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Honduras

Os golpistas não têm

nenhuma intenção de diálogo

Impõem agenda, aumentam o nível de repressão

e visam adiar uma solução para a crise

 

Apesar de estar circulando nacional e internacionalmente a informação de que haveria avanços significativos no diálogo entre a delegação de Roberto Micheletti e a do presidente Manuel Zelaya, esta última integrada também por um membro da Resistência, o que se percebe claramente é que o governo de fato não tem nenhuma intenção de buscar uma saída para a crise que há mais de três meses está afligindo o povo hondurenho.

 

Neste momento fica difícil de entender se o jogo feito pelo governo de fato é o de montar na mídia o grande show do diálogo para legitimar as eleições de 29 de novembro próximo, arriscando-se novamente a enfrentar a comunidade internacional que, aliás, sobre este tema já parece estar dividida, ou se o que pretendem é encontrar as desculpas necessárias para que Roberto Micheletti fique mais tempo no poder, encurralando o presidente Manuel Zelaya e também a Resistência com maior pressão e repressão, que nos últimos dias aumentaram de forma desmedida, fazendo pouco caso das recomendações da OEA.

 

Segundo o assessor para Honduras do secretário-geral da OEA, John Biehl, "Eleições feitas sem o presidente Manuel Zelaya provavelmente teriam de ser altamente militarizadas, com um alto grau de violência, o que significaria que o próximo governo seria desconhecido para uma grande maioria dos países e continuaria o isolamento de Honduras ".

 

No entanto, após 106 dias do golpe de Estado ainda não se viu nenhuma medida séria e efetiva que fosse aplicada pela comunidade internacional para reverter esse ataque à democracia nacional e ao continente latino-americano.

 

Em vez disso, o governo de fato conseguiu ser reconhecido como contraparte, monopolizou a agenda do diálogo, colocando todos os tipos de condições, e fez da participação da OEA uma simples passarela de chanceleres, sem nenhuma capacidade coercitiva.

 

No documento final apresentado pela delegação da OEA se deixou claro que para desenvolver um diálogo real era necessário "o restabelecimento e a permanência de todas as garantias constitucionais, a abertura de todos os meios de comunicação fechados, resolver a situação na Embaixada do Brasil e garantir ao presidente Zelaya condições de vida e de trabalho em consonância com a sua alta dignidade ".

 

A Frente Nacional Contra o Golpe de Estado apoiou estas reivindicações e condicionou o desenvolvimento do diálogo ao fim de qualquer tipo de repressão.

 

O que ocorreu nas últimas 72 horas foi o oposto disso.

 

Vergonhosa intimidação  

 

A derrogação do vergonhoso Decreto Executivo nunca foi publicada no diário oficial La Gaceta e permanecem suspensas as garantias constitucionais. Esta medida permitiu novas  e constantes ameaças, bem como manter a repressão contra o povo em resistência, enfraquecendo significativamente a sua capacidade de mobilização.

 

Em 9 de outubro passado, a Polícia reprimiu brutalmente uma manifestação da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado usando gás lacrimogêneo e jatos de água misturados com produtos químicos altamente irritantes. As pessoas foram perseguidas por mais de uma hora e dispersadas, apesar de sua forte vontade e capacidade para se reagruparem e de voltarem a protestar cada vez que eram reprimidas.

 

Um dia depois, a Polícia ameaçou dispersar um ato pacífico e cultural na colônia Hato de Enmedio, em Tegucigalpa, obrigando as pessoas a não saírem da calçada.

 

Em 10 de outubro, o governo de fato publicou no diário oficial La Gaceta um novo decreto que concede à Comissão Nacional de Telecomunicações (CONATEL) o poder para "retirar ou cancelar autorizações ou licenças dos operadores de meios de meios de radiodifusão e de televisão que emitirem mensagens que gerem apologia ao ódio nacional, que afetem os bens jurídicos protegidos, e que incentivem um regime de anarquia social contra o Estado democrático, chegando a ameaçar a paz social e os direitos humanos. "

 

Esta medida remata o fechamento definitivo da Rádio Globo e do Canal 36 e cria um instrumento jurídico para fechar todos aqueles meios de comunicação locais independentes e afinados com a Resistência.

 

Durante as noites de 9, 10 e 11 de Outubro, a Embaixada do Brasil foi alvo de uma verdadeira estratégia de desgaste psicológico. O presidente de fato Micheletti negou o pedido da OEA a da própria Resistência para desmilitarizar a área e proporcionar um melhor tratamento para as pessoas que estão presas neste lugar.

 

Em vez disso, a presença militar aumentou nas estradas, e com um forte contingente armado a poucos metros do portão principal da Embaixada. Aumentaram as restrições para a entrada de alimentos, roupas e produtos de higiene pessoal e iluminam a embaixada permanentemente iluminada usando dois refletores enormes.

 

Militares fortemente armados puseram um guindaste com uma plataforma onde ali permanecem observando o interior da Embaixada. Na parte de trás puseram uma escada. Além disso, foram vistos caminhões carregados com entulhos e terra saindo de um edifício vizinho contíguo, que poderia significar o início da escavação de um túnel.

 

Fica difícil ou praticamente impossível desenvolver um diálogo nestas condições. É indispensável que a comunidade internacional intervenha imediatamente, para não legitimar algo que a cada dia se parece mais a uma chacota feita ao mundo inteiro e um exemplo perigoso para as democracias latino-americanas.

 

Resistência:

15 de outubro, data fatal

 

A Resistência e o próprio Zelaya estipularam como “data fatal" o dia 15 de outubro para a restituição do presidente. Até agora, o progresso tem sido nulo, uma vez que os pontos do Acordo de San Jose, onde não há consenso entre as partes -criação de um governo de reconciliação nacional, não à anistia para os crimes políticos nem ao adiantamento das eleições e ao papel Forças Armadas durante o processo eleitoral- não tem sentido sem um acordo sobre a restituição de Zelaya e da Assembléia Constituinte.

 

Neste sentido, a Frente Nacional Contra o Golpe de Estado já deixou claro a sua disponibilidade para assinar as atas que se referirem a cada ponto, somente e quando for incluída uma nota que afirme que só terão validez se houver um acordo integral que inclua esses dois pontos acima mencionados.

 

Sob estas condições, é bem provável o fracasso desta pantomima e um endurecimento da crise nacional e da repressão.  

 

Em Tegucigalpa, Giorgio Trucchi

Rel-UITA

14 de outubro de 2009

 

 

 

Fotos 1-9, 11 e 12: Giorgio Trucchi

Foto 10: Telesur

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