Diminuir o ritmo de trabalho,
reduzir a jornada |
Encontro Internacional dos Trabalhadores
nas
Indústrias do Frango articula ações
Maior exportador de carne de frango e 2º
produtor avícola, o Brasil é
também o campeão mundial em acidentes do
trabalho. Responsável por 2% do PIB
e US$ 3,5 bilhões da balança comercial,
o vertiginoso crescimento do setor cobra
seu preço na conta do trabalhador, que
tem pago com sua saúde. O ritmo intenso
de trabalho, a longa jornada e as
intermináveis horas extras se traduzem
em lesões por esforço repetitivo,
mutilações e até mortes, como a de
João Antonio Pedro, moído dentro de
uma das máquinas da
Seara/Cargill.
"Para enfrentar esta realidade e
articular ações em defesa da saúde e
segurança dos trabalhadores em um
ambiente saudável, a Confederação
Nacional dos Trabalhadores nas
Indústrias da Alimentação (CONTAC/CUT)
está realizando nesta terça e quarta (17
e 18), no Hotel Estância Atibainha, em
Atibaia, o Encontro Internacional dos
Trabalhadores nas Indústrias de Frango.
O presidente da CONTAC,
Siderlei de Oliveira, também
coordenador do Instituto Nacional de
Saúde do Trabalho (INST), explica
que um dos pontos centrais do evento,
que conta com a participação da União
Internacional dos Trabalhadores nas
Indústrias da Alimentação (UITA),
e de representações do Uruguai e
dos Estados Unidos é o debate
sobre medidas que modifiquem o ambiente
de trabalho, e encontrem soluções para
algo que começa a se transformar em
flagelo. "Temos dito e reafirmado que o
produzir barato está cada vez mais caro
para os trabalhadores do setor, pois o
ritmo excessivo, ditado pela lógica do
exportar a qualquer preço tem
multiplicado as doenças profissionais.
Por isso a luta pela redução da jornada
de trabalho para 36 horas semanais e o
fim do banco de horas, adotado por
algumas empresas, é fundamental",
acrescentou.
Avançar
Em nome da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), a secretária
nacional de Comunicação e liderança da
agricultura familiar, Rosane Bertotti
fez uma avaliação do que representa a
luta pela segurança alimentar nos dias
de hoje e de como o tema dialoga com a
necessidade do avanço organizativo e de
integração entre os trabalhadores rurais
e da alimentação. Se para cada quilo de
frango necessitamos de oito quilos de
ração, isso quer dizer que os desafios
estão colocados para toda a cadeia
produtiva, avalia. Rosane
enfatizou que a luta da CUT e das
centrais sindicais pela redução da
jornada de trabalho sem redução de
salário deve ser cada vez mais uma
bandeira de todas as categorias mas que,
no caso do Ramo, ganha importância ainda
maior, e comprometeu-se a somar esforços
no sentido de divulgar o mais amplamente
possível as decisões do evento.
Conforme Gerardo Iglesias,
secretário da UITA para a
América Latina e Caribe,
quando as enfermidades relacionadas ao
trabalho atingem um percentual de
epidemia, como na indústria avícola
brasileira, é sinal de que são
necessárias ações emergenciais. "O ritmo
intenso, os ciclos curtos de trabalho, o
excesso de trabalho e horas extras,
banco de horas, postura inadequada,
pressão das chefias, stress, tudo isso
contribui para agravar o quadro desse
esforço repetitivo, monótono e
permanente", denunciou. Segundo o
dirigente uruguaio, é preciso aproveitar
este momento onde se discute a questão
da soberania alimentar para promover um
amplo debate nacional, propondo mesas
tripartites de negociação, onde o
governo tem de fazer a sua parte no
combate a um problema de saúde pública.
"O fato é que temos um setor onde 25%
dos trabalhadores estão lesionados, que
está gerando muito saldo na balança
comercial, mas comprometendo as
condições de vida e trabalho de dezenas
de milhares de pessoas", acrescentou.
A nível internacional, Gerardo
lembrou que além de ser necessário o
encontro aprovar ações para os locais de
trabalho, é preciso articular e integrar
mobilizações sobre os governos e
empresas, envolvendo o maior número de
parceiros para dar respaldo ao movimento
de sensibilização e denúncia. "Lembro o
caso de Sidrolândia, no interior do Mato
Grosso do Sul, onde a morte de um
companheiro na
Seara/Cargill
passaria desapercebida se não fizéssemos
a denúncia. Se é algo que as companhias
transnacionais, como esta
norte-americana, não gostam é quando
demonstramos a contradição entre o seu
discurso sobre responsabilidade social e
a prática", declarou o secretário da
UITA.
Além dos dirigentes mencionados,
compuseram a mesa de abertura Geni
Dalla Rosa; Mara Lia,
secretária de Formação da CONTAC
e Anita Grabrouski, representante
do Sindicato da Alimentação dos
Estados Unidos.
Conforme a CONTAC, o setor
emprega cerca de meio milhão de
trabalhadores, sendo que apenas as
quatro principais indústrias avícolas de
exportação empregam mais de 200 mil
trabalhadores em nosso país: Perdigão,
com 56 mil; 52 mil;
Seara/Cargill,
23 mil e a francesa
Doux/Frangosul
(9 mil). Nos últimos três anos, o setor
teve um aumento de 30 mil novos postos
de trabalho, apresentando um alto
percentual de associados aos sindicatos:
70%.