Brasil Enviar este artículo por Correo Electrónico

Grito da Terra Brasil 2008

 

Cerca de 10 mil pessoas marcham em frente ao Congresso

“Nosso problema é o modelo de desenvolvimento agrícola”

 

 

Hoje cedo, terça-feira 13, cerca de 10 mil pessoas marcharam quase três quilômetros do Estádio Mané Garrincha até a Esplanada do Congresso. A mobilização deu início ao 14º Grito da Terra Brasil, sendo um marco especial na negociação da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) com as autoridades do Parlamento e do governo.

 

As reivindicações essenciais da CONTAG são: reforma agrária, limitação legal à extensão de terra de propriedade de uma só pessoa ou empresa, políticas públicas para os trabalhadores e trabalhadoras rurais, proteção social e legalização dos trabalhadores informais no setor sucroalcooleiro, limitação do agronegócio, apoio à agricultura familiar e à soberania alimentar. 

 

Em ato realizado na Esplanada, o presidente da CONTAG, Manoel José dos Santos, que marchou à frente da manifestação, dirigiu-se à multidão de agricultores e agricultoras que participam no Grito da Terra expondo o significado político da mobilização.

 

“O primeiro objetivo de nossa presença aqui -disse Manoel- é protestar contra o que está levando o país pelo caminho da desagregação social, da injustiça, do empobrecimento de nossa gente, e isto se deve ao modelo de desenvolvimento agrícola do Brasil. Durante todos estes anos, em que os temas da reforma agrária e da agricultura familiar estiveram entre nossas principais reivindicações, alcançamos coisas importantes -continuou- mas, infelizmente, o modelo continua focalizado na concentração da propriedade de terra e da renda. O Brasil continua sendo o país com maior concentração de terra do mundo, e isso inclui os grandes produtores de soja, de cana-de-açúcar e de gado que não trabalham em função das necessidades do povo brasileiro, mas sim do lucro máximo que possam obter no mercado exportador. Esse lucro não vai para as famílias, nem para o campo, vai é para os grandes palácios destes investidores que não vivem na terra, e muitas vezes nem sequer no país”.

 

“Estamos assistindo - ressaltou Manoel- a um grande movimento publicitário feito pelos grandes empresários, e até pelo nosso presidente Lula, segundo o qual somos os maiores produtores de açúcar e de etanol, e que isto constitui uma grande força internacional do país. Mas o grave problema, que temos, é que o avanço desmedido da cana-de-açúcar está deslocando a agricultura familiar para outras regiões, e condena muitos trabalhadores rurais ao desemprego e à miséria. Agora anunciam que o governo promoverá a construção de outras 40 usinas, e que entre 2014 e 2016 todo o trabalho no campo da cana-de-açúcar estará mecanizado. Para nós, isso significa um milhão de postos de trabalho perdidos; para os trabalhadores da cana-de-açúcar, essa tarefa tão dura e sacrificada é o único que lhes resta”.

 

Manoel dos Santos se referiu também à escassez de alimentos básicos e aos altos preços de venda nos centros urbanos, e os responsáveis por isso seriam a fraqueza de algumas das políticas públicas do setor e a ganância especuladora de intermediários, armazenadores e alguns comerciantes. Fez menção à “violência assustadora” que ainda existe no campo. Lembrou que a cada dia aparecem novos ameaçados de morte nas diferentes regiões do país, e deu ênfase em especial na recente decisão judicial que colocou em liberdade o responsável intelectual do assassinato da religiosa Dorothy Stang, no estado do Pará.

 

Finalmente, pormenorizou algumas das grandes conquistas obtidas nestes anos de luta e negociação, entre as quais é destaque o maior apoio financeiro à agricultura familiar –apesar de ser ainda insuficiente- e a cobertura de previsão social para 90 por cento dos trabalhadores e trabalhadoras no campo. E, sobretudo, anunciou que a CONTAG, em coordenação com a Central Única de Trabalhadores (CUT), a Central de Trabalhadores do Brasil (CTB) e a UITA, propõe-se lançar uma campanha nacional e internacional “de combate à oligarquia global do etanol, para que o mundo saiba que aqui no Brasil a situação não está resolvida, que aqui no Brasil há trabalho escravo, que aqui no Brasil há trabalhadores da cana-de-açúcar que devem trabalhar até morrer de fadiga. Saibam os usineiros da Europa e do mundo que deverão vir para tratar destes assuntos com os trabalhadores brasileiros, ou caso contrário seremos a pedra no seu sapato, porque esse é o nosso dever”.

 

A seguir, discursou Gerardo Iglesias, secretário regional para América Latina da UITA, que, após cumprimentar os participantes do Grito da Terra Brasil 2008 em nome das 370 organizações filiadas em 120 países que integram a Internacional, uniu-se às denúncias feitas por Manoel contra as políticas que favorecem o agronegócio em detrimento da agricultura familiar e do emprego rural. “Estão promovendo o etanol no exterior como ‘o combustível do século XXI’, quando as condições de trabalho nas usinas e nos canaviais são do século XVI -afirmou- É um atentado contra os direitos humanos e uma prática degradante que um homem deva cortar 12, 14 e até 20 toneladas de cana-de-açúcar por dia para obter uma magra diária com a qual tem que alimentar a sua família. As milhões de vozes que vocês estão representando aqui, também estão gritando e exigindo: Chega de violência no campo! Chega de impunidade! Porque a violência e a impunidade não só são uma vergonha para a sociedade rural, como também para a sociedade brasileira como um todo, e deveriam também ser para os parlamentares e para o governo deste país”.

 

“Vocês têm uma grande responsabilidade neste Grito da Terra Brasil 2008 -continuou Iglesias-, porque estão representando a maior organização sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais de todo o mundo que é a CONTAG. Neste momento, companheiros e companheiras, milhões de trabalhadores rurais e agricultores da África, da Ásia e da América Latina estão juntos conosco na reivindicação da reforma agrária já!, porque a situação deles é muito parecida à de vocês. E se a reforma agrária avança no Brasil, sem dúvida, ela avançará no mundo inteiro. Por isso gritemos bem forte: Viva o Grito da Terra! ¡Viva a CONTAG!”, concluiu.

 

As negociações ocorrem paralelamente com a mobilização em numerosas audiências acertadas pela CONTAG com parlamentares, assessores e ministros.

 

Amanhã as manifestações de rua continuarão, sendo que de tarde começará a tradicional vigília dos participantes situados em grandes barracas e que, com velas acesas e com música local aguardarão os seus representantes que virão, após as últimas negociações e com os respectivos acordos assinados, para nos prestar contas do que foi alcançado. 

 

Em Brasilia, Carlos Amorín

Rel-UITA

13 de maio de 2008

 

 

 

 

 Más información

 

 

Volver a Portada

 

 

  UITA - Secretaría Regional Latinoamericana - Montevideo - Uruguay

Wilson Ferreira Aldunate 1229 / 201 - Tel. (598 2) 900 7473 -  902 1048 -  Fax 903 0905