Brasil              1º Encontro Estadual de Reforma Agrária

Com Elio Neves

Construir uma nova relação entre os seres

humanos e destes com a natureza

 

Entre os dias 14 e 16 de Janeiro na cidade de Araraquara, a Federação de Empregados Rurais e Assalariados do Estado de São Paulo (FERAESP) - que completa 20 anos em 2009- comemora o “1º Encontro Estadual de Reforma Agrária. O Sirel dialogou com Elio Neves, presidente da Federação, quem nos forneceu detalhes sobre a atividade.

 

-Qual é o propósito deste Encontro?

-Sendo uma organização de trabalhadores que atuam na produção da energia da vida, como é o caso dos alimentos em seu primeiro estágio de transformação, a FERAESP se sente no dever de buscar propostas de atuação para seus membros, seus quadros e também  para a sociedade, com o propósito de construir una nova relação entre os seres humanos e a natureza.

 

O atual sistema de produção e consumo está demonstrando que caminha rumo à catástrofe. É o caso das grandes crises ambientais como as que estamos tendo no Brasil onde, por exemplo, recentemente o estado de Santa Catarina sofreu inundações inéditas, terríveis, enquanto que no vizinho estado do Rio Grande do Sul ocorre uma seca histórica há meses. No próprio estado de São Paulo há regiões inundadas e outras com seca. O Brasil vive uma crise de instabilidade climática como nunca se viu.

 

Outro exemplo dessa catástrofe é a grande crise financeira internacional; estamos assistindo a demissões em massa em grandes empresas e à dissolução de importantes grupos empresariais. O fato é que a FERAESP sente que deve refletir de forma profunda sobre tudo isto não só para encaminhar a nossa própria ação, como também para colaborar dando o nosso grão de areia às organizações fraternas e à sociedade porque, da forma como as coisas estão indo, a humanidade caminha para um abismo.

Devemos trabalhar para alcançar uma relação com o emprego e com a natureza na qual o cerne não seja a exploração do homem pelo homem nem a superexploração dos recursos naturais.

 

-No texto da FERAESP no qual se fundamenta o Encontro, é mencionada uma mudança na relação atual entre o trabalhador assalariado e a terra. Seria possível ampliar esta idéia?

-A relação criada pelo emprego já demonstrou que só atende às necessidades do capital explorando o trabalhador como tal e também como consumidor. O trabalhador é quem termina pagando pelos danos de qualquer crise. O capital, portanto, sempre encontra formas de se reproduzir criando multidões de miseráveis, de pobres não só materiais, mas também culturais. Este Encontro pretende reunir toda a reflexão feita na FERAESP junto aos assentamentos criados pela nossa organização em seus 20 anos de existência. Acreditamos que devemos trabalhar para alcançar uma relação com o emprego e com a natureza na qual o cerne não seja a exploração do homem pelo homem nem a superexploração dos recursos naturais.

 

O que vamos debater neste Encontro –e cada vez mais também em nosso cotidiano- é como perseguir uma relação justa, pois reproduzir o modelo patronal de produção é reproduzir o fracasso e cultivar o que, essencialmente, devemos negar e combater.

 

-É uma abordagem muito renovadora…

-Talvez digam que se trata de uma utopia inalcançável, mas se não sonharmos, não atuarmos, não trabalharmos organizadamente, coletivamente, se não tivermos a coragem de refletir de forma mais profunda e de abandonar alguns conceitos que o capital nos impõe, principalmente nos últimos séculos, então não teremos como sair destas encruzilhadas nas quais nós trabalhadores nos encontramos. Mas a humanidade existe há muito mais tempo sobre a face da Terra, e é necessário buscar em nós mesmos, em nossa experiência histórica, a saída que com certeza temos.

 

-Vocês também mencionam a construção de uma relação nova e justa com os consumidores.

-Os trabalhadores estão nas duas pontas, porque somos produtores e consumidores, porque também compramos bens e serviços. Em um marco diferente de organização do trabalho não podemos ser exploradores de nós mesmos. Estamos discutindo formas de organização, com muita paciência e maturidade, estamos pensando na maneira de desenvolver mecanismos, formas organizativas de produção para aproximar cada vez mais os trabalhadores entre si. Temos que redescobrir o que significa ser classe trabalhadora e como entre nós, no exercício de uma liberdade democrática, criamos nossas próprias oportunidades. É uma tarefa que compete a nós mesmos, não temos que ir pedir nada ao Estado ou ao governo; temos que abrir nosso espaço e caminhar.

 

-Como é a estrutura da FERAESP atualmente?

-Damos assistência a cerca de 3 mil famílias assentadas em todo o estado de São Paulo, distribuídas em 50 núcleos de assentamento. Reunimos 70 sindicatos filiados em 200 municípios. Para este Encontro esperamos a participação de 600 delegados de base.

 

 

En Montevideo, Carlos Amorín
Rel-UITA
19 de enero de 2009

 

 

 

Fotocomposición: Rel-UITA

 

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