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ACENAR COM O BRAÇO PARA O POVO PROVOCA DOR NOS OMBROS DO PRESIDENTE LULA.

 SERÁ QUE ISTO É UMA LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO (LER)?

 

O Jornal Folha de São de Paulo de 5 de janeiro de 03, na sua página C4 traz uma matéria intitulada: Presidente pode ter se excedido nos cumprimentos. O artigo traz a seguinte argumentação: "...alguém que passe 20 minutos por dia acenando e abraçando pessoas ao longo de cinco meses terá permanecido 50 horas ou 3.000 minutos com os braços levantados". Seguindo seu raciocínio, o repórter procurou um médico ortopedista, que falou o seguinte a respeito da dor no ombro do presidente: "...acenar para as pessoas, provavelmente agravou a Síndrome de impacto do presidente Lula...".

O restante do artigo jornalístico, traz informações a respeito do tratamento possível para a lesão do ombro do presidente Lula, que vai desde oferecimento de alguns medicamentos analgésicos e anti-inflamtórios, até a realização de um procedimento cirúrgico chamado videoartroscopia.

Lendo esta matéria, comecei a refletir sobre a dor que o presidente sente e como os meios de comunicação tratam a questão.

Vejamos, se formos nos aprofundar um pouco mais na quantidade de movimentos desenvolvidos pelo presidente, note que o artigo fala que movimentar repetitivamente os braços por 20 minutos ao dia durante 5 meses seguidos, pode ser o motivo de agravamento de uma lesão, levando assim ao terrível quadro doloroso que o presidente Lula sente em seu ombro direito. Entretanto, quando vamos a mesa de negociação com os empresários para discutir melhorias nos ambientes de trabalho, para que estes sejam mais saudáveis, frequentemente ouvimos afirmações de que os locais onde laboram os operários não são insalubres, bem como, o número de movimentos repetitivos não seria suficiente para causar danos aos ombros, cotovelos e punhos dos trabalhadores.

Para efeito de análise, podemos estudar através do artigo publicado na Folha de São Paulo, a quantidade de movimentos realizadas pelo presidente durante estes 5 meses de campanha eleitoral, comparativamente com o trabalho anual que os operários fazem. É simples, vejamos: imagine que entre cada aceno ou aperto de mãos, o presidente faça 2 movimentos nos ombros, sendo que em cada minuto, repetiria isto cerca de 30 vezes. Chegaríamos então ao total de 180.000 movimentos realizados em 5 meses. Agora, vamos comparar com um trabalhador, que também faz 2 movimentos repetidos por ciclo, realizando 30 ciclos por minuto, durante suas 8 horas de jornada de trabalho ao dia- isto sem contar horas extras, que são muito frequentes nas empresas -, em 22 dias de trabalho ao mês, por 12 meses trabalhado. Sabe qual o trabalho realizado pelo ombro deste trabalhador: 7.603.200 movimentos durante um ano.

Parece que nossos trabalhadores fazem um número de movimentos repetitivos muitas vezes maior do que nosso presidente, entretanto, como os trabalhadores não gozam da simpatia dos meios de comunicação, é claro que para o Presidente Lula, os 180.000 movimentos em 5 meses podem ter agravado sua doença de ombro, entretanto, os 7.603.200 movimentos realizados por um trabalhador comum durante o ano, não tem sido relacionado a dor que estes trabalhadores sentem em seu ombro.

Ficam estes dados para nossa reflexão.

 

Autor:

Dr. Roberto Ruiz

Diretor do Dêpartamento de Saúde da Rel-UITA

4 de fevereiro 2003

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