Brasil

 

Moratória da soja no Brasil foi prorrogada

 

Apesar dos solavancos dos últimos meses, a moratória da soja foi

finalmente prorrogada pelo período de um ano.

 

Segundo o acordo, as maiores traders que operam no país se comprometem a não comprar o grão advindo de áreas desmatadas na Amazônia, tomando como base 2006, quando o compromisso foi assinado.

O período de um ano foi considerado curto, mas a boa notícia, segundo os grupos ambientalistas, é a participação do governo federal nesse processo.  O ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, afirmou que irá priorizar os cadastros de propriedades rurais voltadas para a soja - o que requer o georreferenciamento por satélite, condição fundamental para o cumprimento da legislação ambiental.

 

"Tínhamos chegado a um gargalo na moratória porque não temos o mapeamento das propriedades", explica Paulo Adário, diretor da campanha Amazônia do Greenpeace.  "Como a indústria vai cobrar (do proprietário) se ele não está identificado no mapa?  Sem cadastro não tem política pública para a Amazônia", disse Adário, ecoando uma percepção generalizada entre as organizações ambientais e evitando, assim, possível racha dentro do grupo.

 

Durante a cerimônia, Minc afirmou que deseja assinar moratórias nos mesmos moldes com o setor madeireiro e de gado e voltou a prometer punição aos sojicultores que romperem as regras.  "Vamos traçar uma fronteira clara entre a legalidade e a ilegalidade.  Quem plantar ilegalmente vai sentir a mão pesada do Ibama e da Polícia Federal", disse.

Em dois anos de vigência, a moratória conseguiu conter parte do desmatamento na maior floresta tropical do mundo para o plantio de soja.  Se não fosse ela e com o preço da soja nas alturas, dizem os signatários, a situação seria pior.

 

Mesmo assim, apesar de toda a pressão, 47 mil hectares no bioma foram derrubados desde 2006.  "Detectamos desmatamentos, mas não havia um pé de soja nessas áreas", afirmou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovateli, durante a cerimônia.

 

Não detectaram ainda, e aí está um dos desafios para o próximo período do acordo: o comprometimento da indústria em tempos de soja cara e alta demanda internacional pelo grão.  Segundo Adário, do Greenpeace, derrubaram a mata e "não foi para plantar tulipas".

Uma das explicações é que o plantio de soja nem sempre se dá imediatamente depois do desmatamento - é necessário um tempo para preparar a terra.  Outra é que os produtores poderiam estar esperando novos desdobramentos na "guerra" ambiental protagonizada pelo governo do Mato Grosso (para quem a guinada no desmatamento deve ser responsabilizada pelos assentamentos e rituais indígenas) e o governo federal.  Os sojicultores também estariam aguardando a anulação, proposta pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), da obrigatoriedade de georreferenciamento nas propriedades, determinada pelo decreto presidencial nº 6.321, de dezembro.  Sem esse mapeamento, cortar uma árvore sem punição é quase certo.

 

"Na minha percepção, os produtores acreditaram que a regra do jogo ia mudar e que a moratória se tornaria irrelevante", diz Adário.  "Ou até que não fosse continuar."

 

O sucesso da moratória, portanto, está em grande parte nas mãos de grupos como Cargill, Bunge, ADM, Louis Dreyfus e Amaggi, responsáveis pelo esmagamento e comercialização de 90% da soja produzida no país.  Procurado, o presidente da Abiove não retornou os pedidos de entrevista do Valor.

 

Segundo o Greenpeace, a chamada Aliança de Empresas Consumidoras Européias, liderada pelo McDonald´s e o Carrefour, divulgou um comunicado de apoio à iniciativa brasileira, se comprometendo a continuar engajada no processo.  No Brasil, Sadia, Wal-Mart e Yoki apoiaram o comunicado, conforme a ONG.

 

Bettina Barros

Amazônia.org

26 de junho de 2008

 

 FOTO: madrimasd.org

 

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