Comissão Pastoral da Terra (CPT) manda carta ao presidente nesta 
			sexta (15) denunciando agressão a indígenas em Aracruz, ES, e 
			respondendo documento da Fiesp, enviado a Lula no dia 13, que chama 
			manifestantes Guarani e Tupinikim de "arruaceiros e criminosos 
			comuns" que merecem tratamento policial e não político.
			
			 
			
			A 
			Comissão Pastoral da Terra (CPT) enviou um documento ao presidente 
			Lula nesta sexta (15), cobrando a responsabilidade do governo frente 
			a agressões sofridas pelos indígenas Guarani e Tupinikim em Aracruz, 
			Espírito Santo, na última quarta (13).
			
			 
			
			
			Para pressionar o Ministério da Justiça a se posicionar sobre a 
			disputa de cerca de 11 mil hectares, ocupados atualmente pela 
			empresa Aracruz Celulose - parecer da Funai que comprova área como 
			indígena aguarda assinatura do ministro Marcio Tomas Bastos para dar 
			andamento ao processo demarcatório -, cerca de 350 indígenas 
			paralizaram o porto da empresa por dois dias (12 e 13), e houve 
			confronto, no último dia, com funcionários e dirigentes políticos 
			ligados à Aracruz.
			
			 
			
			A 
			ação dos indígenas no Espírito Santo levou a uma reação forte do 
			setor empresarial. Em São Paulo, no mesmo dia (13) em que a Fiesp 
			promovia um encontro de negócios entre índios Kayapo do Pará e 
			empresários, potenciais compradores de óleo de castanha - o evento 
			foi amplamente divulgado na imprensa -, o presidente da entidade, 
			Paulo Skaff, enviou a Lula uma
			
			
			carta solicitando "às autoridades brasileiras rápidas e enérgicas 
			providências no sentido de estabelecer a segurança de nossas 
			produtivas empresas".
			
			 
			
			No 
			documento, Skaff afirma que a sociedade brasileira teria sofrido um 
			ato de violência com a manifestação, e mostrou preocupação com a 
			imagem do país no exterior, principalmente porque várias 
			manifestações de apoio aos indígenas ocorreram em diversos lugares 
			do mundo.
			
			 
			
			"No 
			momento em que todos nós buscamos mostrar à economia globalizada o 
			nosso potencial de qualidade, sob segurança de uma democracia 
			responsável, um fato dessa natureza, amplamente noticiado em todo o 
			mundo, coloca em dúvida o nosso estado de direito e afugenta 
			clientes e investidores internacionais. Não é a primeira vez que 
			isso acontece, mas esperamos que seja a última. Não podemos seguir 
			sob a ameaça de arruaceiros e criminosos comuns para os quais não 
			devemos oferecer tratamento político, mas, sim, policial. Têm sido 
			recorrentes as invasões de áreas produtivas, destruição de 
			laboratórios de pesquisa, incêndios provocados, interdição de 
			estradas, roubo de equipamentos e, até mesmo, intimidação de 
			trabalhadores - atos que se constituem em desafios à autoridade do 
			Governo Federal". Skaff termina com um desafio ao governo que, 
			confia a Fiesp, não irá admitir o desrespeito à ordem constituída
			
			 
			
			"A 
			Aracruz Celulose está ocupando indevidamente terras indígenas e 
			quilombolas. Não é o primeiro crime do setor empresarial ... e 
			infelizmente não será o último", retrucou a CPT em sua carta ao 
			presidente. Parafraseando o documento da Fiesp, a CPT afirma que 
			estes crimes "são atos que se constituem em desafios à autoridade do 
			Governo Federal, de modo especial à liderança do Presidente. Apesar 
			de seu governo, senhor Presidente, ter oferecido um tratamento 
			político privilegiado para estes setores da elite violenta 
			brasileira que se nega a pensar e construir o país de modo efetivo e 
			democrático a partir das necessidades, dos interesses e das 
			propostas das maiorias, temos confiança em que não irá admitir o 
			desrespeito à ordem constituída".
			
			 
			
			Os 
			indígenas deixaram o porto da Aracruz na tarde do dia 13, após a 
			promessa de uma audiência com o ministro Marcio Tomas Bastos na 
			próxima segunda (18), negociada pela Funai. Apesar de ter afirmado, 
			no início do ano, que a situação da área reivindicada pelos índios 
			seria resolvida ainda em 2006, Basto tem dito agora que o processo 
			não tem prazo definido para encaminhamento.
			
			 
			
			
			Verena Glass
			
			
			 Carta Maior
			
			19 de 
			dezembro de 2006