Brasil

Com Siderlei de Oliveira

5º Congresso Nacional da CONTAC

“Melhor? Impossível!”

 

 

 

 

Entre os dias 11 e 13 de dezembro em Atibaia, a menos de 100 km da cidade de São Paulo, ocorreu a maior atividade dos trabalhadores e trabalhadoras cutistas da alimentação. A participação de 130 representantes de 65 sindicatos, além de uma forte delegação internacional, constituiu o “marco diferente” para um “Congresso diferente”, cuja característica principal foi o entusiasmo pelas conquistas obtidas pela CONTAC (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentos e Assalariados Rurais) nos últimos anos. O presidente, Siderlei de Oliveira, analisou em diálogo com Sirel os momentos mais importantes do Congresso

 

-Como você avalia esse 5º Congresso da CONTAC?

-Este Congresso foi diferente, entre outras coisas porque a problemática própria do nosso ramo foi analisada e discutida com muita força. Houve um salto de qualidade na proposta metodológica e nos temas abordados. Por isso, não foi por casualidade que o Congresso tenha terminado em um clima de satisfação e euforia.

 

-Quais foram esses temas?

-Nos últimos anos assumimos, como um de nossos objetivos, que iríamos contribuir na busca de soluções para as deploráveis condições de trabalho em nossa indústria, principalmente no setor avícola que, no Brasil, experimentou um crescimento exponencial. Podemos dizer que a maioria dos filiados à nossa Confederação trabalham nos frigoríficos avícolas. Tanto é assim que, diferentemente deste, em congressos passados os “temas foco” giraram em torno do setor de bebidas, ao cerealista, e inclusive foram realizados congressos nos quais o eixo temático era o trabalho nos frigoríficos bovinos. Porém, neste último Congresso, predominou a situação desumana que padecem milhares de trabalhadoras e trabalhadores avícolas. São “Vítimas de uma violência sistemática, perversa e cínica, cujo resultado é que as companheiras e os companheiros adoecem ou sofrem lesões para o resto da vida”, como bem assinalou Elio Neves,  presidente da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (FERAESP) e integrante da direção da CONTAC.

Outra das discussões ficou centrada nas políticas públicas. Os trabalhadores da alimentação não têm por hábito conhecer as políticas públicas e utilizá-las em benefício próprio, coisa que o empresariado costuma fazer muito bem. No 5º Congresso se esmiuçou a proposta do governo Lula, uma proposta que vem ao encontro de um dos sonhos de nossos filiados: a moradia.

Podemos garantir que nós, trabalhadores e trabalhadoras, temos dois sonhos: ter um emprego digno e um lugar onde morar. Neste Congresso constituímos a Cooperativa Central Nacional da Habitação da CONTAC, com base em algumas experiências com êxito de nossos sindicatos afiliados. Esse foi um momento de grande euforia entre nossos delegados.

A conferência sobre nanotecnologia que a Rel-UITA nos proporcionou por seu intermédio, foi um ponto de destaque em nossa principal atividade. A CONTAC tem sido pioneira no tratamento de muitos temas: as lesões por esforço repetitivo (LER), os transgênicos e a organização sindical em toda a cadeia agroalimentar, que identificamos com a bandeira “Da terra ao prato”. A questão da nanotecnologia, que Enildo (Iglesias) trouxe, com grande acerto, à 13ª Conferência Regional Latino-Americana da UITA, já faz parte dos desafios da CONTAC.

 

-O Congresso começou de maneira muito positiva com uma reunião entre a CONTAC e a transnacional Cargill.

-Não sou muito crente, eu me defino melhor como ateu. No entanto, acredito que existe alguma coisa acima de nós. Quando algo está marcado para ser um êxito, dá pra se notar desde o início. Antes da instalação do Congresso, na noite do dia 11, realizamos essa reunião.

Estamos em uma luta cerrada já faz três anos com a Cargill, inclusive com um forte apoio internacional da Rel-UITA. Nos últimos meses trabalhamos enormemente dando atenção aos problemas que surgem com esta transnacional. Nos dias que antecederam ao nosso Congresso, a Cargill solicitou essa reunião. Assim começamos e é claro que isso não foi casual, foi motivado pelo desdobramento e pelo acerto de nossas denúncias e mobilizações.

 

-A presença de organizações irmãs nacionais e internacionais deu mais autoridade à atividade.

-Sem dúvida. O Congresso contou com a presença de uma importante delegação da Central Única de Trabalhadores (CUT), encabeçada pelo seu presidente, Artur Enrique da Silva Santos, dos companheiros da Confederação Revolucionária Operária e Camponesa do México (CROC), e da República Dominicana, representando a Federação de Trabalhadores da Alimentação (FENTIAHBETA). Nisto também tivemos muita sorte, porque devido a alguns desacertos na comunicação, alguns deles dormiram no aeroporto e outros andaram perdidos em São Paulo, mas nós os encontramos a tempo. Sem dúvida alguma, uma boa estrela estava conosco (risos).

O certo é que trabalhamos muito em nosso mandato. A CONTAC nunca contou com tanto desdobramento, várias ações e greves como no período passado. As pessoas sabem e reconhecem isso. Quando se chega ao Congresso com toda essa carga positiva, com tantas conquistas, a atividade se contagia com uma carga emocional muito especial.

Por último, estou muito satisfeito porque estamos construindo uma excelente equipe de trabalho. Lamentavelmente, há uma parte da direção da CONTAC que não está inserida na dinâmica que pretendemos dar à organização, mas estamos avançando. A maioria que temos é suficiente para aprofundar o trabalho da Confederação e fortalecer a luta. Isto é importante porque essa equipe terá que assumir o trabalho da CONTAC, pois de minha parte já é hora de ir criando as condições para me retirar e porque, na 13ª Conferência Latino-Americana da UITA, fui eleito presidente da Federação Latino-Americana de Trabalhadores da AmBev e no Congresso passado de nossa central fui designado coordenador do Instituto Nacional de Saúde dos Trabalhadores da CUT, onde há muito por se fazer.

 

-Um elemento a destacar foi a participação da mulher.

-Nunca contamos com tantas delegadas e tantas companheiras na direção. O importante é que as companheiras fizeram ouvir suas reclamações, fizeram sentir sua visão sobre vários aspectos e debates do Congresso. O momento mais polêmico, o das teses, foi presidido por Luciane Ferreira, dirigente da Federação de Assalariados Rurais de São Paulo.

Acredito que as companheiras estão tomando conta da CONTAC, onde mais de 30% da direção está integrada por mulheres, o que me parece fantástico.

 

-O Congresso contou pela primeira vez com a presença de delegadas e delegados da Confederação Nacional de Trabalhadores da Indústria da Alimentação e Afins (CNTA)…

-Bom, a unidade na diversidade (risos). Acredito que este foi um Congresso mais da UITA do que da própria CONTAC. Se recordarmos a composição da mesa na instalação, estavam as afiliadas das duas centrais presentes (CUT e Força Sindi-cal), e o secretário regional da UITA.

Isto demonstra a forte presença da UITA entre suas afiliadas neste país e nossa disposição de contribuir para um trabalho unitário.

Veja, na Conferência passada da Rel-UITA, foi demonstrado que as organizações filiadas do Brasil reconhecem e respeitam a construção unitária que nossa Internacional realiza. Claro que temos divergências, que divergimos em muitos pontos, mas em todos estes anos aprendemos que de arestas coincidentes podemos criar pontes para a reflexão e a ação.

A Comissão Nacional de Trabalhadores da Parmalat e a Comissão Nacional de Trabalhadores da AmBev vêm traçando um caminho para o encontro de um trabalho conjunto; por aí vamos transitar com o apoio de sempre da UITA.

Outra coisa, a direção da Federação Nacional de Trabalhadores das Bebidas, de nosso meio, que tem uma direção política partidária diferente da nossa e que faz alguns anos se distanciou da CONTAC, avaliou que isso foi um grande erro, pois agora vêem que estamos na construção de federações latino-americanas como a da AmBev e a da Coca-Cola.

 

Por tudo isto digo que o 5º Congresso foi diferente e um êxito total. Melhor? Impossível!

Em São Paulo, Gerardo Iglesias

© Rel-UITA

20 de Dezembro de 2006

 

 

 

 

Volver a Portada

  

  UITA - Secretaría Regional Latinoamericana - Montevideo - Uruguay

Wilson Ferreira Aldunate 1229 / 201 - Tel. (598 2) 900 7473 -  902 1048 -  Fax 903 0905