Brasil

 

Fome e sede no paraíso prometido

Agricultores tentam invadir escritório
da Fazenda Santa Clara no Piauí

 

Judson Barros explica aos policiais que não poderia ser preso sem que houvesse um mandado da justiça

 

Cerca de 300 trabalhadores da Fazenda Santa Clara, no município de Canto do Buriti, a 400 quilômetros ao Sul de Teresina, tentaram invadir, na manhã do último Sábado (10) a sede da Brasil Ecodíesel, responsável por um projeto de plantio de mamona voltado para a produção de biodíesel.

 

Eles queriam ser recebidos pelos diretores da empresa, para tratarem de assuntos pendentes, como a renovação de contrato de parceria, já vencido, acerto de pagamentos e a regularização no abastecimento d’água e na distribuição de cestas básicas.

 

Segundo informou o ambientalista Judson Barros, presidente da Fundação Águas – FUNÁGUAS, que se encontrava visitando o projeto, a situação esteve tensa, porque o Governo do Estado, que tem intermediado a liberação de elevados recursos para a Brasil Ecodíesel e feito propaganda massiva sobre a produção de mamona, não mandou nenhum mediador para acompanhar a situação, mas sim a polícia.

 

Famílias dependem de carro-pipa para beber

Durante entrevista ao Bom Dia Piauí da TV Rádio Clube, na manhã do 16 de agosto, Judson Barros afirmou que a produção do biodíesel, a partir da mamona, já fez água no Piauí. A fábrica da Brasil Ecodíesel, instalada em Floriano, já estaria utilizando outros tipos de grãos, e assim mesmo a produção estaria em menos de dez por cento do que foi previsto.

 

GOVERNADOR NA ÁREA

 

Judson Barros disse que sentiu muita revolta nos trabalhadores com o tratamento que vêm recebendo da Brasil Ecodíesel e o desprezo por parte do governador Wellington Dias, que se encontrava na região, na sexta-feira (09), inaugurando uma ponte em Manoel Emídio, mas não se dignou de conversar com os trabalhadores, mesmo tendo utilizado a pista de pouso da Fazenda Santa Clara.

 

Sobre a ameaça de invasão, Judson informou que o entendimento dos agricultores é de que da mesma maneira que os produtores agrícolas interditaram rodovias e o MLST invadiu o Congresso, eles também têm o direito de invadir a Brasil Ecodíesel. “Achei perigosa uma invasão, e fiz com que eles desistissem da idéia, pelo menos por enquanto, mas não fui compreendido, pois recebi ameaça de prisão” – disse Judson Barros.

 

Agricultor mostra o prato de comida e o balde sem água

Judson já esteve na Fazenda Santa Clara, em outras ocasiões, documentando a devastação de uma área de 100 mil hectares, doada pelo governo do Estado para o plantio de mamona, mas que estaria sendo devastada para o fabrico de carvão. Ele constatou que o processo erosivo na área já está avançado e contesta as informações do Governo sobre as vantagens do plantio de mamona, pois a atual safra foi inferior à metade do previsto, o que aumentou o endividamento dos agricultores, que por isso estão passando fome.

 

Para Judson Barros, o que existe na Fazenda Santa Clara é trabalho escravo. “Até a água é distribuída em carros-pipa, como em qualquer região do semi-árido, onde não existe trabalho e nem a presença de empresa privada ou órgão governamental” - frisou. Ainda de acordo com Judson Barros, os trabalhadores da Fazenda Santa Clara afirmam que a Brasil Ecodíesel já teria vendido 40 por cento de suas ações a uma empresa estrangeira, sem que eles tivessem sido avisados. Por isso mesmo, eles querem saber como ficará a situação de cada um.

 

Raimundo Cazé

www.opennoticias.com.br

22 de agosto de 2007

 

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