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Porto da Cargill é reaberto  
mesmo sem Estudo de Impacto Ambiental   
A Cargill recebeu 
ontem autorização para a reabertura de seu terminal portuário em Santarém, no 
oeste do Pará. A decisão foi do desembargador federal Carlos Fernando Mathias, 
do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, em Brasília. 
  
Com a liminar concedida, a multinacional norte-americana poderá retomar suas 
atividades no porto, desde que realize imediatamente os Estudos de Impacto 
Ambiental e Risco ao Meio Ambiente (EIA-Rima) exigidos pela legislação 
brasileira para obras desse porte. Segundo informações do Sindicato dos 
Trabalhadores Rurais de Santarém, até às 14h de hoje ainda não havia 
movimentação no porto, mas a empresa comemorava a decisão com a queima de fogos 
de artifício e com a execução do Hino Nacional.    
A 
reabertura contraria decisão do desembargador federal Souza Prudente, que 
resultou no fechamento do terminal graneleiro no último dia 24 de março.  
Prudente havia ordenado o cumprimento de liminar de 2000, do então juiz federal 
em Santarém, Dimis da Costa Braga, que suspendeu o alvará de autorização 
emitido pela Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectam) 
e a proibiu de emitir qualquer autorização para o funcionamento do porto sem a 
aprovação do EIA-Rima.   
Para Tatiana de Carvalho, engenheira agrônoma da Campanha da Amazônia do 
Greenpeace Brasil "a decisão de ontem é contradiória porque determina que o 
porto seja reaberto, mas reafirma a necessidade de realização do EIA-Rima." 
Ela afirma que dessa forma "o porto vai operar ilegalmente, sem licensa de 
operação, até que saia um novo julgamento sobre a necessidade do EIA".
   
Procurada pela reportagem, a Cargill afirmou que só se pronuncia através 
de um comunicado divulgado à imprensa. Nele, afirma que " a determinação de 
reabertura, resultado da ação proposta pela Cargill em 26 de março, 
restabelece o respeito ao que preconiza o sistema legal e a Constituição 
brasileira. A empresa reitera a legalidade do seu Terminal, que sempre operou 
com todas as licenças necessárias e, desde o seu projeto, atendeu às exigências 
feitas pelas autoridades em âmbito Federal, Estadual e Municipal".   
O 
embóglio, contudo, não chegou ao fim. O Ministério Público Federal (MPF) 
já avisou que vai recorrer da decisão, pois defende que o porto deveria 
continuar fechado por operação irregular da empresa. Já a Cargill, volta 
a apelar, na próxima segunda-feira, dia 16, da decisão de realizar o EIA/Rima. 
O julgamento do TRF decidirá se a obrigatoriedade de realização do estudo 
será mantida ou se um simples Plano de Controle de Acidentes é suficiente, como 
defende a empresa. Para a engenheira do Greenpeace, isso mostra que " A Cargill 
continua apelando para todos os recursos jurídicos possíveis para postergar a 
realização do EIA-Rima, ao invés de fazer o estudo de uma forma completa, que 
contemple todos os possíveis impactos na região".    
Segundo Tatiana, já existem impactos comprovados na área e que análises 
de imagens de satélites mostrariam um aumento do desmatamento na região. Além 
disso, "houve um aumento de conflitos pela terra, exôdo rural e contaminação da 
água por agrotóxicos". O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém 
concorda. Segundo representante da entidade, a construção do porto levou à 
grilagem de terras na região por sojeiros e à expulsão de famílias que 
sobreviviam da agricultura familia para as cidades, aumentando as favelas, a 
violência e o número de doenças.   
Histórico - 
O terminal portuário começou a operar em 2003, após a Cargill conseguir 
suspender as decisões de 2000 que determinavam a paralisação das obras, devido à 
não existência do EIA-Rima. Em 2004, uma sentença obriga a empresa a 
realizar o estudo.  A Cargill ajuíza apelação cível e a decisão fica 
suspensa até a devida apreciação pelo TRF.   
Em 2005, a multinacional entra com recurso no Supremo Tribunal Federal (STF), 
mas o caso não é aceito, devido ao entendimento de que já havia sido apreciado, 
com a decisão pela realização do EIA.   
Em 2007, o MPF é notificado de processo requisitando ao Ibama uma 
inspeção no terminal, para verificação das licenças ambientais e o embargo das 
atividades. A multinacional ajuíza mandado de segurança para impedir a 
fiscalização. Os pedidos da empresa são indeferidos e o porto é fechado pelo 
Ibama em 24 de março, com ajuda do MPF.  
Renata Gaspar 
Amazonia.org 
16 de abril de 2007   
  
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