Os 
papéis mostram que em 1976 o secretario de Estado americano Henry Kissinger 
deu ordem para as embaixadas Americanas da região para não se meterem com os 
crimes que vinham então sendo cometidos no marco do plano Condor.
 
No dia 16 
de setembro, somente ha quatro dias de que o chanceler de 
Salvador Allende 
morresse em um atentado a bomba em Washington, o então Secretário de Estado 
Americano Henry 
Kissinger 
deu ordem para as embaixadas da região latino-americana de não se 
envolverem. Documentos desclassificados mostraram agora que o governo 
americano tinha pleno conhecimento da operação Condor e o que ela 
significava. “Existem rumores de que esta cooperação excede o intercambio de 
informações e inclui planos para assassinar subversivos, políticos e 
proeminentes figuras, tanto dentro das fronteiras de certos países do 
 
Cone 
Sul, como fora de elas”, 
escrevia o próprio 
Kissinger 
em um telegrama secreto em fim de agosto daquele ano. Duas semanas depois, 
sem uma explicação plausível, o então chefe da diplomacia, 
 
Gerald Ford, se 
desdisse e deu a ordem de não intervir.
 
“Simplesmente instrua os embaixadores da região para que não tomem nenhuma 
medida”, ele ordenou ao seu subalterno 
Shlaudeman, em outro telegrama agora 
desclassificado, que escreveu desde Lusaka, a capital de 
Zâmbia, 
onde se encontrava realizando uma visita oficial.
 
Ainda 
restam muitos documentos a desclassificar para poder completar a verdadeira 
história do que aconteceu há 34 anos atrás. Mas os telegramas secretos 
publicados ontem pelo National Security Archives, confirmam algumas das 
suspeitas, por exemplo, de que a Casa Branca sabia, desde o início, sobre o 
Plano Condor e as violações sistemáticas aos direitos humanos praticadas 
pelas ditaduras latino-americanas nos anos setenta.
 
No 
telegrama de fins de agosto de 1976, 
Kissinger 
se mostrava preocupado de como os assassinatos de líderes políticos de alto 
perfil afetariam a imagem das ditaduras sul-americanas. No caso argentino 
sua preocupação era específica. Este tipo de atividades traria um impacto 
negativo em geral sobre a imagem da 
Argentina 
no estrangeiro em geral e, em particular sobre os esforços de 
refinanciamento de 
Martínez de Hoz.
 
Para evitar 
maiores críticas para com seus aliados sul-americanos na Guerra Fria, o 
secretario de Estado Americano enviou mais um telegrama aos embaixadores 
americanos nas embaixadas de Montevidéu, Buenos Aires, Santiago e La Paz, 
para que transmitissem seus medos aos ditadores ou aos comandantes das 
forças armadas de plantão: 
Jorge Rafael Videla,
Julio César Vadora,
Augusto Pinochet y Hugo Banzer.
 
A resposta 
dos quatro embaixadores foi quase a mesma, segundo se constata do informe 
que foi apresentado mais tarde pelo homem de 
Kissinger 
para América Latina,
Harry Shlaudemam. Nenhum queria ferir as “sensibilidades” dos 
ditadores. O embaixador de Montevidéu, 
 Hernest Siracusa, inclusive 
chegou a admitir que temia por sua vida, pois ela estaría em perigo caso 
levasse isso ao questionamento militar. Para fazê-lo queriam proteção de 
Washington.
 
Kissinger 
levou duas semanas para responder e quando o fez foi em um tom muito 
diferente daquele que havia feito em fins de agosto de 1976. “Não tem 
havido mais informes nestas últimas semanas que indiquem ativação do Plano 
Condor”, disse o secretario, junto a instrução de não atuar, no telegrama 
desde  
Zâmbia. A ordem chegou aos embaixadores no dia 20 de setembro.
 
Um dia 
depois a notícia chegou a eles desde Washington. O ex chaceller do 
assassinado presidente 
 Salvador Allende, 
 Orlando Letelier e 
sua secretaria de 26 anos 
 Ronni Karpem Moffitt 
haviam sido 
assassinados quando dirigiam pela Av. Massachussets, na capital americana.
 
Anos depois 
as investigações demostraram que a bomba que explodiu o automóvel foi 
colocada por um agente da DINA, a polícia secreta de 
 Pinochet. A 
ditadura chilena nunca reconheceu a responsabilidade sobre o crime e o 
responsável chamado 
 Michael Townley ( suspeito também com sua mulher 
de haver detonado a bomba que matou o Gral. Comandante 
 Carlos Pratts  
e esposa em Buenos Aires em 1974), passeia livremente nos 
 EEUU 
protegido pelo programa oficial de “Testemunha Protegida”.
 
Para 
 
Peter Kornbluth, um dos analistas do 
NSA, a organização que 
desclassificou e publicou os documentos em sua página Web, os documentos 
mostram o verdadeiro papel que os 
 EEUU desempenharam no Plano Condor.
 
“Agora 
sabemos o que aconteceu: o Departamento de Estado dos 
 EEUU iniciou a 
tempo um esforço para frustrar os assassinatos seletivos de políticos no 
Cone Sul e 
Kissinger sem explicação o abortou”.