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Honduras

Diálogo com lobos

Camponeses e camponesas lutam por sua liberdade, na véspera da chegada da missão da OEA.
Indígenas pedem asilo político à Guatemala.

 

Enquanto no país cresce a expectativa pela chegada da missão dos Chanceleres da OEA e pelo início de um diálogo, cujo conteúdo não deixa de ser contraditório e incerto, as vítimas da repressão, fomentada ao longo de 101 dias e intensificada com o Decreto Executivo, imposto pelo governo de fato e recentemente revogado, continuam lutando pela sua liberdade.

 

Desde as primeiras horas da manhã de ontem, 6 de outubro, a Sala de Julgamentos Orais da Suprema Corte de Justiça, em Tegucigalpa, foi palco do processo judicial contra 51 das 55 pessoas pertencentes às três principais confederações camponesas de Honduras, que foram expulsas pela polícia e pelo Exército, após terem ocupado pacificamente as instalações do Instituto Nacional Agrário (INA).

 

Acusados e acusadas de sedição contra a segurança do Estado, 38 homens permaneceram mais de uma semana na cadeia, protagonizando uma greve de fome e se declarando presos políticos, enquanto cinco mulheres, seis idosos e dois menores obtiveram medidas cautelares.

 

O juiz, que determinou estas medidas provisórias, deixou também em liberdade os quatro trabalhadores do INA, integrantes do Sindicato dos Trabalhadores do Instituto Nacional Agrário (SITRAINA), organização filiada à UITA.
 
De acordo com a defesa das 51 pessoas, há evidências suficientes para serem absolvidos definitivamente. Entretanto, há o temor de que as medidas repressivas sejam mantidas a fim de desarticular o movimento de Resistência contra o golpe de Estado.

 

Dezenas de pessoas chegaram à Corte Suprema de Justiça com bandeiras e cartazes, gritando palavras de ordem para mostrar seu apoio incondicional às pessoas que, lentamente, entravam na Sala de Audiência Oral.
 
"Os trabalhadores filiados ao SITRAINA continuarão em resistência –explicou ao SIREL o secretário-geral deste sindicato, Luis Santos Madrid.

 

Não estamos reconhecendo as novas autoridades impostas pelo governo de fato e estamos fazendo faixas e cartazes para divulgar o que está ocorrendo dentro da instituição.
 
Enquanto os nossos companheiros e companheiras permanecerem detidos, não vamos negociar com o ministro de fato. Hoje estamos aqui – continuou Luis Santos Madrid-  para apoiar a luta das pessoas injustamente detidas, e os quatro companheiros do SITRAINA, que foram considerados inocentes, irão testemunhar para rebater todas as acusações.

 

Vamos continuar lutando até à libertação e restauração da ordem constitucional no país“, concluiu.
 
Através de um comunicado oficial, o presidente Manuel Zelaya exigiu da ditadura, "a imediata libertação dos presos políticos, o fim imediato da repressão ao povo em resistência e a reabertura da Rádio Globo e do Canal 36, uma vez que estas ações foram feitas amparadas por um decreto ilegal que viola os direitos e liberdades do povo e dos meios de comunicação em resistência. "

 

Asilo político para indígenas perseguidos
 
Doze membros do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH), entre eles quatro menores de idade, entraram ontem, 6 de outubro, na Embaixada da Guatemala, em Tegucigalpa, a fim de solicitar asilo político, alegando sofrerem perseguição política por parte do atual governo de fato.
 
As doze pessoas de etnia lenca, provenientes do departamento de Itinbucá, no oeste de Honduras, condenaram a perseguição, tortura e repressão de que foram vítimas, em consequência do golpe de Estado e por terem participado ativamente das mobilizações promovidas pela Frente Nacional Contra o Golpe de Estado.

 

Segundo Salvador Zúñiga, diretor do COPINH, "Vimos como estão aparecendo mortos, vimos centenas de pessoas presas, e ainda hoje existem mais de 60 presos e estão sendo cometidos assassinatos sumários. A situação é terrível.
 
Das pessoas que pediram asilo hoje na Embaixada da Guatemala, há quatro que já foram presos e um deles tem cicatrizes recentes de golpes no rosto, na cabeça e sinais de tortura e de espancamento nas costas. Estamos diante de um terrível regime que ameaça contra a vida", explicou Zúñiga.

 

Horas depois, a Chancelaria da Guatemala emitiu um comunicado afirmando que "o artigo 27 da Constituição Política estabelece que a Guatemala reconhece o direito de asilo e o concede em conformidade com as práticas internacionais", anunciando ao mesmo tempo a presença na delegação da OEA do seu chanceler Haroldo Rodas Melgar, "para facilitar a instalação de uma mesa de diálogo visando encontrar uma solução para a crise política que existe em Honduras".
 
O comunicado também exigiu das "autoridades de fato o respeito pleno pelos direitos humanos e o fim dos atos de repressão contra os cidadãos". Nos próximos dias, o governo guatemalteco vai anunciar sua decisão sobre o pedido de asilo apresentado pelos membros do COPINH.

 

Chega a comissão da OEA 
 
Na manhã de hoje, 7 de outubro, chegou ao país a comissão de alto nível da OEA, composta pelos chanceleres da Costa Rica, Equador, Guatemala, El Salvador, México, Panamá, Canadá e Jamaica, bem como os embaixadores na OEA da Argentina e do Brasil.
 
Também farão parte da comissão o Secretário Geral da OEA, José Miguel Insulza, o Secretário de Estado da Espanha para a Ibero-América, Juan Pablo de la Iglesia, e um representante do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

 

O objetivo da comissão será impulsionar o processo de diálogo do qual, no momento em que escrevo esta nota, a Frente Nacional Contra o Golpe de Estado ainda não tinha decidido se iria participar, respondendo positivamente ao convite feito pelo presidente Manuel Zelaya.  

Em Tegucigalpa, Giorgio Trucchi

Rel-UITA

8 de outubro de 2009

 

 

 

 Fotos: Giorgio Trucchi

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