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Brasil | AGRICULTURA | VIOLÊNCIA
TJ nega recurso contra júri e 
decreta prisão de fazendeiro
no caso Dorothy 
Fazendeiro é acusado 
de ser um
dos mandantes da 
morte da missionária
  
Dorothy Mae 
Stang 
trabalhava há mais de 30 anos na região Amazônica defendendo trabalhadores 
rurais 
  
A 1ª Câmara 
Criminal Isolada do Tribunal de Justiça do Pará negou nesta terça-feira (6) 
recurso para anular o júri do fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, 
acusado de ser um dos mandantes da morte da missionária Dorothy Stang, 
ocorrido em 2005. 
  
A Câmara também 
decretou a prisão preventiva do fazendeiro, conhecido como “Taradão”, que 
responde pelo crime em liberdade. A defesa pode recorrer da decisão. 
  
O advogado do 
fazendeiro, Janio Siqueira, afirmou que deve entrar com um pedido de 
habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Ele [Regivaldo] já 
está arrumando as malas para se apresentar. Nas próximas horas, deve comparecer 
espontaneamente à autoridade policial em Altamira, como sempre fez”, afirmou o 
defensor. 
  
A defesa 
informou que aguardando a publicação da decisão para tomar as medidas cabíveis. 
“O tribunal não fundamentou a prisão, não houve nenhum fato novo, decretaram sem 
nenhum motivo. Ele sempre atendeu a todas as necessidades da Justiça. A decisão 
foi uma surpresa para nós”, disse Siqueira. 
  
Condenação mantida 
  
De acordo com 
informações do TJ do Pará, o recurso foi negado por unanimidade. A defesa do 
fazendeiro pretendia anular sua condenação de 30 anos de prisão pelo crime. 
  
A defesa do 
fazendeiro alegou que ele deveria ser submetido a novo júri, em razão da 
condenação superior a 20 anos de prisão. Uma reforma no Código de Processo Penal 
de 2008 extinguiu essa possibilidade. Os advogados também alegaram cerceamento 
de defesa, porque não puderam sentar-se ao lado do réu durante o julgamento em 
que foi condenado, e argumentaram que a sentença de condenação foi mal redigida 
pelo juiz. 
  
A juíza 
convocada Nadja Cobra Meda, que julgou o recurso do fazendeiro, negou as 
alegações. Ela afirma que ficou comprovada a premeditação do crime, com visível 
hierarquia entre os participantes, cada um desempenhando seu papel com o 
objetivo de acabar com a vida da vítima. 
  
A magistrada 
também não considerou a pena exagerada e determinou a prisão preventiva do réu 
para impedir a intimidação de testemunhas e evitar a fuga do acusado em 
decorrência de seu grande poder econômico, de acordo com informações do TJ. 
  
Caso 
  
A missionária 
norte-americana Dorothy Stang foi morta a tiros em 12 de fevereiro de 
2005, em Anapu (PA). Segundo a Promotoria, a missionária foi assassinada porque 
defendia a implantação de assentamentos para trabalhadores rurais em terras 
públicas que eram reivindicadas por fazendeiros e madeireiros da região. 
  
Outros quatro 
acusados de participação no caso, entre executores e mandantes, foram julgados e 
condenados a penas que variam de 17 a 27 anos de reclusão. 
  
O fazendeiro 
Regivaldo Pereira Galvão foi condenado a 30 anos reclusão no dia 30 de abril 
de 2010. Na sentença, o juiz Raimundo Alves Flexa, da 2ª Vara do Tribunal 
do Júri, decretou a prisão preventiva do réu. 
  
O fazendeiro 
foi beneficiado por uma liminar da desembargadora Maria de Nazaré Gouvêa 
para aguardar o julgamento do recurso de apelação em liberdade provisória. A 
decisão foi confirmada, em junho de 2010, pelas Câmaras Criminais Reunidas do 
Pará. 
  
Anjo da 
Transamazônica 
  
Dorothy 
Stang 
trabalhava há mais de 30 anos na região Amazônica defendendo trabalhadores 
rurais e lutando por seu assentamendo em terras tomadas por madeireiras. A 
missionária de 73 anos fazia parte da congregação das Irmãs de Notre Dame de 
Namur, um grupo de mais de duas mil mulheres que trabalham em cinco continentes. 
Lutava para expulsar grileiros de um lote incluído no projeto de assentamento 
rural de Anapu. 
  
A missionária 
denunciou que quatro pessoas da região estavam recebendo ameaças de morte. Em 
entrevista gravada no ano passado e mostrada pela TV Globo, Dorothy dizia 
não acreditar que as ameaças de morte que vinha sofrendo fossem reais. 
  
Amada pelos 
lavradores pobres, mas odiada por fazendeiros e madeireiros da região sudoeste 
do Pará, ela era chamada de “anjo da Transamazônica” pelas famílias a quem 
atendia, e de “satanás” pelos desafetos. “Sei que eles querem me matar, mas não 
vou fugir.  
  
Meu lugar é 
aqui, ao lado dessas pessoas constantemente humilhadas por gente que se 
considera poderosa”, afirmou irmã Dorothy, na última entrevista a um 
jornalista do Pará, no dia 2. 
  
Cidadã do 
Pará 
  
Dorothy 
Stang 
recebeu em 2004 da Assembléia Legislativa do Estado o título de Cidadã do Pará. 
Para ela, a violência fundiária, os crimes ambientais e a grilagem de terras na 
região estavam fora de controle. Em dezembro de 2004, recebeu ainda o prêmio 
“José Carlos Castro” da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Estado e foi 
elogiada por parlamentares no Senado. Por seu trabalho de ativista na região, 
Dorothy diversas vezes denunciou a jornais locais que vinha sofrendo ameaças 
de morte. Na hora da morte, a missionária naturalizada brasileira vestia 
bermuda, camiseta com uma inscrição sobre a Amazônia, tênis preto e meias 
claras. 
    
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