Brasil - Curitiba

 

Transgênicos contaminam lavouras no PR

 

 

Produtores de alimentos orgânicos no Paraná denunciam que seus cultivos estão sendo contaminados por lavouras transgênicas. O Estado possui cerca de 6.500 agricultores neste setor, maior número em todo o país e responsável por 28,5% da produção nacional. Os casos de contaminação vêm ocorrendo na região Oeste, onde predomina o plantio de soja geneticamente modificada.

 

 

O agricultor Sílvio Guerini, do município de Medianeira, é um exemplo. Toda sua produção de soja e milho orgânica deste ano foi contaminada durante o transporte das sementes.

 

O resultado foi a desvalorização dos cultivos, que tiveram de ser vendidos como produção convencional. A carga do produtor, que renderia R$ 40,00 a saca, foi comercializada no mercado a R$ 28,00. O prejuízo só não foi maior porque a responsabilidade, neste caso, ficou com a empresa compradora.

 

Sílvio explica como sua produção foi contaminada: “A nossa propriedade está á margem de uma reserva natural, que é o Parque Nacional do Iguaçu. A gente toma todos os cuidados, compramos semente com laudo de não-transgênica, tem uma barreira de 10 metros que divide com o vizinho. Por isso, a polinização foi descartada. A gente colheu amostra na lavoura e deu tudo negativo. Essa empresa que compra o produto também faz o frete, mas acabou contratando um caminhão de terceiros, que colheu antes em uma lavoura transgênica”, conta.

 

O agricultor Ademir Ferronato, também de Medianeira, passou por uma situação ainda pior. Ele teve que arcar com todos os custos da contaminação da sua soja orgânica, que ocorreu na colheita. As máquinas utilizadas pelo agricultor tiveram contato anteriormente com lavouras transgênicas.

 

“Eu plantei soja em duas etapas. O soja da segunda etapa pegou a colheita dos transgênicos que estão em volta. E essa máquina veio de uma área de soja transgênica. Embora tenha sido feita a limpeza da máquina como é exigido, não foi o suficiente para impedir a contaminação. Colhi a primeira etapa da soja 15 dias antes e não havia dado nada”, diz.

Os agricultores Sílvio e Ademir conseguiram a certificação das sementes há quatro anos, mas trabalham com agricultura orgânica há seis anos. Eles reclamam da falta de leis para amparar os produtores em casos de contaminação. Sílvio lamenta ainda, que a contaminação de transgênicos podem inviabilizar a produção de grãos no sistema orgânico.

 

Ademir descobriu que sua soja estava contaminada quando os testes da empresa que certifica orgânicos acusaram mais de 0,1% de proteína transgênica no grão. O agricultor vendeu a semente, que era orgânica, como convencional, perdendo R$ 12,00 por saca. Ele ainda quase teve de pagar royalties.

 

Em Maio, Ademir e entidade ambientalista ASPTA foram para Brasília denunciar a contaminação na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Ele conta que alguns técnicos duvidaram da contaminação.

 

“Eles até ficaram meio sem jeito quando souberam que poderia ser da poeira. Eles achavam que poderia haver contaminação pelo gene e não através da proteína. Até eles mesmos não sabem direito”, afirma.

 

Os agricultores Sílvio e Ademir conseguiram a certificação das sementes há quatro anos, mas trabalham com agricultura orgânica há seis anos. Eles reclamam da falta de leis para amparar os produtores em casos de contaminação. Sílvio lamenta ainda, que a contaminação de transgênicos podem inviabilizar a produção de grãos no sistema orgânico.

 

Para Sílvio, o governo brasileiro deveria proibir o uso dos geneticamente modificados, já que atualmente existe tecnologia suficiente para produzir com sementes crioulas no país.

 

“O problema é que a gente está brigando com empresas com muito dinheiro e com muito poder. E aí você tem um órgão, que é a CTNBio, que é responsável por impor um controle, por exigir estudos para liberação, e isso não está acontecendo. Os integrantes da CTNBio são pessoas que têm interesses particulares na liberação dos transgênicos, dispensando qualquer estudo de impacto, de perda de biodiversidade”, diz.

 

Hoje, os dois agricultores se encontram totalmente descapitalizados. Com os prejuízos, Sílvio afirma que vai ser obrigado a abandonar o cultivo orgânico, até se restabelecer novamente. E Ademir, que possui uma propriedade de 28 hectares, diz que vai continuar trabalhando em sistemas orgânicos, com a produção de gado de leite e hortaliças para autoconsumo. No entanto, terá que diminuir a área de cultivos de soja orgânica para 1/3 da propriedade.

 

Para obter a certificação de produção orgânica, é necessário que o agricultor utilize adubos e sementes sem produtos químicos. O produtor também não pode plantar perto de lavouras transgênicas, já que a certificação é avaliada desde o tratamento dado à terra.

 

www.agenciachasque.com.br

6 de setiembre de 2007

 

 Ilustración: Cícero Dias, Lavouras (c. 1933),

                  Óleo sobre tela - Museu do Estado de Pernambuco

 

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