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Honduras

40 dias do golpe de Estado

Começou a grande Marcha Nacional de Resistência Popular

Milhares de hondurenhos caminham em direção a San Pedro Sula e Tegucigalpa. Violenta repressão policial contra os estudantes universitários

 

Da mesma forma como das serras fluem os tênues rios e vales, hondurenhos partiram de manhã cedo das suas aldeias e vilas do interior profundo para se concentrar nos diferentes pontos do país. A partir daí começarão longas caminhadas que, na próxima semana, convergirão simultaneamente para duas cidades: San Pedro Sula e a capital Tegucigalpa. São milhares de hondurenhos que se mobilizam resistindo ao golpe de Estado e que voltam a caminhar pacificamente reivindicando a restituição da ordem institucional.

Israel Salinas

Julieta Castellanos rectora UNAH

 

A decisão da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado de organizar uma Marcha Nacional de Resistência Popular, que envolverá todos os departamentos do país, somou-se à medida tomada pelas três centrais sindicais de declarar uma greve indefinida no setor público.

 

“Vamos começar uma mobilização em massa que irá paralisar o país - manifestou-se Israel Salinas, secretário geral da Confederação Unitária dos Trabalhadores de Honduras (CUTH).

 

San Pedro Sula e Tegucigalpa serão ocupadas por cidadãos e cidadãs que já estão a caminho. Temos informação de que em Santa Bárbara, Santa Rosa de Copán e Colón há 10 mil pessoas que chegam pela estrada, e há outros milhares que estão se reconcentrando em diferentes pontos do país para dar início à marcha. Será algo grande”, disse Salinas.

 

Sirel, que está seguindo passo a passo o desenrolar da situação em Honduras, entrou em contato com diferentes coordenadores da marcha em todo o país, para saber diretamente o desenvolvimento daquela que parece ser mais uma façanha deste movimento popular, que não se rende e continua lutando.

 

“Saímos de San Lorenzo, no Departamento de Valle, às 9:30 da manhã. Já passamos Jícaro Galán com umas 5 mil pessoas e pretendemos chegar até Perspire, onde outro contingente se unirá a nós –disse Sandra María Reyes, membro do Bloco Popular da região sul de Honduras.

 

O povo está animado e pretendemos chegar a Tegucigalpa na próxima terça-feira, dia 11 de agosto. Em Jícaro Galán havia 200 policiais nos esperando, mas até agora não tivemos problemas porque lhes explicamos que estamos em uma marcha pacífica e que íamos ocupar só uma faixa da estrada para não atrapalhar completamente o trânsito”. 

Sandra Reyes explicou que houve bastante aceitação por parte das pessoas. “Cumprimentavam-nos e mostravam estar de acordo com o que estamos fazendo. Estamos reivindicando a restituição da democracia ao país e a volta do presidente eleito Manuel Zelaya Rosales”, concluiu.

O centro do país a caminho

 

“Estamos em Comayagua, onde estão concentradas todas as pessoas que vêm dos departamentos de Comayagua e Intibucáno, no centro do país - explicou Victor Petit, do Bloco Popular.

 

Amanhã continuaremos a marcha até Tegucigalpa. Fomos avisados de que virão aproximadamente 3 mil pessoas e, possivelmente, vamos arrancar com um total de 5 ou 6 mil pessoas, mais as que irão se somando no caminho. Nosso objetivo –continuou Petit– é poder chegar à capital com um total de 10 mil pessoas. Estamos nos organizando para a compra de alimentos, recebendo ajuda, enquanto que a comissão de logística já está trabalhando para nos garantir a segurança nos lugares onde vamos acampar.

 

As pessoas chegam com muito ânimo, com valor, e não irão nos amedrontar. Esperamos estar em Tegucigalpa no próximo domingo 9 de agosto”, concluiu.

 

A outra meta da grande Marcha Nacional de Resistência Popular é a cidade de San Pedro Sula.

 

Idalmi Cárcamo, membro da Secretaria de Educação da CUTH, explicou ao Sirel que as pessoas que vêm do departamento de Colón se uniram às que vêm de La Ceiba e juntos caminharam até a cidade de Tela.

 

“É uma grande quantidade de pessoas. Esta noite ficarão na comunidade de Santiago e amanhã sairão cedo para chegar a El Progreso, no departamento de Yoro. A chegada a San Pedro Sula está prevista, no mais tardar, para até a próxima segunda-feira dia 10.

 

Os encarregados da logística já prepararam todas as condições para que as pessoas tenham o que comer e onde dormir, e também viram a questão da segurança, ainda que até o momento não tenhamos tido problemas com a Policia e nem com o Exército”, disse Cárcamo.

 

A diretriz da CUTH informou que hoje, quinta-feira dia 6, irão para a marcha as pessoas que vêm de Santa Cruz de Yojoa, reunindo-se com as que saíram hoje de Santa Bárbara e Copán.

 

“É uma demonstração de repúdio ao golpe de Estado, visando pressionar o governo golpista para que pare de reprimir o povo e abandone o poder”, concluiu Idalmi Cárcamo.

 

Repressão contra os estudantes

 

Enquanto que, diante das instalações da Corte Suprema de Justiça, uma das instituições mais questionadas pela sua participação no golpe de Estado, milhares de pessoas solicitavam aos magistrados que retificassem o que qualificam como uma atitude vergonhosa e golpista, e gritavam palavras de ordem contra os militares que protegiam o lugar, nos contornos da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH), o Comando Especial COBRA (COECO) reprimia com extrema violência docentes e estudantes.

 

Centenas de estudantes, organizados na Frente Universitária de Resistência contra o Golpe, caminhavam pela avenida próxima à UNAH quando, de surpresa, as tropas especiais da Polícia começaram a lançar gás lacrimogêneo e a disparar na direção dos jovens.

 

É um ato totalmente ilegal. Agentes do COECO perseguiram os estudantes até o interior da UNAH, violando desta forma a autonomia universitária. Diante desta violência brutal, mais estudantes se uniram ao confronto e a pedradas conseguiram retirar a Polícia da universidade, que foi perseguida por vários quarteirões.

 

Como já havia ocorrido dias atrás, a violência policial foi indiscriminada.

 

“Estávamos nos comunicando com o comissário Somoza, pedindo que retirasse a Polícia dos prédios e das ruas vizinhas à casa de estudos porque gerava mais violência. Não podemos deixar os estudantes indefesos e sozinhos diante dos abusos das autoridades, e é por isso que saímos com os membros da Junta de Direção universitária para dialogar - explicou à Radio Globo a reitora desta universidade, Julieta Castellanos.

 

Enquanto eu falava, me empurraram com violência e caí ao chão, junto com outro professor. Isto eu não vou permitir e vamos processar a Polícia por esse ato violento e de falta de respeito à universidade. Não podemos permitir que entrem na universidade para perseguir os estudantes”, disse a reitora.

 

A batalha campal durou várias horas com um saldo de vários estudantes feridos.

  

 

 

Em Tegucigalpa, Giorgio Trucchi

Rel-UITA

6 de agosto de 2009

 

 

 

Fotos 1-7 y pie: Giorgio Trucchi

Foto 8 y 11: chiapas.indymedia

Foto 9: hondurasresistencia_blogspot

Foto 10: hondudiario

 

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