O 
	agronegócio brasileiro é responsável por cerca de 1/3 do produto interno 
	bruto do Brasil. O segmento emprega 38% da mão de obra e é responsável por 
	36% das importações. Em suma, é hoje considerado o setor mais importante da 
	economia nacional. Apesar dos valores, está longe de ser uma unanimidade. 
	Muito pelo contrário. Já foi apontado como fonte de trabalho escravo, 
	destruição ambiental e extermínio cultural. Agora, no mais recente 
	levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Mato Grosso aparece na 
	liderança no “ranking” da grilagem de terras. De novo, reflexo desse 
	segmento que tem no governador Blairo Maggi o seu maior representante.
	
	
	Mato Grosso tem o maior índice de grilagem de terra no Brasil, com um índice 
	de 6,71%. Ganhou do Estado do Pará, com 5,15%; Goiás, com 2,92%; e 
	Tocantins, com 2,82%. Ao relacionar o número de conflitos e de violência com 
	os dados da população rural, o relatório da CPT mostra como as ocorrências 
	são significativamente maiores nas regiões onde prospera e se expande o 
	agronegócio.
	 
	
	
	Durante a conferência "Transformações socioambientais no Mato Grosso", 
	realizada em em junho, último dia do III Festival Ecológico e Cultural das 
	Águas de Mato Grosso, em Alta Floresta, o professor de Geografia Agrária da 
	Universidade de São Paulo (USP), Ariovaldo Umbelino de Oliveira, afirmou que 
	o problema fundiário no Mato Grosso não só continua em aberto como também 
	segue influenciando de forma decisiva a dinâmica do desmatamento no Estado - 
	campeão nacional no corte indiscriminado da floresta. Mais do que isso, 
	Umbelino aponta que cerca de 90% dos títulos de terra na região não 
	resistiriam a uma investigação jurídica mais aprofundada.
	 
	
	
	O pesquisador explicou que Mato Grossoo tem 22 milhões de hectares de terras 
	devolutas e algo entre dois e três milhões de hectares em propriedades do 
	Incra, que estão todas cercadas e ocupadas. Ele explica que muitas dessas 
	áreas estão localizadas no "coração" do agronegócio, nos municípios de 
	Primavera do Leste, Lucas do Rio Verde e Sorriso, situados no nordeste 
	mato-grossense.
	 
	
	
	Ariovaldo avalia ainda que o problema ambiental no Mato Grosso decorre do 
	próprio modelo de ocupação e de propriedade imposto pelo agronegócio. Por 
	outro lado, defende também uma ação mais agressiva do governo federal no 
	Mato Grosso tanto para coibir os crimes ambientais quanto para garantir o 
	direito à terra das comunidades locais, priorizando populações indígenas, 
	quilombolas e trabalhadores rurais sem terra.
	 
	
	
	O tripé grilagem, indústria madeireira e pecuária continua sendo o mais 
	significativo vetor para a expansão do desmatamento no Mato Grosso.A rigor, 
	os problemas ambientais no Estado são graves e têm como pano de fundo as 
	irregularidades fundiárias que perpassam todo o Mato Grosso, com anomalias 
	tais como: descrição imprecisa, duplicidade de títulos, falta de averbação 
	de reserva legal, obscuridade nas transferências de terras do Estado para 
	particulares, valores subestimados nas transferências entre particulares e 
	entre esses e o estado, etc.
	 
	
	
	“A região norte do Estado tem sido vítima prioritária nesses últimos anos, 
	como nas demais regiões do Estado outrora, essa região vem sofrendo, a pelo 
	menos três décadas, grande assédio por parte das colonizadoras e grandes 
	produtores agropecuaristas e que têm o objetivo de transformar essas áreas 
	em pólo produtor de grãos, utilizando-se da madeira extraída, ilegalmente, 
	como capital inicial em seus empreendimentos” – diz Adamastor Martins de 
	Oliveira, consultor ambiental.
	 
	
	
	Adamastor lembra que a grande maioria das colonizadoras e dos grandes 
	produtores agropecuaristas obteve os títulos do estado de Mato Grosso, 
	através de projetos de colonização, formados contando com listas de nomes de 
	famílias aliciadas, contratadas e recrutadas como laranjas, no centro sul do 
	país (principalmente nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do 
	Sul) e em seguida, com procurações de plenos poderes desses laranjas, o 
	"colonizador" transfere as porções todas, ficando como único proprietário de 
	toda a colônia (milhares de hectares), devolvendo em seguida, todos esses 
	colonos laranjas, para os estados de origem, pois a vinda deles era apenas 
	para possibilitar a assinatura dos documentos em cartório. "Muitas dessas 
	famílias, sabemos, às vezes enganadas, fixarem moradia em Mato Grosso e 
	contribuíram para criar os grandes bolsões de pobreza nas maiores cidades do 
	Norte do Estado" - ele frisou.
	
	
	Amazonia.org
	
	
	18 de dezembro de 2006