Brasil – Rio Grande do Sul (RS)

II Marcha Estadual da Juventude Rural

É desde pequeno que se aprende
a gostar da agricultura!

 

CARTA DA COMISSÃO ESTADUAL DE JOVENS
TRABALHADORES E TRABALHADORAS
RURAIS – FETAG-RS

 

No RS, a agricultura familiar responde por grande parte da produção de alimentos para o consumo interno e também por volumosos excedentes para a exportação. A agricultura familiar é uma forma social de produzir, trabalhar e de organizar. 

 

A agricultura e a pecuária familiar são sistemas produtivos, com características muito peculiares, pelo qual a mão-de-obra utilizada se dá entre pessoas ligadas por laços de parentesco/consangüinidade (familiar) e sua produção se destina a produzir para garantir a auto-suficiência alimentar (auto-consumo) e para gerar excedentes destinados ao mercado.

 

Além disso, inclui o aprendizado das atividades produtivas nas práticas e nas ocupações diárias de todos os integrantes das famílias. Esse aprendizado e a conseqüente opção e afirmação do jovem pela agricultura se dá, em grande medida, graças à convivência e pela interação ocupacional desde a mais tenra idade. 

 

A FETAG através da CEJTTR - Comissão Estadual de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, juntamente com as Regionais Sindicais e os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, esteve percorrendo o Estado durante os últimos 40 dias com o objetivo de organizar os Encontros Regionais em preparação da II Marcha Estadual da Juventude Rural. Durante os mais de 23 encontros regionais estivemos debatendo com os jovens rurais, suas famílias, lideranças sindicais, lideranças da comunidade sobre o processo sucessório da agricultura familiar.

 

Nesse sentido devemos considerar esse debate como uma etapa importante e vital para sobrevivência da agricultura familiar, necessitando para isso, que sejam tomadas medidas preventivas para que esta delicada etapa da vida das pessoas envolvidas na propriedade rural tenha o êxito desejado, ou seja, que a profissão “de agricultor” seja passada para a geração seguinte com sucesso.

 

Na pesquisa realizada no Vale do Taquari em 2005, em parceria entre a UNIVATES, a FETAG – Federação dos Trabalhadores na Agricultura e o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, onde foram entrevistados 784 filhos de agricultores, identificamos alguns dados muito interessantes no que diz respeito ao processo sucessório.

 

A pesquisa mostra que a questão da sucessão não tem sido tratada adequadamente dentro das famílias, uma vez que 46% dos jovens entrevistados não tem uma definição de como a sucessão acontecerá. Outras importantes constatações foram analisadas, entre elas, que 37% dos atuais proprietários dizem que provavelmente ninguém dos filhos ficará na propriedade dando continuidade às atividades da família.

 

A pesquisa traz também alguns dados sobre os principais motivos da saída dos filhos das propriedades:

 

-  51,6% em função de trabalho

-  34% em função de casamento

-  11,4% em função de estudos

 

A opção pela profissão de agricultor familiar não ocorre após os 16 ou 18 anos (período em que legalmente alguém pode trabalhar), mas vai sendo construída, definida e consolidada ao longo do tempo de convivência e de aprendizado com a família. Sem essa convivência familiar não se garante a sucessão na agricultura familiar. Sem família não há agricultura familiar. E sem a agricultura familiar, o tecido sócio-econômico e cultural do meio rural rio-grandense desaparece. E com isso acabaria um enorme legado de cultura, de saberes, de tecnologias construídas ao longo de vários séculos.

 

Preservar esse enorme conjunto de valores é uma questão vital para a CEJTTR - Comissão Estadual de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da FETAG, que no dia 15 de julho organiza a II Marcha Estadual da Juventude Rural.

 

Nesse sentido, estamos apresentando algumas reivindicações da juventude trabalhadora rural e do movimento sindical.

 

Pauta da II Marcha Estadual da Juventude Rural

Geração de renda

 

Necessitamos criar mecanismos voltados na organização da produção, na agroindustrialização e comercialização, na criação de novos nichos de mercados e/ou implantação de novas matrizes produtivas locais e regionais como forma de agregar valor a nossa produção. Desta forma reivindicamos:

 

-    Alteração e readequação do Projeto de Lei do Primeiro Crédito para juventude rural e garantia na liberação do recurso;

 

-   Subsídio por parte do Estado aos agricultores familiares de baixa renda para construção e reformas de casas, bem como pela garantia do financiamento da contrapartida pelo Banrisul;

 

-    Retirada da instrução da Secretaria da Fazenda do Estado, que restringe a emissão de um único bloco de produtor por propriedade;

 

-    Revisão das alíquotas de ICMS sobre energia elétrica no meio rural, sobre o trigo in natura, bem como implementos agrícolas, fertilizantes, rações e medicamentos;

 

-    Adesão e implementação por parte do Estado, ao Sistema Unificado de Atenção a Sanidade Agropecuária (SUASA);

 

-    Aumento do Orçamento para a Secretaria da Agricultura com objetivo de fortalecer os órgãos responsáveis pela inspeção e vigilância sanitária e sanidade animal no Estado.

 

Formação Profissional

 

Necessitamos de mais investimento na área de formação principalmente para qualificação e gerenciamento da propriedade e nas áreas profissionalizantes como produção de alimentos, agroindústrias e outros, como forma de oportunizar alternativas de geração de renda.

 

Nesse sentido lutamos por alterações nas regras do PRONAF Jovem, quanto ao enquadramento 50% (25 horas) capacitação antes da contratação e 50% (25 horas) após a contratação na área específica do financiamento.

Também lutamos pela ampliação do Consórcio Social da Juventude Rural.

 

Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER

 

Enquanto forma de geração de renda se faz necessário uma assistência técnica presente, qualificada e que interaja com o conhecimento dos agricultores, preservando a realidade local e regional.

Queremos uma urgente reestruturação da ATER no Estado com limite de 100 famílias para cada técnico e exigimos imediata efetivação do Concurso público da EMATER.

 

Educação Rural

 

Temos a necessidade de um novo modelo de educação, de uma nova pedagogia, capaz de valorizar a realidade e a auto-estima do nosso jovem. Com isso podemos manter o contato com a propriedade e desenvolvendo, com ele, um projeto de vida digna no meio rural. Nesse sentido lutamos:

 

-    Certificação das Casas Familiares Rurais pelo Conselho Estadual de Educação;

 

-   Maior incentivo aos municípios que investem nas escolas do meio com aumento no repasse de recursos para cada aluno matriculado em escolas rurais;

 

-    Reestruturação e maior aporte de recursos para a UERGS – Universidade Estadual do Rio Grande do Sul;

 

-   Incluir disciplinas sobre agricultura familiar nos currículos das Escolas de Ensino Fundamental e Médio.

 

Meio Ambiente

 

A preservação ambiental e a correta utilização dos recursos naturais devem estar associadas à produção sustentável de alimentos pelos agricultores familiares.

 

Nesse sentido lutamos por alterações e adequações na legislação ambiental conforme às realidades regionais e exigimos a criação do Fundo Estadual de Compensação Ambiental para os agricultores(as) familiares;

 

 
 
 

FETAG - RS

Federação dos Trabalhadores na Agricultura

17 de julho de 2008

 

 

 

Fotos: FETAG 

 

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