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Honduras

Com Nectaly Rodezno

“Tentaram me matar”

Continua a escalada de violência e repressão em Honduras

    

O coordenador da Frente de Advogados Contra o Golpe, Nectaly Rodezno, denunciou ao Sirel ter sido objeto de uma tentativa de assassinato, por sorte frustrada, devido à intervenção de cidadãos que conseguiram deter a mão assassina de um ativista do Partido Nacional de direita, diretamente vinculado ao prefeito de Tegucigalpa, Ricardo Antonio Álvarez, e ao candidato a deputado Blas Ramón, ambos ferrenhos defensores do golpe de Estado.

 

Continua a onda de violência e repressão contra os membros da Resistência hondurenha. Durante a última semana, diferentes organizações de direitos humanos do país denunciaram os desaparecimentos do jovem Abner Hernández, membro do Comitê de Disciplina da Resistência, que foi visto pela última vez junto com Walter Tróchez, defensor de direitos humanos assassinado em 13 de dezembro, e de Carlos Turcios Maldonado, vice-presidente do movimento de resistência de Choloma, departamento de Cortez. Denunciaram, também, o assassinato de Karen Jessenia Hernández Mondragón, esposa de um membro da Resistência, ocorrido em Tegucigalpa com um tiro na cabeça.

 

Além disso, homens encapuzados, vestindo uniforme da Direção Geral de Investigações Criminais (DGIC), detiveram e sequestraram os líderes camponeses Osman Aléxis Ulloa Flores e Mario René Ayala Hernández, ambos integrantes do Movimento Unificado Camponês de Aguán (MUCA), os quais recentemente, junto a mais de 500 famílias, recuperaram 800 hectares de terra estatal beneficiada pelo Decreto 18-2008, iniciativa que tenta dar solução ao tema da mora agrária.

 

A terra reivindicada pelo MUCA está atualmente em poder dos grandes proprietários René Morales e Miguel Facussé Barjum, este último principal produtor de palma africana (dendê) em Honduras.

 

Segundo dados do recém formado Comitê de Presos, Perseguidos e Exilados Políticos do Golpe de Estado, seriam mais de 130 pessoas com processos judiciais, entre elas cinco ainda continuam detidas, mais de 100 receberam penas alternativas e mais de 30 estão no exílio.

 

O último episódio assinalado é a tentativa de assassinato contra o coordenador da Frente de Advogados Contra o Golpe, Nectaly Rodezno. Sirel conversou com ele para saber o que aconteceu e situar-se em relação à onda de repressão que se abateu sobre Honduras.

 

-O que aconteceu no dia 15 de dezembro de 2009?

-Dirigia o meu carro e estava quase chegando em casa quando passei por um lugar onde os táxis estacionam. Foi neste momento que Pedro Gómez, ativista do Partido Nacional, vice-presidente da Associação Interdepartamental de Pontos de Táxis de Honduras e partidário do prefeito da capital, Ricardo Antonio Alvarez, e do candidato a deputado Blas Ramos, me reconheceu e começou a me insultar por ser da Resistência.

 

Imediatamente atravessaram um táxi na rua, com o intuito de não me deixar passar, e Pedro Gómez se aproximou do meu carro, bateu no meu rosto e sacou um revólver para atirar em mim.

 

Por sorte os outros taxistas intervieram e o bloquearam. Neste momento aproveitei a confusão para sair do carro e correr em direção a alguns policiais que estavam perto dali. Os policiais intervieram e conseguiram detê-lo. No entanto, Gómez chamou imediatamente o Prefeito e, quando cheguei à delegacia policial, encontrei o candidato a deputado Blas Ramos falando com os fiscais para que o liberassem. E foi o que fizeram. Praticamente rejeitaram a acusação de tentativa de assassinato e somente foi indiciado por porte ilegal de armas. Não tenho a menor dúvida de que, na audiência inicial, Gómez será absolvido definitivamente.

 

-Como você avalia este episódio?

-É parte de uma verdadeira ofensiva contra a Resistência, e estão usando a mesma metodologia dos anos 80. No dia em que assassinaram Walter Tróchez, apareceram muitos cadáveres por toda a cidade, e é exatamente como acontecia naqueles anos, ou seja, matavam delinquentes comuns e aproveitavam para assassinar membros dos movimentos populares, disfarçando estes assassinatos políticos tratando-os como se fossem crimes comuns. Querem que o povo se acostume com estes fatos, para que ninguém perceba que está sendo exercida uma repressão sistemática contra os membros da Resistência.

 

-Depois deste episódio, você está tomando alguma medida de segurança?

-Todo o mundo me conhece e sabe onde moro. Não fico pensando em me esconder e nem deixar de fazer o meu trabalho, porque preciso dele para sobreviver com a minha família. Além disso, para mim o trabalho que desenvolvo com a Frente de Advogados Contra o Golpe é fundamental, e não posso renunciar a esta luta. No entanto, se acontecer alguma coisa comigo desde já responsabilizo este sistema golpista e o prefeito Ricardo Antonio Alvarez, que organizou verdadeiros esquadrões de perseguição contra os membros da Resistência.

 

Em Manágua, Giorgio Trucchi

Rel-UITA

12 de janeiro de 2009

 

 

 

Fotos: Giorgio Trucchi

 

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