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Na quinta-feira, 9 de junho, foi assassinado no estado do Pará o extrativista
Obede 
Loyla 
Souza, de 31 
anos, pai de três filhos. É a quinta vítima da violência rural na Amazônia nas 
últimas três semanas. O emprego da Força Nacional de Segurança Pública na 
região, determinado pela presidenta Dilma Rousseff, não parece intimidar os 
madeireiros e empresários agropecuários responsáveis pelo desmatamento. As 
organizações camponesas exigem uma reforma agrária integral e rápida. 
  
Em conversa com Sirel, "Guto"
dos Santos, presidente da Federação dos Trabalhadores na 
Agricultura do Pará (FETAGRI-PA), disse que "O companheiro 
Obede Loyla integrava o 
Assentamento Esperança, localizado no município de Pacajá, no estado do 
Pará. Ainda estamos verificando as informações, mas sabemos que foi executado 
com um tiro na cabeça dentro do próprio assentamento, a poucos metros de sua 
casa". 
  
De acordo com os primeiros 
depoimentos recolhidos no local, "ele havia tido recentemente uma discussão com 
alguns madeireiros, aos quais ele surpreendeu cortando árvores valiosas na área 
do assentamento. É muito provável que esta reação tenha lhe custado a vida 
alguns meses depois" - afirmou Guto. 
  
Estamos mantendo contato com as 
autoridades para que sejam implementadas ações mais eficazes visando conter a 
violência gerada pelos consórcios de madeireiros e latifundiários da região", 
destacou. 
  
Mensageiros da 
morte 
Os números da 
matança 
  
Em 24 de maio passado, foram 
vítimas de uma emboscada e assassinados José 
Claudio Ribeiro e Maria da Silva, casal de 
ambientalistas e integrantes do Projeto Agroextrativista Praia Alta-Piranheira, 
no município de Nova Ipixuna do Pará. 
  
Posteriormente, foi morto outro 
assentado, Herenilton Pereira, possível testemunha desse duplo homicídio. 
  
Em 27 de maio, foi assassinado em 
Vista Alegre do Abunã, Rondônia, o líder camponês 
Adelino Ramos. 
  
Agora foi a vez de 
Obede Loyla Souza. 
  
Segundo dados da Comissão 
Pastoral da Terra (CPT), desde o chamado "Massacre de Eldorado dos 
Carajás”, em 1996, no qual 19 trabalhadores sem-terra foram executados, 
somente no estado do Pará foram 
registrados, até agora, 212 assassinatos por conflitos relacionados com a terra, 
sendo isto equivalente a mais de um homicídio por mês durante os últimos 15 anos, 
sem contar aqueles perpetrados em outros estados do Brasil. 
  
Além disso, 809 pessoas, em geral 
ativistas sindicais, ambientalistas e defensores dos direitos humanos têm 
recebido ameaças de morte. Na sua edição de ontem, terça-feira 14, o jornal O 
Globo, do Rio de Janeiro, publicou uma impactante infografia que ilustra esta 
terrível situação. (veja). 
  
José Batista, 
advogado da CPT, estima que sete em cada dez assassinatos ocorrem na área 
de Marabá, onde já se verifica um desmatamento muito avançado, e restam muito 
poucas áreas intactas. 
  
A luta pela terra é claramente 
expressa nas seguintes cifras: "desde 1996 –afirma Batista- foram 
ocupadas 463 fazendas na região. Nelas foram instaladas quase 79 mil famílias, 
das quais 32 mil já foram expulsas. Neste caldeirão em ebulição permanente, já 
foram presas 799 pessoas. A perspectiva de mudanças no Código Florestal e as 
alternâncias políticas nos governos estaduais têm acelerado este processo de 
desmatamento e de violência – afirmou. 
  
A venda de madeira 
amazônica produz lucros enormes. Por exemplo, um castanheiro colocado no mercado 
internacional vale atualmente US$ 14 mil dólares”, finalizou Batista. 
  
Reforma agrária já! 
Grande mobilização em 
Marabá 
  
"Neste momento continua ocorrendo 
na cidade de Marabá uma concentração de mais de 2 mil trabalhadores e 
trabalhadoras rurais da nossa FETAGRI-PA, e também do MST e da 
FETRAF – disse Dos Santos. 
  
Ontem mantivemos uma reunião de 
negociação com a participação do presidente do Instituto Nacional de Colonização 
e Reforma Agrária (Incra), Celso Lisboa. A resposta às 
reivindicações apresentadas pelas organizações sociais foi totalmente 
insatisfatória, já que apenas contemplou 20 por cento das nossas demandas" 
-enfatizou. 
  
Este novo assassinato -continuou- 
é uma confirmação de que, embora seja necessária uma ação policial e judicial 
vigorosa e verdadeiramente imparcial, também se evidencia que a solução final só 
será alcançada com a implementação de políticas públicas adequadas para esta 
região, principalmente a liberação de mais recursos para a reforma agrária, 
processo essencial para a pacificação na floresta amazônica", concluiu Guto 
dos Santos. 
  
  
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