Paraguai

A Delta & Pine e a justiça paraguaia

Cúmplices na imoralidade

Enquanto a Delta & Pine Land Company, empresa comercial líder em genética, produção e comercialização de sementes de algodão, anunciou, na segunda 22, que adquiriu o negócio mundial de sementes de algodão de Syngenta, composto por operações e ativos na Índia, Brasil, Europa e germoplasma de algodão nos Estados Unidos, centenas de moradores de uma comunidade paraguaia continuam sofrendo as conseqüências dessa ação irresponsável e impune.

 

Em fins de 1998, a filial paraguaia da Delta & Pine despejou 660 toneladas de sementes de algodão vencidas em um terreno de um hectare e meio, a 100 metros de uma escola pública e em meio de uma comunidade agrícola, utilizando para isso, inclusive, mão de obra local, mulheres e jovens, sem nenhuma proteção.

 

No total, os dejetos continham mais de 4 toneladas de agrotóxicos e uma bactéria modificada em laboratório. As conseqüências foram fulminantes e toda a população e a água subterrânea ficaram contaminadas.

 

Eric Lorenz, norte-americano e representante da empresa no Paraguai, fugiu com sua família para os Estados Unidos, onde continua trabalhando em uma empresa que vende serviços agrícolas. Foi considerado réu revel pela justiça paraguaia, mas nunca foi pedida a sua captura e conseqüente extradição.

 

Os moradores organizados junto à UITA iniciaram, a partir de 1998, uma duríssima batalha legal, no contexto da maior indiferença dos sucessivos governos paraguaios que nunca lhes prestaram a devida assistência médica, violando os direitos humanos mais elementares.

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26-07-2004

 

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Por Carlos Amorín y Gerardo Iglesias

 

Finalmente, há um ano e meio, e depois de numerosas trocas de promotores e juízes, duas pessoas paraguaias vinculadas a Delta & Pine foram condenadas a penas de prisão por delito ecológico, pena que podia ser trocada por multas. O dinheiro –aproximadamente 30 mil dólares– integraria um fundo que a comunidade devia decidir como usar.

 

Os condenados nunca foram para a cadeia, e nem pagaram as multas. De fato, a justiça nunca as exigiu efetivamente. Ana Maria Segovia, porta-voz da afetada comunidade de Rincon’í , explicou à Rel-UITA que, segundo a informação fornecida pelo promotor ambiental Merlo, que acompanhou o caso durante seis anos, a execução da pena está em mãos das promotoras Beckerman e Marchuc.

 

Instada por Segovia, a promotora Beckerman admitiu que o caso está em suas mãos faz um ano e meio, mas que não tinha podido notificar os condenados de sua obrigação de pagar a multa porque, em seu escritório, “faltam recursos para enviar a comunicação”.

 

Dentro de três meses terá expirado o prazo estabelecido pela justiça para o cumprimento da sentença, após o qual nada poderá ser reclamado.

 

A Delta & Pine nunca se encarregou das indenizações que centenas de afetados deveriam receber como forma de compensação parcial por suas vidas definitivamente destruídas. Esta é a ética e a responsabilidade social da corporação que detém em suas mãos quase a totalidade do mercado mundial de sementes de algodão.

 

 

Carlos Amorín

© Rel-UITA

31 de maio de 2006

Carlos Amorín

 

 

 

  

 

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