também pode ser ruim, pois não está claro como
tantos puderam se tornar milionários de modo tão fácil, sobretudo
sendo jovens, quando muitíssimos mal conseguem o pão nosso de cada
dia.
Outra notícia foi a de que 20 milhões de brasileiros pularam das
classes D/E para a classe C, passando da categoria de miseráveis
para a de pobres. Isso parece bom. Um especialista demonstrou que
bastaria conceder R$ 10 (US$ 5) a cada miserável por mês para que
não houvesse mais miseráveis no Brasil. Em dinheiro, é muito
pouco, mal dá para o feijão dos 30 dias. Mas promoveria um salto nas
estatísticas sociais, ainda que ilusório, um pulo do nada para nada
e pouco.
A mobilidade desses 20
milhões de brasileiros resulta da combinação de crescimento
econômico com assistencialismo sem desenvolvimento, especialmente o
Bolsa-Família. Isso, então, é ruim: alivia a miséria do momento, mas
não assegura um destino de efetiva inserção nos benefícios da
economia. O dia-a-dia melhora um pouco, mas a vida continua sem
perspectiva.
Em 2007, foram criados
1,6 milhão de empregos com carteira assinada, número 31% maior do
que no ano interior.
Isso é bom, porque representa relação de trabalho menos precária,
mais segurança para quem trabalha.
Mas o padrão salarial
ficou pior do que nos anos oitenta, quando já era baixo em relação
aos anos sessenta. Isso, pois, é muito ruim porque confirma que,
pela segurança do emprego estável, as pessoas estão se conformando
com salários menores e vida pior.
O resumo da novela é
este: o país se torna cada vez mais rico e, ao mesmo tempo, cada vez
mais pobre.
Quanto mais
o governo fala no social, mais prospera o privado; quanto mais fala
no trabalho, mais cresce o capital.
Isso é o que se chama de contradição social, a contradição
constitutiva do tipo de sociedade que temos. Política é a
competência para resolvê-la e superá-la. Quando não há competência
política, não há futuro. Há apenas programas sociais, que de
conjunturais se tornam permanentes.
Um purgatório que
disfarça o inferno da pobreza que renasce a cada passo, que muda de
nome, mas não muda a vida.
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